Leigos e leigas, coragem para serem anunciadores da Palavra de Deus
Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves – Professor e Teólogo
A realidade de uma “Igreja em saída”, um termo utilizado pelo Papa Francisco na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, parágrafo 24, se traduz, de forma completa como uma Igreja missionária, capaz de sair de si mesma para chegar a todos. Assim só se torna possível uma “Igreja em saída” por meio da atuação autêntica e missionária do laicato. Para tanto, o protagonismo do leigo, só se faz coerente quando este compreende seu espaço e não fica procurando lugares alheios ou se clericalizando. Diante desta realidade, esse é o grande problema, um clericalismo laical se esquecendo da sua missão e da sua real condição na sociedade.
O protagonismo do leigo só pode ocorrer se este souber, de fato, onde é o seu lugar, onde deve estar e como deve agir, senão, será mais um que preenche os bancos das igrejas e não agrega valor às formações. Para tanto, é preciso resgatar o aspecto de ser um verdadeiro Discípulo Missionário, como nos apresentava o Documento de Aparecida: “O discípulo missionário, a quem Deus confiou a criação, deve contemplá-la, cuidar dela e utilizá-la, respeitando sempre a ordem dada pelo Criador”. (DAp, n. 125). Sendo assim, auscultando os sinais dos tempos e o sopor do espirito, Francisco dá passos para a abertura e se faz atento para a realidade de uma Igreja em saída.
Cristo, modelo de ser humano e autêntico em suas ações buscava fazer da sua vida um verdadeiro encontro com os que mais precisavam. Cristo, modelo de ser humano e autêntico em suas ações buscava fazer da sua vida um verdadeiro encontro com os que mais precisavam.
Desta maneira e para viver o mistério do Cristo, a nossa condição deve ser autêntica pela fé e caminho que professa: é preciso participar, e se fazer parte, da vida da comunidade de fé, ou seja, ser protagonista. É necessário que o cristão compreenda esta condição e se torne uma chama viva, “sal da terra e luz do mundo”(cf. Mt 5,13) em sua família cristã e comunidade paroquial. Para tanto, o Documento de Aparecida nos convoca a refletir sobre isso: “Sem uma participação ativa na celebração eucarística dominical e nas festas de preceito, não existirá um discípulo missionário maduro”. (DAp, n. 252).
Papa Francisco no próximo dia domingo, 23 de janeiro de 2022, celebrará, na Basílica de São Pedro, o terceiro Domingo da Palavra de Deus. Nesta celebração, pela primeira vez, será confiado o ministério do Leitorado e do Acolitado também a leigos e leigas.Para muitos esse acontecimento passará despercebido, mas a complexidade deste ato, assim como outros tantos proferidos por Francisco, mostra o espírito de abertura de Francisco e seu desejo de uma Igreja de portas abertas.
Desta maneira, Francisco valoriza, mais uma vez a presença de homens e melhores que atuam no meio do povo e se dedicam a anuncia a Palavra de Deus. Assim, com esta certeza, conscientes de toda a proposta e caminhada evangélica, devemos nos comprometer em ser anunciadores da Boa Nova em nossas realidades e nas diversas comunidades. Pra tanto é preciso caminhar e dialogar com a realidade, ser sujeito eclesial e autêntico com a fé que professa, por isso, falar que é a hora do leigo e nos colocar ao serviço do Reino. Não podemos nos deixar levar pela clericalização que fecha as portas para a ação de leigos e leigas, ferindo o principio de comunidade.
Destarte e atento a esta condição, devemos colaborar para que todos os leigos e leigas tenham acesso à formação e possam contribuir com a comunidade, como nos pede o Documento de Aparecida: “Assumimos o compromisso de uma grande missão […] que de nós exigirá aprofundar e enriquecer todas as razões e motivações que permitam converter cada cristão em discípulo missionário. Necessitamos desenvolver a dimensão missionária da vida de Cristo. A Igreja necessita de forte comoção que a impeça de se instalar na comodidade, no estancamento e na indiferença, à margem do sofrimento dos pobres.” (DAp 362).
Para tanto, é preciso Proclamar a palavra e anunciar o Evangelho a todos e todas, como nos afirma Francisco: “A Sagrada Escritura desempenha a sua ação profética, antes de mais nada, em relação a quem a escuta, provocando-lhe doçura e amargura. (…)A doçura da Palavra de Deus impele-nos a comunicá-la a quantos encontramos na nossa vida, expressando a certeza da esperança que ela contém” (Motu ProprioAperuit illis, n. 12).
Desta maneira, com atitude ética e real desejo de abertura aos leigos e leigas, possamos respirar ares novos e cada vez mais coerentes ao Espírito que nos guia. Que possam, neste domingo dedicado inteiramente à Palavra de Deus “compreender a riqueza inesgotável que provém daquele diálogo constante de Deus com o seu povo”. (Carta Apostólica Misericordia et misera, 7). Sigamos avante contra os tradicionalismos e contra aqueles que não desejam uma abertura da Igreja para todas as funções. Que continuemos deixando o ar novo do Concílio Vaticano II entrar por nossas janelas e portas e refrescar o ar que antes já esteve estocado e fechado.