A esperança que não engana
O grande autor, Philipe Ariés, na sua obra, “História da Morte em Ocidente”, apresenta a tese que o tema tabu de nossa época é justamente o passamento, o fim da nossa vida terrestre. Vamos morrendo aos poucos, isolados e inconscientes, não sendo mais uma cena familiar, onde havia uma despedida iluminada pela confiança na eternidade. A morte continua irrompendo e mostrando às pessoas a finitude e criaturidade, que somos pó e ao pó voltaremos. Mas, a diferença está no sopro da vida, pois esta não nos é tirada, mas transformada. Na verdade, como dizia Santa Teresinha, nós não morremos, mas entramos na verdadeira vida.
A morte, para o cristão, não é um mistério impessoal ou um mergulho no nada, mas, o encontro com alguém que é a porta e o caminho para uma vida feliz, amorosa na ternura do Pai das misericórdias. A morte é o processo de acesso ao Reino definitivo, ao banquete do Céu, também chamado de paraíso. Não uma eternidade solitária ou petrificada, mas uma vida ressuscitada num céu e numa terra nova. Isso dá consistência a nossas opções e escolhas e, ao mesmo tempo, autenticidade e leveza, pois diante da morte caem todas as máscaras, e só levamos o que construímos no amor, relacionamentos conjugais, familiares, amizades e pessoas que foram resgatadas ou promovidas na sua dignidade fundamental pelo nosso empenho.
O verdadeiramente triste é passar pela vida como se fôssemos cadáveres ambulantes: sem sonhos, sem causas, sem valores, esquecendo o que afirmava Dom Hélder Câmara: ”Há mil razões para viver”. A morte é um bom dia para se viver, diz uma conhecida intensivista, no seu livro, que focaliza os cuidados paliativos com pessoas que estão fazendo sua preparação para este dia. Para a pessoa de fé, trata-se de um momento ascensional, plenamente humano, a ser vivido com serenidade, confiança e, no possível, rodeado pelas pessoas que amamos e queremos bem. Pense no que você escreveria na sua lápide funerária, para sintetizar sua vida; eu penso, hoje, que colocaria simplesmente: “Acreditei no amor que não tem fim, viva Cristo”. Deus seja louvado!
+Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo Diocesano de Campos