Desigualdade social e desgoverno: negação a Vida!
Marcos Aurélio Trindade
A humanidade do século XXI necessita de uma luz norteadora, que orienta para responder aos desafios econômicos sociais. Um modelo de organização social que, atenda as necessidades e o sentido existencial da vida neste planeta, que apresente um modelo ético. Nos dias atuais de nossas vidas, estamos presenciando as catástrofes do marco neoliberal, que assolam o impulso do coletivismo social. O mundo em que vivemos é medonho e obscuro, demarcado de guerras exploratórias, ativadas pela forma econômica individual, opressiva, insistindo em dividir a vida. Utilizando a todo o momento uma arma de indústria cultural, opressiva ideológica arguida na economia, produzindo alienados e uma sociedade consumista sem atenção a vida.
A concentração de renda que é um dos males imperativos que a sociedade está sofrendo, se torna cada vez mais nítida. A geração de pobreza, atrelada ao modelo vigente só colabora para que os pobres fiquem mais pobres e ricos mais ricos. Os bilionários da esfera mundial e suas prosperidades individuais, aceitadas por uma organização obscura, estão gerando mais desigualdades sociais, acirrando um pacto de destruição planetária no que diz respeito à vida.
No contexto brasileiro as grandes potências financeiras, estão propagando um avanço exorbitante de desigualdades sociais, pois as fontes e dados mostram, que os bilionários desse país, apresentam cinco por cento do capital, sobre cinquenta por cento dos mais pobres. A questão aqui, não se trata em aniquilar as estruturas desse mercado financeiro, mas, trata-se de reformulá-los a luz de uma responsabilidade com o valor social e comprometido com a responsabilidade, sobre os menos favorecidos. Sabemos que a concentração de renda gera pobreza devastadora e somos testemunhas sobre esse cenário. Porém a humanidade necessita enxergar o ser humano e todo o processo fisiológico do meio ambiente, como bem maior, para a harmonia cosmológica e a inibição da pobreza. É complicadíssimo quando olhamos para uma elite, que é privilegiada em detrimento de outras camadas sociais que não possuem nada. Não dá para falar de meritocracia diante desse cenário, quando tantas pessoas não tiveram acessos às questões básicas e essenciais da vida. O Brasil é um país rico em diversidades naturais, porém a forma de distribuição é alarmante e perigosa, gerando muita pobreza.
Temos noticiado diuturnamente os noticiários da crise sanitária, dilacerada sobre essa pandemia ao nível global. A política em nosso País não se coaduna para os futuros do benefício do bem comum social, pois o exercício do poder governamental executivo é praticado como uma atuação obscura e desprovida de conhecimentos, agravadas pela irresponsabilidade na sociedade. O desgoverno mostrou-se cristalizado em referência as ações sociais, mediante aos menos favorecidos e tampouco demonstrou interesse, para a crise mortal do vírus COVID-19, atuando com desprezo a vida e também dos inumeráveis entes ceifados. O que devemos entender aqui é na verdade uma criação ideológica que não atende os interesses da ciência, por não preocupar ao cuidado preventivo na promoção de saúde global.
Abordando sobre questões voltadas a aspectos econômicos, o caminho proposto é o engajamento de uma economia interativa e não excludente, para a criação de riqueza e a manutenção dela, que se manifesta pelo fruto do trabalho da potencialidade humana. Não basta gerar lucro e emprego, sem um compromisso social, o capitalismo deve acima de tudo, eliminar a injustiça social. Se o trabalho é promissor em relação a todo ser humano, deve-se pensar numa economia solidária, comprometida em primeiro lugar com a sociedade onde o lucro não seja um fim, mas um meio para alcançar o bem comum, que não exclui parte da população de participar da ação humana do trabalho digno.
Nesse sentido, a sociedade deve buscar um modelo econômico que respeite a liberdade humana, a livre iniciativa, que esteja comprometida com a eliminação da injustiça social, ou seja, que faça surgir uma economia solidária. A sustentabilidade do futuro passa por uma nova ética econômica, que renove a ação do homem no mundo.
A forma de organização social se materializa nas empresas, onde há relações de trocas, entre os detentores do capital e a força de trabalho, em busca da geração de uma riqueza, que satisfaça as necessidades de todos. A questão ética é: Para qual fim está sendo destinada a geração de riqueza no século XXI? Como orientação, recorremos ao texto da Doutrina Social da Igreja, para trazer uma luz a esta questão. Caso o modelo econômico vigente não seja capaz de atender a finalidade exposta, é a prova de que vivemos em uma sociedade injusta, incapaz de promover o bem comum, cabendo às pessoas da boa vontade e a revisão do modelo econômico na luta para implementação de um novo modelo capaz de atender os princípios expostos. A doutrina social, em seu parágrafo 338 diz que: “A empresa deve caracterizar-se pela capacidade de servir o bem comum da sociedade mediante a produção de bens e serviços úteis. Procurando produzir bens e serviços em uma lógica de eficiência e de satisfação dos diversos sujeitos implicados, ela cria riqueza para toda a sociedade: não só para os proprietários, mas também para os outros sujeitos interessados na sua atividade. Além de tal função tipicamente econômica, a empresa cumpre também uma função social, criando oportunidades de encontro, de colaboração, de valorização das capacidades das pessoas envolvidas. Na empresa, portanto, a dimensão econômica é condição para que se possam alcançar objetivos não apenas econômicos, mas também sociais e morais, a perseguir conjuntamente”.
O homem não pode ser reduzido apenas como um objeto, tratado como uma coisa, mas deve ser valorizado pelo ato salvífico do trabalho, pelo fruto e o resultado que produz. É nessa perspectiva, que o trabalho permite a edificação do homem. Deve existir uma ruptura da estrutura desumanizante, em relação à estrutura humanizada, pois o ato humanizante é que, sana o modelo opressor na relação do detentor do capital e o trabalhador. Atentemo-nos sobre o que o catecismo da igreja católica afirma: “A vida econômica abrange interesses diversos, muitas vezes opostos entre si. Assim se explica o surgimento dos conflitos que a caracterizam. Deve haver um empenho no sentido de minimizar estes últimos pela negociação que respeite os direitos e os deveres de cada parceiro social: os responsáveis pelas empresas, os representantes dos assalariados, por exemplo, as organizações sindicais e, eventualmente, os poderes públicos.
A política ideal é promover atividades econômicas que são socialmente comprometidas com o valor humano e eliminar as que não estão comprometidas. Penso e como diz o padre Júlio Lancellotti: “Não estamos no mesmo barco, estamos na mesma tempestade. Uns de iate, outros a nado!”
*[1] Marcos Aurélio Trindade, mestrando em Bioética PUCPR. Especialista em saúde mental, Investigador na UBA- (Argentina)- Professor colaborador da Unimontes-MG. Ativista de direitos humanos, saúde e educação