20 anos de apostolado na Pastoral Carcerária (2004 – 2024)

Pe. Marcello José – Arquidiocese de Niterói

Jesus nos deixou um belo mandato antes de sua subida para o Pai: “Ide pelo mundo e anunciai a Boa Nova (Evangelho) a todos os povos” e ainda, falou-nos para manifestar suas obras de misericórdia e uma delas é: visitar os carcerários (Mt 25 e Mt 28). Com isso, a Igreja Católica continua a missão do seu Mestre Jesus através das visitas nos presídios em várias dioceses.

Em 2004, foi a primeira vez que pisei num presídio: no sétimo Batalhão em São Gonçalo.  Fui acompanhar minha madrinha espiritual Cecília que era ministra da Eucaristia, pois ela levava a comunhão toda a semana no presídio, para um policial que estava preso.

No primeiro dia, alguns presos estavam com a cara fechada (como se não quisessem papo nenhum), mas Deus me chamava para esse serviço na sua Igreja.  Houve o momento da celebração da Palavra, onde fizemos a partilha.

Na outra semana, o rapaz que estava com a cara fechada começou a falar comigo, desabafar e chorar.  Eu não entendi nada, pois na semana passada estava fechado para conversa (pensava em meu íntimo).

De repente, tive uma visualização (dom do Espírito Santo) de Deus: via essa pessoa como criança pedindo colo, ou seja, ajuda. Não entendi a cena que Deus queria me falar e Ele me respondeu de imediato:

“Filho, não se preocupe com as posturas fechadas em seus rostos, pois isso é somente máscaras para poderem sobreviver no meio desta realidade que eles estão vivendo (cárcere). Apenas acolha cada um em seu coração e ajude-os, pois são como crianças que necessitam de apoio”.

Realmente, toda criança tem que ser formada em seu caráter mediante a Palavra de Deus e virtudes, pois se encontra sem direção alguma em suas vidas, principalmente os presos.  Desde então, procurei esse apostolado em minha vida na Igreja de Jesus.

Em 2017, houve uma ação social inter/multidisciplinar no presídio Patrícia Acioli (São Gonçalo).  Neste dia, tinham médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, dentistas, pastoral da Aids, pastoral carcerária, pastoral da Saúde, advogados, religiosos, novas comunidades, padres e um diácono que cooperaram nesta ação humana.

Neste dia, foram 1100 atendimentos médicos, 60 procedimentos dentários e 250 atendimentos Jurídicos (advogados).  Em relação às pessoas com DST foram: Sífilis – 46; Hepatite b – 4, HIV – 3.

Após ação, o diretor do departamento penitenciário, na época, elogiou muito a boa iniciativa da Igreja Católica, em relação a esse projeto dentro do presídio, pois já falou para alguns juízes e outras autoridades e nada foi feito… Somente a Igreja Católica tem essa ação eficaz e caritativa e nos agradeceu muito pela iniciativa.

Houve, também, o relato de Teresa, enfermeira, que dentro do presídio os jovens estavam com a camisa do lado do avesso… Ela, no entanto, ficou intrigada com aquilo e perguntou para algum dos detentos: “Por que vocês estão com a camisa do avesso?” Um dos presos respondeu: “Eu viro a camisa do avesso, pois a parte está limpa, para receber as pessoas de fora bem…”

Há aqui um valor simbólico, muito importante de cuidado com as enfermeiras que faziam o trabalho voluntário no presídio. Com esta atitude, o jovem penitenciário mostra que há a semente do Verbo no seu coração mediante seu cuidado (Dominus Iesus).

Cremilda ganhou uma medalha do papa Francisco mediante seu serviço na Pastoral Carcerária com mais de 30 anos.

No Ano da Misericórdia, aproveitei e fiz algumas perguntas a respeito de alguns que recebiam nossa visita dentro do presídio.

O que a Pastoral Carcerária tem ajudado vocês?

LÍRIO.  “A Pastoral Carcerária me ajuda a dar um alento, uma força para continuar, me traz ânimo. Eu não tenho família no Brasil e vocês acabam sendo minha família.   As tias (agentes da pastoral carcerária) quando vem aqui eu durmo até melhor em minha cela”.

JOSÉ.  “A Pastoral Carcerária me traz a mesma força como Lírio falou em sua resposta.  E o que sempre me vem é: ‘Vamos vencer esta batalha’ e vem, ainda, o sentimento de que você não está abandonado”.

Através das respostas dos penitenciários, percebemos o quanto é importante a nossa ação evangelizadora nos presídios. Até hoje converso com o Lírio que depois de cumprir a sua pena voltou para o seu país e está trabalhando com Açaí do nosso Brasil: abriu mais de 70 lojas de açaí e deu empregos para muitas pessoas no Paraguai.

PROMOVER AÇÕES CONCRETAS MAIS EFETIVAS EM CADA DIOCESE ATRAVÉS DA PASTORAL CARCERÁRIA

Ação concreta: cada seminário possa realizar um estágio pastoral, onde os seminaristas possam visitar os presídios em suas dioceses e com isso, possa fomentar um processo de humanização e evangelização nos corações dos futuros padres de nossa Igreja. Possa ter também a ação dos leigos por meios da evangelização e ações sociais inter/multidisciplinares nos presídios: questões na área jurídica, da saúde, assistência social e dentre outras questões.

Contudo, possamos ter, de fato, mais operários para a messe do Senhor na Pastoral Carcerária.  Por fim, para acentuar essa ação nos corações lembro-me do rapaz na prisão que me dizia: “Padre, não deixe de vir aqui, pois o Senhor traz luz. Por favor, não deixe de vir aqui, pois pensamos em besteira: ódio, raiva, vingança,…Não deixe de vir aqui, pois o senhor traz luz”.  Realmente, é um pedido profético de Deus através desse jovem necessitando da luz de Cristo.

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