MEIO AMBIENTE E PANDEMIA – COMO ANDA O CUIDADO COM A CASA COMUM?
A redução das ações humanas e as perspectivas para o futuro ambiental
Por Vitória Élida
Céu mais limpo em algumas cidades, áreas mais verdes, animais mais livres. Essas são umas das mudanças ambientais que estão sendo percebidas ao longo desse último ano em um mundo que enfrenta uma pandemia. A redução na atividade econômica e o isolamento social provocados pelo novo coronavírus, causador da Covid-19, ocasionaram em alguns impactos positivos ao meio ambiente. Porém, ainda não é tempo de comemorar, afinal de contas isso traz um reflexo nada agradável para nós, de que não temos cuidado da casa comum. Além disso, percebemos que foi preciso uma parada brusca em nossas atividades para que pudéssemos observar pequenas melhorias ambientais. Isso nos traz uma perspectiva um tanto negativa, visto que o homem não consegue seguir por muito tempo esses momentos de pausas de suas atividades danosas ao ambiente.
Segundo dados, as emissões de carbono diminuíram entre 5.5% e 5.7% durante a pandemia. Com isso, já é possível notar uma melhor qualidade do ar, principalmente nas grandes cidades. A expectativa é que a redução anual no mundo seja de 2.5 bilhões de toneladas de gás carbônico, representando uma queda de 5% em relação ao ano de 2019. Boa parte dessa redução se deve a diminuição da atividade industrial, mas o consumo de combustíveis fósseis também reduziu drasticamente: a diminuição da procura por gasolina chegou a 35% e, por diesel, a cerca de 25%.
Porém, a Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que, para evitar eficientemente desastres ambientais, seria necessária uma redução anual de 7.6% dos níveis de emissão pelos próximos dez anos. Dessa forma, mesmo que o mundo tenha interrompido suas principais atividades, a redução ainda não é considerada a ideal. E esse panorama se torna ainda mais desanimador quando pensamos que, ao final da pandemia, a economia correrá contra o tempo a fim de recuperar seu cenário, mesmo que isso custe danos ambientais.
Outro ponto a ser considerado é o aumento na geração de resíduos sólidos. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), a produção de lixo domiciliar poderá atingir um aumento de até 25% por causa da pandemia. Além disso, há uma preocupação especial com o aumento também do lixo hospitalar, o que gera um grande perigo, principalmente em locais onde o gerenciamento de resíduos é ineficaz.
Se faz necessário também, considerar a crescente taxa de desmatamento nesse período. Ao longo dos anos, a atividade de fiscalização já vinha sendo realizada de forma ineficiente, e com a pandemia, o descaso, principalmente em solo brasileiro, aumentou ainda mais o problema. Durante a pandemia, já foi constatado um aumento de 59% na taxa de desmatamento. É importante ressaltar que há uma relação direta entre desmatamento e o surgimento de doenças contagiosas, porém, esse fato não tem sido considerado pelas autoridades federais.
Diante de tudo isso, fica para nós a mensagem de que a pandemia causada pela Covid-19 serviu de um alerta para a humidade sobre a nossa necessidade de cuidar e respeitar da Casa Comum. O cenário observado no mundo nos fez perceber o quanto vivemos em uma sociedade injusta, em um meio ambiente esquecido e em uma saúde precária, ou seja, o quanto éramos vulneráveis à propagação deste vírus.
De acordo com esse panorama, precisamos, como seguidores de Cristo, pensar em alguns questionamentos. Estamos sendo guardiões da criação de Deus? O nosso bem-estar está ligado ao cuidado com a Mãe Terra? Estamos fazendo uso dos recursos naturais de forma sustentável? Ao contrário do que muitas vezes pensamos, a nossa atitude, mesmo que tida como isolada, não é pouco. Ela pode ser um pontapé numa tentativa de mudança de um modelo de produção tipicamente poluidor, dentro de um sistema repleto de injustiças sociais, onde a desigualdade social impera, e a perda de biodiversidade só aumenta.
A previsão de que a humanidade pode se autodestruir é fato já anunciado por muitos estudiosos, e são justamente as práticas e comportamentos nada sustentáveis, realizados de forma individual e coletiva, que nos leva a pensar que esse processo tem se acelerado. Por isso, é preciso que a sensibilização ambiental seja uma atividade e uma luta recorrente. A preocupação com a casa comum não pode ser uma prática realizada apenas pelos ditos ambientalistas. Dividimos esse mundo, então compartilhamos também essa responsabilidade.
Nos últimos anos já somos capazes de perceber uma busca por maior produção e consumo de produtos orgânicos. A linha mais saudável vem ganhando cada dia mais espaço. Mas ainda há muito a ser feito, ainda temos muito a aprender para realmente avançarmos. No último ano, mais de 50 tipos de agrotóxicos tiveram seu uso liberados, indo totalmente de encontro a uma necessidade eminente, que é a busca por uma produção mais saudável dos alimentos. Visto que o número de doenças só aumenta. Portanto, são necessárias medidas urgentes no sentido de estimular iniciativas sem poluição ou menos poluidoras, de forma a barrar o descuido com a casa comum.
Após o fim da pandemia já são esperados afrouxamentos das políticas ambientais em concessões para agilizar a retomada da economia. Porém, é preciso ter um pensamento positivo quanto ao consumo individual, já que neste período, algumas pessoas se dedicaram a aprender sobre maneiras mais conscientes de consumo. É preciso ainda, que os países tirem aprendizados dessa pandemia, buscando implementar mais ações de sustentabilidade. A redução de poluentes na atmosfera é um efeito momentâneo do período de isolamento que estamos vivendo e das paralisações de transportes e indústrias. No entanto, esse momento pode servir de reflexão sobre o tipo de ambiente que queremos em nossas cidades ao final da pandemia. O pouco que fazemos em várias partes do mundo, quando unidos, se torna muito.