A Igreja e as pessoas portadoras de autismo
Pe. Marcelo José – Arquidiocese de Niterói
A Igreja tem especial carinho por cada pessoa que é membro fiel do corpo místico de Jesus Cristo e além disso, devemos realizar todo compromisso ético e moral com aqueles que necessitam de uma atenção especial: austista, síndrome de Down, cegos, surdos, deficientes físicos e dentre outros (I Cor 12 – 13).
Em relação ao portador de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) costuma-se manifestar (2- 4 anos)na primeira infância e em sua maioria com as crianças do sexo masculino.A sua causa não se tem uma explicação exata e com isso, faz-se, necessário, um olhar multifatorial (LAZZARINI; ELIAS, 2022). É um transtorno de desenvolvimento neurológico que acaba afetando as habilidades físicas, motoras, de comunicação interpessoal (LAZZARINI; ELIAS, 2022).
Antigamente, era bem comum diferenciar os tipos de autismo:asperger, autismo tardio e dentre outros. Porém, com os estudos avançados, o Manual de Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais (DSM – 5) mostra os TRANSTORNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO foram compilados em um único diagnóstico que se chama TEA: Transtorno do Espectro Autista. Apresentam, portanto, um espectro com características comportamentais parecidas como a dificuldade de interação social, dificuldades de comunicação, comportamentos repetitivos e restritos. O que vai diferenciar o nível do TEA é a intensidade de como os sintomas e os sinais aparecem e, também, a necessidade do suporte que precisa de um olharinter/multidisciplinar (COSTA, 2023; MARTÍNEZ, 2023).
Mediante o estudo do TEA, possamos aproveitar asartes que apresentam vários estratégias para o desenvolvimento humano como os filmes, os desenhos, os quadrinhos e dentre outras atividades, para entender melhor esse diagnóstico(COSTA; YUNES, 2022; MARTÍNEZ, 2023).
UM EXEMPLO DE SUPERAÇÃO
Um documentário muito emocionante que eu vi foi: “Life, Animated” (YouTube): Sobre a superação do autismo. Este documentário mostra como a criança (Owen) conseguiu o seu meio de comunicação com o mundo através dos desenhos da Disney. Ele, portanto, descobriu expressar suas ideias através das falas dos desenhos animados, inclusive o âmbito emocional de como se sentia.
Além de tudo se tornou um ótimo dublador, criou o grupo “terapêutico” da sessão dos desenhos da Disney, aprendeu a ler e escrever através dos desenhos, criou histórias que relatam as suas próprias emoções.
No início do diagnóstico, os seus pais ficaram frustrados. O seu pai dr. Alan Rosenbblatt, pediatra, comentava sobre suas frustrações por causa dos sonhos que realizava com seu filho. Mas um dia, veio a esperança por meio de uma fraseque ele falou do desenho da Pequena Sereia: “Juscerover” justyourvoice”. Esta frase foi o que motivou seus pais a acreditar no potencial do seu filho, mas os médicos não sabendo dessa evolução apenas falaram que era ecolalia: uma repetição de palavras que ele tinha ouvido e apenas repetia.
Além disso, no aniversário do seu irmão de 9 anos, umanova surpresa com sua expressão, em relação, ao seu irmão que não queria crescer: “O Walter não quer crescer como o PeterPan…” Ele percebeu, o emocional do seu irmão que fez nove anos mas não queria crescer… Nem seus pais tinham observado isso, comentou sua mãe.
O pai, criativo, aproveitou a ocasião e veio com o fantoche do IAGO, personagem do desenho Aladim, para entrar em seu mundo autista… Foi uma luz… Ele respondeu ao seu filho: “Adoro a forma como a tua mente funciona” (com a voz de papagaio Iago). E ali começou um belo diálogo do pai e seu filho com os diálogos dos desenhos animados da Disney.
As expressões exageradas dos desenhos facilitaram para o Owen de se expressar… Ele, no entanto, começa a se expressar pelos filmes de como ele se passava:
- A forma de fazer amigos
- Hercules para não desistir e ser forte a cada dia na vida.
- Aladdin para expressar o seu namoro, principalmente na cena de Aladdin e Jasmim no tapete a voar.
- Pinóquio para ser um menino com seriedade e não mentir.
- O personagem quando se perde da mãe se sente sozinho. Ele coloca esse filme quando vai morar sozinho.
- Corcunda de NotreDame quando sofria um momento de Bullying.
Contudo, como achar uma melhor estratégia para o autismo? Esse rapaz conseguiu sair desse labirinto através dos desenhos da Walt Disney. Alguns especialistas não conseguiram compreender, mas seus pais, diante do amor conseguiram enxergar a luz no fim do túnel e daí começaram todo um trabalho de investigação científica.Diante de tudo, ele fazia palestras e fez seu próprio filme com os desenhos secundários da Disney, onde mostra seus medos, angustias, sofrimentos, rejeição mediante o TEA, mas com o olhar de resiliênciae realizando o seu próprio desenvolvimento (COSTA; YUNES; ACHKAR, 2020).
AÇÃO CONCRETA EM CADA PARÓQUIA
Em cada paróquia ou comunidade eclesial, possa ser realizado um ato concreto do cuidado, para aqueles que necessitam de um atenção especial.
Na paróquia da Matriz de São Gonçalo – RJ, existe o grupo de mães/pais especiais que têm crianças com algum tipo de limitação, onde todos os meseshá encontros, formações e, também, atividades com seus filhos. Há momentos de escuta, para podermos agir com maior precisão na ajuda com o seu filho especial e a comunidade deve ser uma comunidade acolhedora e desenvolver com mais assertividade o seu papel de cristão (I Cor 13). Procurem, também, especialistas na área que possam realizar um olhar inter/multidisciplinar: médico, psicólogos, fonoaudiólogos, assistente social, músicos,arteterapeutas, professores que possam dar um bom suporte nesta ação evangelizadora.
*Mestre em Psicologia Social e do desenvolvimento humano
REFERÊNCIAS
COSTA, Marcelo José M.; YUNES, M. A. M. A técnica do Gibi como recurso metodológico na área da psicologia. Appris, 2022.
COSTA, Marcelo José M. O olhar multidisciplinar ao paciente oncológico: cuidados paliativos, bioética e espiritualidade. Health andSociety, 2023.
LAZZARINI, Fernanda Squassoni; ELIAS, NassimChamel. História Social™ e Autismo: uma Revisão de Literatura. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 28, 2022.
MARTÍNEZ, Wendy. El autismo y el arte. Fronterasencienciassociales y humanidades, v. 2, n. 1, p. 362-371, 2023.