As novas tecnologias digitais: uma ferramenta de conversão pastoral
Por Ednoel Amorim *
Somos cristãos e católicos. Essa condição na qual nos encontramos e com a qual nos identificamos parte do mandato evangélico de nosso Senhor: “Vão pelo mundo todo, proclamem o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). Para nós que seguimos a Jesus, essas palavras representam mais que uma ordem, ou um simples convite. É uma verdadeira convocação, na qual Jesus nos pede tudo que temos, inclusive os meios modernos de evangelização.
Devemos nos sentir tocados intimamente por esse chamado, pois Jesus em sua Palavra se dirige a cada um de nós. Ele não se dirige à multidão, pois essa não é capaz de ser discípula missionária. Somente aquele e aquela que escuta a voz de Jesus em seu interior e toma a decisão de seguir seus passos, esse é discípulo em formação, entrou na escola de Jesus. É a ele individualmente que Jesus fala. Porém, a resposta de cada discípulo e discípula é chamada a somar numa comunidade de irmãos, pois não fomos chamados para criar meios particulares de anúncio, mas sim, para constituirmos comunidades fraternas e ali irradiar a salvação e torná-la conhecida, pois a salvação é o próprio Cristo.
Ao longo da história, a Igreja, como um corpo unificado, tem trabalhado incansavelmente para tornar esse apelo de Jesus real, presente e atual na vida das gerações que vieram depois d’Ele. Cada tempo foi objeto de seus próprios esforços e pôde colher os frutos de uma evangelização adaptada a cada realidade. Hoje, não diferente do que sempre aconteceu, a Igreja percebe que é o momento para um novo impulso evangelizador.
Ela segue com sabedoria divina, que sempre a assiste em sua missão, ainda mais quando ela permanece unida, como relata a escritura: “O Senhor agia com eles e confirmava a Palavra, por meio dos sinais que a acompanhavam.” (Mc 16,20b). Num mundo dividido pelo ódio e por tantos interesses particulares, não poderia haver maior sinal para acompanhar a Igreja de Jesus que sua unidade e os esforços por permanecer unida. Visivelmente temos a nossa disposição uma linha dinâmica e formativa para orientar nosso caminho eclesial de evangelização e unidade. Essa linha passa pelo sentir do povo em seus movimentos populares, pelo sentir da Igreja/instituição em seus concílios, especialmente o grandioso Concílio Ecumênico Vaticano II, em suas Conferências Gerais do Episcopado Latino-americano e Caribenho (CELAM), com particular revelo à Conferência Geral de Aparecida (2007), também em suas Conferências locais como a CNBB, pelo sentir do seu líder, o Papa Francisco, em seu conceito de “Igreja em saída” e em seu esforço pessoal por uma concreta conversão pastoral (cf. Evangelii Gaudium, 19-33). É essa linha viva e cheia do Espírito Santo que ao longo dos últimos 60 anos vem tentando fazer a Igreja pôr em prática o que ela recebeu como uma missão: “fazer discípulos”. (cf. Mt 28,19).
Vale perguntar: Qual modelo de discípulos queremos formar? Pois, discípulos e discípulas não brotam em árvores, não são colhidos em campos, não podem ser comprados num supermercado, ou seja, eles não nascem prontos, são conquistados e atraídos. Uma vez despertados precisam ser formados aos moldes de Jesus Cristo. Não existe mágica. O diferencial está na determinação, no entusiasmo e na ousadia. (cf. DAp, 2007).
Queremos, pois, discípulos que sejam capazes de se colocar a caminho, seguir os passos de Jesus em suas realidades específicas e em todas elas. Chegamos ao ponto no qual é fundamental nos colocarmos em atitude de gratidão a Deus por ter nos dado uma capacidade singular por meio da inteligência humana, como dom coletivo, permitindo um avanço tecnológico impressionante. Basta lembrarmos a atual pandemia do coronavírus, para percebermos que ela teria um impacto muito mais intenso, monstruoso e letal se não tivéssemos a nosso favor as novas tecnologias. Tanto o desenvolvimento da medicina como a própria manutenção do serviço da evangelização estariam amplamente prejudicados se a inteligência humana, aliada à luz de Deus, não tivessem nos oportunizado, como um presente, as novas tecnologias, e principalmente as digitais.
Diante delas, é inegável que temos a necessidade de renovar os métodos de evangelização, para num processo de conversão pastoral pautado na vida comunitária, descobrir juntos os caminhos do novo paradigma evangelizador que está em processo de consolidação. No cenário difícil no qual nos encontramos vemos tantos que continuam enrijecidos e reticentes. De fato não é fácil adaptar-se aos novos meios tecnológicos, porém há muito já foi falado pela própria Igreja da urgência em se adaptar. Aqueles que demoraram muito para iniciar o processo de conhecimento das novas tecnologias, seguramente são aqueles que estão tendo grandes dificuldades em fazer algo simples, como uma transmissão ao vivo (live), são aqueles que não conseguem perceber que nas mídias digitais também formamos comunidade e elas já existem há muito tempo. O potencial magnífico das novas tecnologias não pode ser deixado de lado, tenhamos certeza que esse também é um caminho de evangelização que nos últimos meses chegou ao ápice de sua evidência e relevância.
Façamos, portanto, coro à prece do Papa Francisco. “[…] Peçamos ao Senhor que livre a Igreja dos que querem envelhecê-la, mantê-la no passado, detê-la, torná-la imóvel. […]” (Christus Vivit, 37). Roguemos ao autor da missão, que nos ajude nesses dias difíceis enviando homens e mulheres tecnológicos e, ao mesmo tempo, dotados de ardor missionário, comprometidos em colaborar com a nova evangelização, para que seja segura, humana, fraterna e atualizada.
* Ednoel Ribeiro de Amorim é natural do Piauí, licenciado em filosofia pela Faculdade Evangélica do Meio Norte, bacharel em teologia pela Universidade de São Paulo – USP e graduando em Produção Multimídia pela Faculdade Paulus de Comunicação – FAPCOM. Atualmente é postulante da Congregação dos Padres e Irmãos Paulinos.
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