A alegria serena, a coerência firme e a parresia profética do Papa Francisco

Entre as diversas qualidades e atributos que recordamos no semblante e perfil que ficou gravado nos nossos corações da imagem do Papa Francisco, destacamos pela sua incidência e impacto na nossa sociedade espetaculosa e idolátrica, três virtudes de verdadeira raiz e cepa cristã: alegria, coerência e paresia, isto é, ousadia e sinceridade corajosa para falar e testemunhar. 

A alegria teologal foi sempre uma marca de Francisco, sorridente, bem humorado, próximo tratando com carinho e acolhida sensível e fraterna a todas as pessoas especialmente os sofredores e excluídos. Tornou esta virtude uma exigência que dá credibilidade a evangelização como na sua Encíclica programática Evangelium Gaudium (A alegria de evangelizar) a Constituição Apostólica Veritatis Gaudium (A alegria da verdade) sobre as Universidades e as Faculdades Eclesiásticas e a Exortação Apostólica Pós Sinodal Amoris Laetitia (A alegria de amar) sobre o amor na família humana. A alegria acompanhou seu ministério e sua missão, gerando esperança, ternura e ecoando a misericórdia divina. 

A segunda que sempre encontramos na sua pessoa amada foi sua coerência a toda prova, na forma de viver, de falar, de posicionar-se e assumir o Evangelho “sem glosas” como afirmou séculos antes Francisco de Assis. Coerente em viver a pobreza e simplicidade na roupa, na moradia, nos veículos e nas maneiras de tratar sempre de forma digna e igualitária a todos/as. Todavia o que tal vez nos surpreendeu foi a parresia, sua forma e liberdade de manifestar-se e no falar com expressões populares e criativas (citando a poetas como nosso Vinicius de  Moraes) mas não somente com palavras corajosas e fortes, porém com gestos de presença, compromisso e denúncia como em Lampedusa, em Cochabamba, acolhendo tribos indígenas , movimentos sociais, moradores de rua, migrantes, doentes, o que a sociedade consumista considera refugo ou descarte para ele como para Cristo era precioso e de infinito valor. 

Os pobres o reconheceram e o tiveram como Pai, advogado e defensor, ficando o legado do dia mundial do pobre, não para dar coisas para eles, mas para tratar de aprender com eles e caminhar junto a eles. O mundo e a Criação ficaram melhores e iluminados, com estes doze anos de pontificado, não apenas por resultados ou estatísticas, mas porque nos fez sentir novamente a alegria, a presença e o testemunho de um Enviado do Deus encarnado, que veio para salvar e dar a vida para todas as pessoas e criaturas. Obrigado Papa Francisco pelo seu zelo, cuidado e ternura, nunca o esqueceremos!

+Dom Roberto Francisco Ferreria Paz

Bispo Diocesano de Campos

Campos dos Goytacazes, 27 de Abril de 2025.

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