Sínodo: escutar o que o Espírito quer dizer à Igreja do Brasil

O padre João Mendonça, único padre salesiano brasileiro a participar da etapa continental do Sínodo dos Bispos, faz uma reflexão sobre o processo sinodal e a Igreja do Brasil. Confira!    

 Pe. João Mendonça, SDB

O processo sinodal não está sendo escrito com debates e grandes conchavos de direita, esquerda ou de centro, mas na escuta atenta do Espírito Santo. Este talvez seja o maior desafio, a mudança de mentalidade que requer escancarar o coração, a mente e a vontade. Uma tarefa nada fácil.

Desde outubro de 2021, com a convocação do Papa Francisco para o próximo Sínodo, o caminho sinodal com base na participação, comunhão e missão, grande tema norteador, vem causando certa ansiedade, perspectivas, incredulidades e esperanças. 

Neste artigo quero partilhar alguns aspectos do processo à luz da própria indicação do Papa e a partir da experiência vivida no Brasil

É importante que quem ainda não despertou, desperte; quem acha que tudo isso é balela, repense; e quem está no caminho, atraia outros(as). Nisso estou empenhado.

O Sínodo não é formalismo

É o que dizia o Papa na abertura do Sínodo, em 2021. Não se trata de responder a algumas perguntas, de realizar um censo na Igreja, de saber quantos participam das missas ou as estatísticas da realização de sacramentos. Nada disso. O Sínodo quer provocar uma mudança de mentalidade no nosso modo ser Igreja. Das frias estruturas de poder, para o encontro fraterno; das respostas prontas, para escutar as perguntas existenciais; do intimismo religioso, para a saída missionária.

Consulta ao Povo de Deus

Para tanto, foi realizada uma primeira consulta a todo o Povo de Deus. Todos(as), repetiu o Papa várias vezes, deveriam ser consultados. Não é uma consulta para escutar apenas os que frequentam, os que estão dentro de nossas comunidades, mas também os que não estão, inclusive, aqueles que não confessam nossa mesma fé ou não acreditam em Deus.

A consulta no Brasil teve como resultado 259 relatórios das 278 circunscrições eclesiásticas existentes. Recebemos também nove relatórios de grupos específicos que manifestaram suas expectativas. Podemos dizer que o resultado da primeira fase foi muito positiva, mesmo reconhecendo que poderíamos ter feito com maior envolvimento de pessoas.

 O Sínodo não é intelectualismo abstrato

Não é interessante fazer um tratado sobre sinodalidade. Não é o objetivo rever questões dogmáticas ou teológicas, mas sim colher as experiências existentes na práxis das igrejas diocesanas que se caracterizam como processo sinodal.

A colheita foi abundante e “assumida pela maioria do Povo de Deus”, conforme aponta a Síntese brasileira. Alguns avanços foram reconhecidos: a escuta das várias categorias do Povo de Deus; a redescoberta da sinodalidade; a abertura dialogal da Igreja com a sociedade; saber que o povo brasileiro é sensível ao magistério do Papa Francisco; que há um dinamismo missionário em nossa Igreja brasileira; a escuta da Palavra de Deus e sua divulgação são conquistas no Brasil; a liturgia é participada.

Desafios

No entanto, apareceram alguns desafios, tais como: a pandemia prejudicou muito as ações comunitárias; ainda é insuficiente o protagonismo dos cristãos leigos; a ausência de planos pastorais em sintonia com as Diretrizes da CNBB; a pouca referência às questões ambientais, indígenas, dos jovens e crianças. Há uma rejeição de certos grupos aos ensinamentos do Concílio Vaticano II e certa dificuldade de convivência com grupos LGBTQIAP+, mães solteiras, profissionais do sexo, pessoas em condição de rua, divorciados e com os padres que deixam o ministério. Percebe-se ainda o enfraquecimento das comunidades e o crescimento do intimismo religioso.

Alguns horizontes do processo no Brasil

O Sínodo, dizia o Papa em 2021, não pode gerar um imobilismo, um “fez-se sempre assim”. A partir daqui podemos colher, como fruto da primeira consulta, alguns horizontes do processo sinodal para o Brasil.

Há um grande desejo de que a Palavra de Deus seja melhor conhecida, com o fortalecimento do diálogo ecumênico e inter-religioso, o melhor uso dos meios de comunicação social e a presença de ministérios que possam agilizar e concretizar a ação evangelizadora, indo ao encontro das pessoas mais vulneráveis, resgatando o trabalho com as juventudes e desenvolvendo a formação política no cultivo de lideranças em sintonia com a Doutrina Social da Igreja.

Percebe-se também a intensão de valorizar a Iniciação Cristã; de uma maior relação entre Liturgia e a vida concreta do povo, de inserir o laicato na ação evangelizadora com melhor formação e acompanhamento e de valorizar a presença efetiva da mulher nas decisões.

Qual é a minha experiência da síntese brasileira?

Como membro da equipe nacional organizada pela CNBB, tive a graça de interagir com outros sujeitos da Ação Evangelizadora, seja na própria equipe, como também com as equipes diocesanas e assessorias em algumas dioceses e grupos.

Nelas percebi o valor da escuta e de sonhar com os sonhos do Povo de Deus. Mas constatei também a indiferença e até a incredulidade de algumas igrejas, de sujeitos da evangelização que preferem ficar fechados na mesmice e numa pastoral de conservação com medo do sopro do Espírito que faz novas todas as coisas.

Precisamos abrir a porta para que a força do vento de Pentecostes inunde novamente a Igreja e a faça nascer de novo!

Fonte: Boletim Salesiano 

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