O Evangelho desfigurado e a Paz do Reino
O Evangelho desfigurado e a Paz do Reino
Houve, há um tempo, uma pessoa que, lendo o Evangelho, irritado, começou a arrancar as páginas com as quais não concordava, ficou apenas com duas. Assim, acontece com muitos cristãos que justificam práticas ou discursos diametralmente opostos à mensagem evangélica, para obterem resultados eleitorais e alcançar o poder.
É, de veras trágico, ver que esquecem partes fundamentais como a importância do perdão e da reconciliação, a bem aventurança da paz e da mansidão, o não julgar, o guardar a espada na bainha para não morrer igual, o amor aos inimigos, a não violência e a rejeição decidida à resistência armada, maus tratos e torturas.
Mas, o pior é o esquecimento do Rosto misericordioso e compassivo de Deus porque, como afirma São João, Deus é amor. Por isso, quando cristãos alemães aderiram afoitos à Nova Alemanha de Hitler, o grande pastor Karl Barth, da Igreja Confessante, reunidos em Barmen, vociferou com firmeza referindo-se aos cristãos convertidos a Hitler: “Vocês adoram a um Deus diferente, vocês pregam um Evangelho diferente”.
A este desvio, chamava-se cristianismo positivo, hoje podemos chamar cristianismo de resultados. Sempre deveremos ser fiéis ao Evangelho como critério próximo e final de julgamento de políticas e programas temporais e não o contrário, com a mediação da Doutrina Social da Igreja, especialmente nos seus princípios inegociáveis quais sejam: dignidade da pessoa humana, direitos humanos, defesa da inviolabilidade da vida em todas as etapas, direitos da família, inclusão dos pobres, justiça social e equidade, cuidado com a Casa Comum.
A paz e a concórdia que queremos reencontrar para o nosso país será sempre fruto da justiça. Conservemos a firme esperança no Reino e que o Deus da Paz nos permita votar, com alegria, sem ódio, nem revanchismos, porque todos somos irmãos! Deus seja louvado!
+Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo Diocesano de Campos
Campos dos Goytacazes, 21 de Outubro de 2018.