Fraternidade e fome a partir da compaixão e da partilha
Neste ano, a CNBB, pela 60ª edição, realiza a sua Campanha da Fraternidade abordando, pela terceira vez, a temática da fraternidade e fome, que sempre foram ligadas a Congressos Eucarísticos Nacionais celebrados com esta proposta que sempre ligou fraternidade, fome, à Eucaristia, como projeto de partilha do pão que salva a humanidade. De fato, a primeira, foi no ano do Congresso de Manaus, em 1975, com o lema “Repartir o Pão”; a segunda vez, no ano do Congresso de Aparecida, em 1985, com o lema “Pão para quem tem Fome” e, agora, em 2023, depois de termos celebrado o Congresso de Recife, com o lema “Pão em todas as mesas”. O lema desta Campanha assume o ensinamento de Cristo, recolhido por São Mateus, no versículo 14, 16: “Dai lhes vós mesmos de comer!”. Apresenta, como objetivo geral, a sensibilização da sociedade e da Igreja para enfrentarem o flagelo da fome, sofrido por uma multidão de irmãos e irmãs, por meio de compromissos transformadores.
Seguindo a metodologia do ver, iluminar e agir, trata de compreender as causas estruturais da fome no Brasil, a realidade de altíssima concentração fundiária e uma política agrícola perversa que prejudica a segurança alimentar. O agravamento do desemprego, a defasagem do salário e seu poder de compra, a extinção do CONSEA, do SISAN, dos programas PAA e PNAE e do esvaziamento dos estoques reguladores. O aumento da população em situação de rua, as iatrogenias políticas do patrimonialismo, clientelismo e falta de políticas públicas, o descaso com a Casa Comum. No entanto, é importante resgatar as práticas benignas e esperançosas, dos movimentos sociais e associações de beneficência, a CARITAS, de projetos comunitários, das Pastorais Sociais, da Economia Solidária, da Economia de Comunhão e da Economia de Francisco e Clara.
No iluminar, contemplamos o Deus que escuta o sofrimento, o caminho de Jesus o Salvador irmanado com os pobres e pequenos que questiona a indiferença e faz acontecer o milagre da partilha e multiplicação dos pães. Um novo Moisés e Eliseu, que mostra que o Reino traz fartura e abundância para os famintos. A Igreja, que junto a celebração da Eucaristia, e a partir dela, distribui a compaixão selada com a fração do pão. No agir, somos convidados nos quatros níveis do compromisso e empenho, a um testemunho pessoal, comunitário-eclesial, sócio-político (que abrange a sociedade civil, governo Municipal, Estadual e Federal). Passando, respetivamente, do assistencialismo emergencial, à promoção humana integral para o sócio-político e institucional, criando políticas públicas transformadoras. Lembrando o que o Papa Francisco afirmava, com respeito à fome, no seu discurso na FAO: “que não era só uma tragédia mas, também, uma vergonha”, somos desafiados a sair da indiferença e da apatia e, porque não dizer, da cultura do descarte, para uma conversão profunda, a cultura do dom e da partilha, que traz pão para todas as mesas. Deus seja louvado!
+Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo Diocesano de Campos
Campos dos Goytacazes, 26 de Fevereiro de 2023.