Dom Rafael Cifuentes: a vida como uma escola de santidade

Andréia Gripp – Jornalista e Teóloga

Conviver com Dom Rafael LlanoCifuentes foi para mim uma escola de santidade. Homem de profunda vida espiritual, vivia com parresia a evangelização dos jovens e das famílias. Escreveu livros para esses segmentos e se empenhava em promover encontros de formação e também de convivência com esse público.

Eu o conheci em 1994, quando era bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, animador das pastorais da Juventude e da Família. Tive minha vida transformada por sua pregação, num retiro para jovens, no Centro de Estudos do Sumaré. Foi uma verdadeira efusão no Espírito Santo. Nesse encontro ele falou do amor de Deus, da ousadia da juventude e da entrega total a Cristo, com uma vida missionária, nas atividades de nosso cotidiano.

Seus olhos claros brilhavam quando falava e sua voz era vibrante. Diante daquele “gigante”, cheio de fervor evangélico, nós jovens ficávamos hipnotizados.

Depois desse primeiro encontro, Deus me deu a oportunidade de caminhar junto com Dom Rafael na Pastoral da Juventude da Arquidiocese do Rio e, posteriormente, no Instituto Pró-Família. Ele foi meu diretor espiritual.

Sua vida era, verdadeiramente, uma escola de santidade. Seu coração estava com Cristo e os seus pés, bem fincados no chão do tempo presente e da sua história. Assim viveu Dom Rafael e estar com ele no dia-a-dia nos mergulhou no mistério de uma vida inteiramente doada, que, nunca foi desencarnada, porque ele não tinha medo de sua humanidade. Ele viveu sem medo de suas fraquezas, medos e incapacidades. Tinha um grande autoconhecimento e um coração valente, confiante na Graça de Deus.

Ele também errava, como todos nós. Mas se diferenciava de nós por não se esquivar ou demorar a pedir perdão quando percebia que havia errado, sido injusto, ríspido, ou não tivesse sido sensível à necessidade de alguém. Com isso, nos ensinou a sermos humildes e a acolhermos a nossa própria humanidade.

Também não retinha ressentimentos. Perdoava a todos e com olhar de misericórdia e amor, restabelecia os vínculos que tivessem sido quebrados por alguma contrariedade.

Na homilia da celebração de seu aniversário de 80 anos, ele nos exortou a valorizarmos cada dia de nossas vidas, porque o nosso existir é iluminado a partir “das dificuldades superadas, das decepções naturais da vida, das quedas, dos começos e dos recomeços…. Deste modo se constrói – dia-a-dia, tijolo a tijolo, com um sacrifício unido a outro, com uma renúncia vivida ao lado de outra – uma fidelidade que não é carga, mas, sim, caminho seguro para a verdadeira felicidade.”

Dom Rafael tinha sempre uma palavra animadora a todos. Muitas vezes, em meio aos trabalhos cotidianos (trabalhei em seu gabinete por três anos), ele parava, olhava para mim e dizia: “Andréia, Deus te quer santa! E te fará santa! Mesmo que você não tenha consciência disso”. Lembro-me de um dia lhe perguntar: “Por que?” E ele me responder: “Porque essa é a vontade dEle”. Foi a forma mais simples de eu entender a passagem do texto da primeira carta aos Tessalonicenses (1 Ts 4, 3).

Buscava viver com fidelidade o seu chamado e sempre afirmava: “é na fidelidade que se encontra a felicidade”. Vivia seus horários de oração pessoal com disciplina. Todos os dias também dedicava um tempo para a leitura espiritual; fazia caminhada e trabalhava muito em seu escritório. Todo o seu dia era marcado por uma espiritualidade profunda, porque seu olhar estava fixo em Deus.[1]

[1] GRIPP, Andréia. Vocação à Santidade. Fortaleza: Edições Shalom, 2022, p. 40.

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