TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE – TDAH: HISTÓRICO, CARACTERIZAÇÃO e DIAGNÓSTICO

Prof. Me. Wilson Candido Braga

Terapeuta Ocupacional, escritor e professor

 

Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), caracterizado como uma condição neurobiológica ou um transtorno do neurodesenvolvimento (APA, 2014), apresentando-se desde tenra idade, é considerado um transtorno de origem genética, ambiental ou multifatorial, caracterizado especialmente por descontrole ou acentuada agitação motora, fazendo com que a criança apresente movimentos bruscos e inadequados (agitação psicomotora), mudanças de humor e instabilidade afetiva, bem como prejuízos atencionais e ações impulsivas, sem prévia análise de suas consequências (prejuízos de funcionamento executivo) (BRAGA, 2018), o que prejudica diretamente em suas relações sociais e relacionais ao longo da infância, adolescência e vida adulta.

Nesse contexto, o TDAH se não devidamente tratado a partir de abordagens medicamentosa, terapêutica e educacional, pode ao logo do tempo causar grandes impactos na vida de quem o apresenta, bem como em todo o grupo familiar, pois a maioria dos casos de pessoas com essa condição diagnóstica apresenta relações interpessoais instáveis e constantemente tumultuadas, com forte tendência para baixo desempenho acadêmico e profissional, o que acaba por sua vez levando a uma maior propensão a severos prejuízos no funcionamento afetivo, familiar e social. É também sabido que não existe uma única forma de apresentação para o quadro do TDAH.

O TDAH, assim como todos os transtornos do Neurodesenvolvimento, já aparece na primeira infância atingindo aproximadamente 3% a 5% da população durante toda a vida, com estimativa de apresentação em 5 a 13% entre os alunos em idade escolar, não importando o grau de inteligência, o nível de escolaridade, a classe socioeconômica ou etnia.

De acordo com estudos mais recentes (APA, 2014), o TDAH é mais facilmente percebido em meninos do que em meninas, numa proporção de 2:1; sendo que nos meninos os principais sintomas são marcadamente a IMPULSIVIDADE e a HIPERATIVIDADE (agitação psicomotora), e nas meninas a DESATENÇÃO, o que por sua vez tende a ser subdiagnosticado nesse grupo específico, porque em geral as meninas tem pouca apresentação dos sintomas de agressividade/impulsividade e agitação psicomotora, prevalecendo o sintoma desatento, porém com alto índice de comorbidades como o transtorno de humor e a ansiedade, além dos prejuízos no processo de ensino e aprendizagem.

Algumas crianças evidenciam o desenvolvimento do transtorno bem precocemente, apresentando-se logo no início do processo do neurodesenvolvimento, porém antes dos quatro ou cinco anos é muito difícil se fazer um diagnóstico preciso, pois faz-se importante avaliar outras situações associadas aos sintomas manifestos.

O TDAH é considerado uma condição médica de origem orgânica, biológia ou neurobiológica, e pesquisas apontam que crianças mais propensas a desenvolver este transtorno são filhos de pais hiperativos (em torno de 50%), irmãos (5% a 7%), gêmeos (55% a 92%) e que 50% a 60% ainda persistem com sintomas acentuados na fase adulta, pois para essa condição diagnóstica não há cura.

 

TDAH e seu percurso histórico

Em 2012, o JournalofAttentionDisorders (vol 16, N. 8. nov 2012) publicou a descoberta de um livro datado de 1775 e intitulado Der PhilosophischeArzt, do médico alemão Melchior Adam Weikart, famoso na época, no qual ele dedicou um capítulo direcionado sobre déficit de atenção, que ele denominava attentiovolubilis, com descrições sobre comportamentos que hoje se enquadrariam nos critérios diagnósticos do TDAH (provavelmente então a primeira denominação do que chamamos de TDAH). Alguns trechos do livro em que se pode identificar o transtorno.

  • Essas pessoas sentem necessidade de se concentrar por mais tempo e com mais insistência que as outras.
  • Qualquer inseto, qualquer sombra, qualquer som, ou até mesmo uma lembrança, é capaz de desviar essa pessoa de sua tarefa.
  • Essas pessoas só ouvem metade do que lhe falam, guardam na memória ou dão informações só da metade do que ouviram e de uma forma pouco clara.
  • São inconstantes na execução do que fazem, são descuidadas e imprudentes.

 

Segundo esse médico alemão, de acordo com o que eles dispunham na época, a causa desses comportamentos anteriormente descritos, era a velocidade e o volume de informações fornecidas a essas crianças. E para a época, o tratamento indicado era o isolamento no escuro, terapias a partir de banhos frios, bebidas quentes e ácidas, abstinência de café e temperos, cavalgadas e exercícios físicos.

Apesar dos relatos registrados, as primeiras descrições clínicas de quadros semelhantes ao que hoje classificamos com TDAH datam do século XVIII, sendo a primeira descrição detalhada relacionada ao transtorno datada do início do século XX, com o trabalho de Still (1902) sobre psicopatologias da infância.

Desde então, o TDAH passou por inúmeras denominações como “LESÃO CEREBRAL MÍNIMA” e “DISFUNÇÃO CEREBRAL MÍNIMA”, chegando aos tempos mais modernos com as denominações de “TRANSTORNOS HIPERCINÉTICOS” e de “TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO e HIPERATIVIDADE” no DSM-IV (SOUZA, 2003) e mais recentemente no DSM 5 permanecendo com a mesma expressão (APA, 2014).

Atualmente, as diretrizes clínicas para o diagnóstico do transtorno, presentes no DSM 5 (APA, 2014), refletem a forma como ele é concebido na atualidade: um transtorno do neurodesenvolvimento, de origem na infância, com comprometimentos persistentes e significativos na atenção e/ou hiperatividade e impulsividade, com prejuízos afetando múltiplos contextos do cotidiano do indivíduo e sua família.

 

Caracterização do TDAH e sintomas indicadores para o DIAGNÓSTICO

O TDAH é um distúrbio neurobiológico, com sua principal origem na hereditariedade e cujas características são a falta de controle sobre a atenção, a impulsividade e a atividade motora (sintomas de base).

O TDAH também é definido como uma dificuldade de manutenção do autocontrole (prejuízos no controle inibitório) ou a ausência total de controle, seguida por dificuldade de sustentar a atenção e controlar os impulsos (prejuízos no funcionamento executivo) (BRAGA, 2018).

Dessa forma, vamos especificar as características nucleares que definem o TDAH, segundo Rohde e Mattos (2008), “que afetam de modo adverso o desempenho acadêmico, a vida familiar e social, o ajustamento psicossocial e a vida laborativa” devendo ser alvo de intervenção especializada.

Para melhor compreender a pessoa com TDAH, vamos conhecer alguns conceitos importantes:

  • ATENÇÃO / DESATENÇÃO: Quando falamos de ATENÇÃO, nos referimos a um conjunto de habilidades como: o grau de investimento emocional, nível de alerta, concentração, orientação, seleção, exploração dos estímulos do ambiente, que nos fazem focalizar em alguma tarefa ou situação.

Cada vez mais o mundo está repleto de estímulos e para exercer qualquer atividade mental de forma organizada, é preciso selecionar os estímulos de maior importância e o mais adequado para cada situação dentre os vários estímulos presentes e concorrentes.

Existem situações diversas nas quais nossa atenção tem um papel muito variado: Em certas situações, necessitamos nos concentrar de maneira intensa em um único estimulo (auditivo, visual, sensitivo, pensamento, memória) e então a organização do Sistema Nervoso Central (SNC) desconsidera os demais estímulos presentes, para que não se tornem conscientes e atrapalhem a tarefa.

Em outras situações, há maior necessidade de focar a atenção em dois estímulos diferentes (por exemplo: dirigir e procurar o nome de uma rua próxima). Neste caso, exige-se a atenção a um estimulo, sem deixar de levar em conta algo diverso que está ocorrendo e que, poderá se tornar mais importante, exigindo que mudemos rapidamente nosso foco de atenção.

  • A ATENÇÃO é o conjunto de mecanismos neurais que garantem estas escolhas de acordo com as necessidades das situações que vivenciamos.
  • A DESATENÇÃO é a ausência ou a defasagem de atenção.

Alguns comportamentos relacionados ao TDAH que demonstram DESATENÇÃO são:

  • Dificuldade em organizar tarefas e atividades;
  • Evitar ou relutar em envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante, sustentado e produtivo;
  • Perder coisas necessárias para tarefas ou atividades importantes do dia a dia;
  • Ser facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa, perdendo seu foco principal;
  • Apresentar esquecimento em atividades diárias, causando-lhes prejuizos.

 

  • IMPULSIVIDADE: A definição de impulsividade deverá incluir os seguintes elementos: 1) sensibilidade diminuta às consequências negativas dos comportamentos; 2) reações rápidas e não planejadas aos estímulos antes de se completar o processamento da informação; e 3) falta de foco nas consequências a longo prazo.

A impulsividade pode levar a fazer coisas das quais a pessoa depois se arrepende, inclusive falar demais, sem qualquer crítica, tomar decisões ruins e com planejamento insuficiente.

Alguns comportamentos relacionados ao TDAH que demonstram Impulsividade são:

  • Frequentemente dar respostas precipitadas antes das perguntas terem sido concluídas, o que aumenta o risco de erros recorrentes;
  • Apresentar constante dificuldade em esperar sua vez, tornando-se inadequado socialmente;
  • Frequentemente interromper ou se meter em assuntos de outros.

 

  • HIPERATIVIDADE: O termo hiperatividade é caracterizado por “inquietação psicomotora excessiva, levando a dificuldade de permanecer por tempo prolongado em atividades mais longas ou com pouca agitação” (LOUZÃ NETO, 2010).

Também pode ser definida como “uma quantidade excessiva de atividade motora ou verbal com relação ao esperado para a idade e situação concreta na qual se encontra o sujeito” (BONET; SORIANO, 2008)

É uma condição na qual a criança ou o indivíduo mostra atividade maior que os outros na sua mesmo idade, excesso de comportamentos, além de dificuldade em manter a concentração, impulsividade e agitação intensa.

A hiperatividade pode ocorrer em diferentes graus de intensidade, com sintomas variando entre leves a graves. A depender da gravidade destes sintomas, a hiperatividade pode comprometer o desenvolvimento e a expressão linguística, a memória e habilidades motoras (IPDA, 2014).

De acordo com o Instituto Paulista de Déficit de Atenção (IPDA, 2014) devem ser considerados alguns pontos importantes ao estudarmos sobre a Hiperatividade:

  • Nem todas as formas de hiperatividade tem relação com déficit de atenção, ou seja, a hiperatividade pode ser sintoma de várias situações vivenviadas pelo sujeito;
  • Outras causas possíveis são alterações metabólicas e hormonais, intoxicação por chumbo, complicações no parto, abuso de substâncias durante a gestação, entre outras;
  • Problemas situacionais, como crises familiares (luto, separação dos pais e outras mudanças) podem ser traumáticas para crianças e levarem a um quadro de hiperatividade reativa;
  • Todas estas possíveis causas devem ser investigadas antes de se iniciar o tratamento, especialmente quando se desconfia de hiperatividade em bebês;
  • Um especialista em comportamento infantil pode ajudar a distinguir entre a criança normalmente ativa e enérgica e a criança realmente hiperativa.

As crianças até mesmo as menores podem se apresentar com excesso de energia, podem correr, brincar e agitarem-se durante horas sem apresentar sinais de fadiga ou indisposição, sem cochilar, dormir ou demonstrar qualquer cansaço. Para garantir que a criança realmente hiperativa seja tratada adequadamente, e assim evitar tratar erroneamente uma criança neurotípica, é importante que ela receba um diagnóstico preciso a partir de avaliações com profissionais especialistas, daí a necessidade de investigação com médicos especialistas e equipe multidisciplinar (terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, psicólogo, psicomotricista, psicopedagogo, neuropsicopedagogo…), além de um relato fiel por parte da família, o que se dá pela entrevista familiar/anamnese.

Alguns comportamentos relacionados ao TDAH que demonstram HIPERATIVIDADE são:

  • Dificuldade em brincar ou envolver-se silenciosamente em atividades de lazer;
  • Estar frequentemente “a mil” ou muitas vezes agir como se estivesse “a todo vapor”;
  • Falar em demasia.

 

Nesse sentido, o TDAH apresenta três características consideradas sintomas centrais: a DESATENÇÃO, a AGITAÇÃO e a IMPULSIVIDADE.

A criança com TDAH tem dificuldade de concentrar-se e distrai-se com facilidade, esquece seus compromissos, perde ou esquece objetos, tem dificuldade em seguir instruções até o fim, dificuldades em se organizar, fala excessivamente, interrompe os outros, não consegue esperar sua vez, podendo ainda responder a perguntas antes mesmo de serem formuladas, o que naturalmente pode lhe trazer prejuízos.

Esses sintomas centrais (desatenção, hiperatividade e impulsividade) evidenciados principalmente em crianças e adolescentes, colocam-na em desvantagem em ambientes onde a focalização da atenção e o controle motor e dos impulsos são necessários para o adequado funcionamento diante das demandas diversas.

 

SINTOMAS indicadores para o diagnóstico do TDAH:

  1. Não consegue prestar muita atenção a detalhes ou comete erros por descuido nos trabalhos da escola ou tarefas
  2. Tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades de lazer
  3. Parece não estar ouvindo quando se fala diretamente com ele     
  4. Não segue instruções até o fim e não termina deveres de escola, tarefas ou obrigações
  5. Tem dificuldade para organizar tarefas e atividades 
  6. Evita, não gosta ou se envolve contra a vontade em tarefas que exigem esforço mental prolongado  
  7. Perde coisas necessárias para atividades (p. ex: brinquedos, deveres da escola, lápis ou livro)
  8. Distrai-se com estímulos externos                                            
  9. É esquecido em atividades do dia-a-dia
  10. Mexe com as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira       
  11. Sai do lugar na sala de aula ou em outras situações em que se espera que fique sentado   
  12. Corre de um lado para outro ou sobe demais nas coisas em situações em que isto é inapropriado           
  13. Tem dificuldade em brincar ou envolver-se em atividades de lazer de forma calma                 
  14. Não pára ou frequentemente está a “mil por hora”    
  15. Fala em excesso                                       
  16. Responde as perguntas de forma precipitada antes delas terem sido terminadas                                
  17. Tem dificuldade de esperar sua vez                             
  18. Interrompe os outros ou se intromete (por exemplo: intromete-se nas conversas, jogos, etc.) 

 

CRITÉRIOS DE OBSERVAÇÃO necessários para o DIAGNÓSTICO do TDAH:

CRITÉRIO A: Sintomas de apresentação para o TDAH (podem ser observados a partir de relatos familiares ou pela observação da criança em atividade, observados também pela aplicação de testes ou escalas de avaliação, como o SNAP IV…)

CRITÉRIO B: Alguns desses sintomas devem estar presentes antes dos 7 anos de idade.

CRITÉRIO C: Existem problemas causados pelos sintomas acima em pelo menos 2 contextos diferentes (por ex., na escola, no trabalho, na vida social e em casa).

CRITÉRIO D: Há problemas evidentes na vida escolar, social ou familiar por conta dos sintomas.

CRITÉRIO E: Se existe outro problema (tal como depressão, deficiência intelectual, psicose, etc.), os sintomas não podem ser atribuídos exclusivamente a ele.

 

O TDAH e as FUNÇÕES CEREBRAIS

Inúmeros estudos acrescentam que pacientes com TDAH apresentam alterações especificas em uma função cognitiva chamada de FUNÇÃO EXECUTIVA (FE). Esta é a função mental que coordena a memória imediata, memória imediata verbal, autoregulação dos afetos e permite a reconstituição e análise do próprio comportamento: “Alterações nesta função podem acarretar em um menor controle dos impulsos, dificuldades de reter informações, respostas verbais inadequadas e problemas no controle motor a estímulos” (GREVET et al, 2003).

As funções executivas podem ser divididas entre quatro subconjuntos: VOLIÇÃO; PLANEJAMENTO;AÇÃO INTENCIONAL; eDESEMPENHO EFETIVO:

  • VOLIÇÃO é a capacidade de estabelecer objetivos. Para essa formulação intencional, é necessária a motivação e consciência de si e do ambiente.
  • PLANEJAMENTO é a capacidade de organizar e prever ações para atingir um objetivo. A habilidade de planejar requer capacidade para tomar decisões, desenvolver estratégias, estabelecer prioridades e controlar impulsos.
  • AÇÃO INTENCIONAL é a efetivação de um objetivo e planejamento, gerando uma ação produtiva. Para isso, é necessário que se inicie, mantenha, modifique ou interrompa um conjunto complexo de ações e atitudes integrada e organizadamente.
  • DESEMPENHO EFETIVO é a capacidade de automonitorar, autodirigir e auto-regular a intensidade, o ritmo e outros aspectos qualitativos do comportamento e da ação, ou seja, é um controle funcional (SABOYA et al., 2007).

O desenvolvimento dessas funções durante a infância proporciona gradualmente a adequação e o melhor desempenho da criança para iniciar, persistir e completar tarefas importantes de acordo com sua faixa etária e demandas. A identificação de fatores imprevistos e de sua importância, assim como a elaboração de respostas alternativas diante desses problemas, reflete a capacidade adaptativa do indivíduo proporcionada pelas funções executivas.

As consequências das alterações na FE quando vinculada ao TDAH podem ser inúmeras:

  1. Organização, hierarquização e ativação da informação: o sujeito requer pressão para começar e cumprir a tarefa em tempo (desorganização e procrastinação estarão sempre presentes); tem ainda dificuldade para estabelecer prioridades na atividade; mudanças de foco e troca de tarefas continuamente, ou seja, tem necessidade de variar.
  2. Focalização e sustentação da atenção: a pessoa apresenta distração fácil por estímulos internos e externos; com severas dificuldades para filtrar estímulos; perde o foco quando lê; necessita de lembretes para manter em dia sua tarefa habitual; apresenta inconstância e abandono precoce no que se envolve.
  3. Alerta e velocidade de processamento: o sujeito tem excessiva sonolência, falta de motivação e cansaço constante; esgotamento fácil do esforço; pouca velocidade de processamento.
  4. Manejo da frustração e modulação do afeto: o paciente apresenta baixa tolerância à frustração e baixa autoestima; hipersensibilidade a críticas; irritabilidade; preocupações excessivas e perfeccionismo.
  5. Utilização e evocação da memória de trabalho: a pessoa apresenta esquecimento de responsabilidades e objetivos pessoais; tem dificuldade nos seguintes aspectos: conservação (a informação não é incorporada às demais já apreendidas), seguimento de sequências, manutenção de dois ou mais elementos simultaneamente e para trazer do arquivo a informação armazenada.

Lopes et al (2005) resume a ligação as características das funções executivas dizendo que são processos de controle que envolvem a capacidade inibitória, demora no tempo de resposta que possibilite o indivíduo a iniciar, manter, deter e trocar seus processos mentais para o qual deve estabelecer prioridades, organizar-se e por em prática uma estratégia.

 

Quando desobediência, agitação, falta de atenção, distração, impaciência, irritabilidade, baixa capacidade de lidar com o “não”, falar sem pensar ou viver perdendo as coisas pode indicar um transtorno?

Quando há evidências de que esses comportamentos trazem sofrimento e prejuízos funcionais suficientemente severos para que seja necessária intervenção. Ou seja, quando esses comportamentos são tão frequentes e/ou tão intensos que atrapalham o sujeito a se relacionar com outras pessoas, causam sofrimento ou extremo desgaste à dinâmica familiar, trazem problemas na escola ou no trabalho.

Apesar de serem sintomas de TDAH, esses problemas podem ocorrer em consequência de outras condições médicas ou doenças e, por isso, se estiverem causando prejuízo, um especialista da área de saúde precisa ser consultado para que assim se evite confusão diagnóstica ou julgamentos.

 

Possíveis causas do TDAH

Não se sabe precisamente qual o fator que causa o TDAH. Existem muitas causas prováveis, como ORIGEM BIOLÓGICA, LESÃO CEREBRAL, EPILEPSIA, MEDICAMENTOS, DIETAS, ENVENENAMENTO POR CHUMBO, HEREDITARIEDADE, TRAUMAS DURANTE O PARTO ou ainda algum DESEQUILÍBRIO DA QUÍMICA DO CÉREBRO, prejuízos no funcionamento cerebral…

 

Fatores genético e orgânico

Segundo Mattos (2005) “não existe uma causa única perfeitamente estabelecida”, porém há pesquisas que apontam a participação genética de 90% neste diagnóstico, sendo considerado um forte determinante do aparecimento deste transtorno. No caso da criança com pais diagnosticados, há também a possibilidade de um caráter hereditário, pois as chances são duas vezes maiores de possuir TDAH (observa que 50% são filhos de pais hiperativos) embora nem todos os estudiosos concordem com essa hipótese, achando mais viável que seja consequência de desequilíbrio de uma química do cérebro.

É importante salientar que no TDAH, como na maioria dos transtornos do comportamento, em geral multifatoriais, nunca devemos falar em determinação genética, mas sim em predisposição ou influência genética. O que acontece nestes transtornos é que a predisposição genética envolve vários genes, e não um único gene (como é a regra para várias de nossas características físicas).

Provavelmente não existe, ou não se acredita que exista, um único “gene do TDAH”. Além disto, genes podem ter diferentes níveis de atividade, alguns podem estar agindo em alguns pacientes de um modo diferente que em outros; eles interagem entre si, somando-se ainda as influências ambientais.

Considerando ainda o desenvolvimento cerebral e a genética, o TDAH também é considerado um TRANSTORNO DE “BASE ORGÂNICA”,associado a uma disfunção em áreas do córtex cerebral, conhecida como Lobo ou córtex Pré-Frontal. Quando seu funcionamento está comprometido, ocorrem dificuldades com concentração, memória, hiperatividade e impulsividade, conforme já citado anteriormente. 

Acredita-se que os lobos frontais, última área a amaducer, são responsáveis pela Função Executiva, compreendem a nossa capacidade de iniciar, manter, inibir e desviar a atenção, gerenciar as informações recebidas por todas as vias sensoriais, integrar a experiência atual com a passada, monitorar o comportamento presente, inibir respostas inadequadas, organizar e planejar a obtenção de metas futuras. Assim, é possível compreender muitas das manifestações de TDAH como resultado de uma deficiência do desenvolvimento do processo inibitório normal controlado pelo lobo frontal.

Exames de neuroimagem ligados à pesquisa sugerem que há uma hipoatividade do lobo frontal direito do cérebro durante atividades que exigem atenção concentrada, resultado de um metabolismo deficiente dos neurotransmissores, principalmente dopamina e noradrenalina. Isso resulta na falta de controle sobre as funções exercidas pelo lobo frontal direito.

Normalmente, em atividades como estudo, leitura ou outras que exijam concentração, o cérebro aumenta os níveis de ativação, justamente para dar conta das exigências. Nos casos típicos de TDAH, a característica psicofisiológica mais comum é a hipofunção / hipoativação do córtex pré-frontal, na qual uma quantidade significativa de neurônios pulsa mais devagar que o esperado, especialmente quando as circunstâncias exigem maior esforço mental e, portanto, maior ativação (IPDA, 2014).

Com o advento da tecnologia ainda mais avançada de ressonância magnética funcional, os pesquisadores podem agora avaliar a atividade funcional em várias regiões do cérebro, enquanto a administração de testes psicológicos para os assuntos que estão sendo digitalizados. 

Outras causas importantes do TDAH também podem ser (MATTOS, 2005):

  • PRÉ-NATAIS – relacionadas à mãe no decorrer da gravidez, como vícios, doenças crônicas, intoxicações e até, de importância fundamental, a própria aceitação da gravidez.

A nicotina e o álcool quando ingeridos durante a gravidez podem causar alterações em algumas partes do cérebro do bebê, incluindo-se aí a região frontal orbital. Pesquisas indicam que mães alcoolistas têm mais chance de terem filhos com problemas de hiperatividade e desatenção.

É importante lembrar que muitos destes estudos somente nos mostram uma associação entre estes fatores, mas não mostram uma relação de causa e efeito.

  • PERINATAIS: intercorrências durante o parto. Alguns estudos mostram que mulheres que tiveram problemas no parto que acabaram causando sofrimento fetal tinham mais chance de terem filhos com TDAH.
  • PÓS-NATAIS: infecções do sistema nervoso central, traumatismos, intoxicações. Crianças pequenas que sofreram intoxicação por chumbo podem apresentar sintomas semelhantes aos do TDAH. Entretanto, não há nenhuma necessidade de se realizar qualquer exame de sangue para medir o chumbo numa criança com TDAH, já que isto é raro e pode ser facilmente identificado pela história clínica.

 

Fator ambiental

Inúmeros estudos em todo o mundo – inclusive no Brasil – demonstram que a prevalência do TDAH é semelhante em diferentes regiões, o que indica que o transtorno, não é secundário a fatores culturais (as práticas de determinada sociedade, etc.), o modo como os pais educam os filhos ou resultados de conflitos psicológicos.

É fundamental conhecer como se deu ou está se dando a relação dessa criança com seus pais e irmãos, para que se tenha uma melhor compreensão do problema. Por isso, é de fundamental importância observar o ambiente onde a criança vive, pois as condições familiares, sociais, culturais, psicológicas e afetivas podem gerar quadro comportamental idêntico ao TDAH, levando a um diagnóstico errado.

Muitas crianças são diagnosticadas com o transtorno quando, na realidade, o problema é a falta de limites, disciplina e/ou aceitação e acolhimento amoroso por parte dos pais. É consenso que a aprendizagem tem seu início em casa, no meio familiar, de maneira informal e totalmente empírica, o que difere do TDAH que é um transtorno multifatorial, com total interação entre fatores genéticos, ambientais e neuroquímicos, determinando o conjunto de características que identificam uma pessoa.

Apesar do grande número de estudos já realizados, as causas precisas do TDAH ainda não são conhecidas, porém as influências de fatores genéticos são muito fortes, maiores que a contribuição dos agentes ambientais e sociais, e que isso é amplamente aceito na literatura. Assim como ocorre na maioria dos transtornos do neurodesenvolvimento, acredita-se que vários genes de pequeno efeito sejam responsáveis pela vulnerabilidade (ou suscetibilidade) genética ao transtorno, somando-se a eles diferentes agentes ambientais como fatores de combinação.

 

Classificação e tipos de TDAH

O TDAH pode se manifestar de diferentes maneiras e em graus de comprometimento diferente em cada indivíduo. Contudo para fins diagnósticos e de análise, há três tipos principais de TDAH, de acordo com a classificação atual do DSM 5 (APA, 2014): TDAH Tipo Desatento (com predomínio da DESATENÇÃO), TDAH Tipo Hiperativo-Impulsivo (com predomínio da IMPULSIVIDADE e HIPERATIVIDADE) e TDAH Misto / Combinado (DESTAENTO, IMPULSIVO e HIEPRATIVO).

Segundo o Instituto Paulista de Déficit de Atenção (IPDA) alguns especialistas consideram que há um número maior de tipos de TDAH, entre eles tipos PREDOMINANTEMENTE ANSIOSOS, DEPRESSIVOS ou COM TRAÇOS OBSESSIVO-COMPULSIVOS, que exigiriam tratamentos diferenciados, especialmente por se tratar de quadros que trazem outras comorbidades, o que ampliaria o quadro principal.

Entendemos dessa formar que o TDAH é um transtorno extensivamente estudado, com dados de alta qualidade que demonstram sua validade. Crianças e adolescentes com TDAH apresentam um comprometimento significativo e correm um risco maior de terem um déficit no seu desenvolvimento social, emocional e educacional.

Apesar das preocupações existentes com alguns diagnósticos equivocados, os estudos conduzidos no Brasil indicam que aproximadamente 95% das crianças com TDAH não recebem tratamento e que existe uma grande parte de adultos com diagnósticos incorretos ou não diagnosticados.

A falta de tratamento adequado, a falta ou ineficácia de políticas públicas verdadeiramente inclusivas, a carência de serviços multidisciplinares que contemplem esse público, o estigma e os conceitos errados são barreiras importantes para o reconhecimento do TDAH como condição diagnóstica e que requer serviços de suporte que complementem e suplementem as dificuldades e capacidades desses sujeitos.

 

REFERÊNCIAS

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DÉFICIT DE ATENÇÃO (ABDA) TDAH – Guia para Professores. Disponível em: <http://www.tdah.org.br/br/textos/textos/item/310-tdah-guia-para-professores.html#sthash.m4QFW376.dpuf> Acesso em 20 de Outubro de 2020

Barckley RA, Murphy KR. Transtorno do Déficit de Atenção / Hiperatividade – Exercícios Clínicos. Artmed. Rio de Janeiro, 2008.

BARKLEY , Russel. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade: Manual para Diagnóstico e tratamento. Porto Alegre: Artmed, 2006.

BONET, Trinidad; SORIANO, Yolanda. Aprendendo com crianças hiperativas: um desafio educativo. São Paulo: Cengage Learning, 2008.

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