O Papa Leão XIV, o laicato e o compromisso sócio- transformador
Com a grata e alegre surpresa de um novo Papa à frente do Povo de Deus, vamos descobrindo suas inspirações e coordenadas para o seu pastoreio. A grande maioria dos fiéis da Igreja são os cristãos leigas e leigos, e sem dúvida é importante refletir sobre as esperanças e anseios do laicato face ao novo pontificado. Na sua apresentação inicial o Papa Leão XIV referiu-se a várias palavras chaves que têm a ver com a vocação e missão do laicato: diálogo, sinodalidade, escuta, evangelização e paz, saudando em espanhol aos fieis de Chiclayo sua Diocese do Peru. Mais adiante cita a Santo Agostinho o referencial da sua Ordem religiosa reproduzindo a frase: “Para vós sou Bispo convosco sou cristão, o primeiro é uma cruz e um perigo, o segundo é graça e salvação”.
Este pensamento significa corresponsabilidade entre pastores e fieis, sinodalidade, respeito às vocações e carismas e reconhecimento da missão evangelizadora. Mais tarde, ao explicar a razão da escolha do nome para seu Papado e o ordinal XIV, refere-se a Leão XIII e sua Encíclica Rerum Novarum que inicia o processo de sistematização da Doutrina Social da Igreja. Esta Carta de 1891 é resultado também da caminhada do chamado catolicismo social que reuniu Bispos, padres, leigos pensadores e líderes atuantes na ação católica preocupados e identificados com a situação de exploração dos trabalhadores. O Papa compara essa situação com os desafios da globalização atual, que com a Inteligência Artificial, altera as relações de trabalho, colocando em risco empregos, salários, segurança social e outros direitos trabalhistas. Ainda é sugestivo lembrar o paradigma agostiniano da articulação de fé e política mencionado na Campanha da Fraternidade de 1986 (Fraternidade e Política) que no seu texto base refere-se às duas vertentes inspiradoras da reflexão e compromisso sócio-político, a vertente tomista que resgata a ética na política em torno a virtude da justiça, e a vertente agostiniana de visão mais escatológica e comunitária, que visa a mudança e a transformação das estruturas sociais e econômicas perversas (estruturas de pecado) na perspectiva do Reino.
Certamente que as duas vertentes se completam a ética e a escatológica, mas ultimamente o Papa Francisco nos convidava a substituir a economia que mata, como se pode ler na Evangelium Gaudium. Para Santo Agostinho a função do Estado é preservar a justiça e o bem comum, pois para ele um Estado injusto era semelhante a uma quadrilha de ladrões. Percebe-se no pensamento agostiniano uma linha de proteção e salvaguarda dos direitos e da dignidade humana, na perspectiva da cidade de Deus que devemos ir construindo e será consumada na eternidade. Caberá aos leigos e leigas vivenciar esta missão de enobrecimento e encantamento da política, testemunhando com integridade, doação e competência esta vocação e ministério, fazendo acontecer o poder-serviço, garantia de uma sociedade mais justa e fraterna. Deus seja louvado!
+Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo Diocesano de Campos
Campos dos Goytacazes, 18 de maio de 2025.