Uma visita de paz, concórdia e reconciliação
Receberemos com muito júbilo e alegria, a visita em nossa cidade de Campos, mais precisamente no km O da urbe, onde se localiza na Igreja São Francisco da Penitência, a visita da peregrinação das relíquias insignes (um pedaço de fêmur) de São Francisco de Assis, que foi o primeiro padroeiro da cidade, nos dias 25 e 26 de março. Este acontecimento memorável registra os oitocentos anos de criação da Ordem Terceira Secular franciscana, que regimenta o carisma franciscano, para leigos e leigas, que, no mundo, testemunham a alegria e o louvor de seguirem a Cristo do jeito e da forma do Poverello de Assis.
Uma visita oportuna, e profética, neste período de quaresma e de crise civilizatória, que nos convidam às quatro conversões desenvolvidas e repensadas no Sínodo da Amazônia: a conversão social, ecológica, cultural e eclesial. De fato, o carisma franciscano resgata as três grandiosas bandeiras que o pontificado do Papa Francisco tem apresentado com ardor e entusiasmo: a bandeira branca da paz, a bandeira verde da integridade da Criação e a bandeira marrom da pobreza e da exclusão. Ter em nosso meio, a presença das relíquias de São Francisco, é um convite ao arrependimento sincero, e radical, de uma vida conformista e consumista, de uma reviravolta que rompe com a cultura do descarte e da indiferença diante da eliminação dos mais pobres e desamparados. Mas, estas relíquias nos interpelam a assumir um novo e diferenciado estilo de vida, de simplicidade, humildade e fraternidade. Está na hora de ajustar, nossa mente e coração, aos apelos e gritos da Terra, dos povos originários, dos camponeses e trabalhadores, dos moradores de rua, e catadores de lixo, para, com eles, construirmos uma Nova Aliança da vida e da Criação tornando-nos, como Noé, guardiães da Terra e da biodiversidade, protegendo a todas as espécies e criaturas.
Lembremos os dois momentos da conversão de São Francisco: a primeira, quando se despiu de suas vestes entregando-as ao seu pai como sinal de renúncia à riqueza e à ostentação; e a segunda, e mais importante, quando beijou o leproso, atitude de seu comprometimento de assumir, para sempre, o projeto do Reino nos pobres. Que esta visita possa nos colocar na rota de uma Igreja despojada e pobre, para os pobres, renunciando a qualquer aliança espúria com o poder, de uma Igreja samaritana e misericordiosa que acolhe e serve aos últimos e neles a todos/as, para edificarmos, na Terra, um mundo onde caibam todas as criaturas, para exultar sem cessar ao Deus da Vida, da Ternura e da Misericórdia infinita. Deus seja louvado!
+Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo Diocesano de Campos
Campos dos Goytacazes, 26 de Março de 2023