Os jovens e o vazio existencial
Pe. Lício de Araújo Vale – Diocese São Miguel Paulista (SP)
A vergonha e a ausência de informações dificultam a busca por apoio para depressão, estresse, ansiedade, entre outros transtornos, que comprometem o trabalho de prevenção ao suicídio. Tomando como referência essa observação e dados da OMS, que reforça que o suicídio é a 3ª causa de morte de jovens brasileiros entre 15 e 29 anos.
Esses números e os riscos para saúde mental aumentaram na pandemia e, por isso, temos um motivo a mais para combater o estigma e lançar luzes sobre o problema do suicídio. A covid-19 chegou junto com o crescente aumento de transtornos mentais e automutilação entre os jovens.
Pais e escolas precisam saber identificar se um adolescente está sofrendo, bem como os profissionais de saúde que estão na linha de frente do atendimento. Segundo Viktor Frankl, neuropsiquiatria austríaco e fundador da Logoterapia e Análise Emocional, o vazio existencial é a consequência da frustação da vontade de sentido, a falta do sentido da vida.
Hoje o maior fator de risco de suicídios entre adolescentes e jovens é o vazio existencial.
Mas o que é exatamente o vazio existencial¿ Para entender o que é o vazio existencial primeiro precisamos compreender o que é o sentido da vida, porque assim como Frankl nos diz, o vazio existencial é a falta do sentido da vida.
Nós cristãos temos um sentido universal que é a busca pela santidade. Mas como descobrimos qual o sentido da nossa vida no dia a dia¿ O sentido da vida é único para cada momento.
O sentido é aquela experiência que eu faço quando me dou conta que vale a pena viver por algo ou por alguém, dedicar-se, sair de si, doar-se. A essência da nossa existência é a auto transcendência, o sair de si e voltar-se ao outro. O sentido da vida é a própria vida, como nos é dada.
Muitas pessoas sofrem, caem no vazio existencial porque buscam somente as consequências da chamada “felicidade”; a vontade pelo ter, a vontade pelo prazer e a vontade pelo poder.
Quando perdemos o sentido da vida ou não buscamos a ele, buscando direto as consequências da felicidade, essa busca nos frustra e vem o vem o vazio porque somos pessoas para realizar sentido.
A motivação principal da vida é a vontade de sentido, somos movidos pela vontade de sentido. Nós devemos ser fermento na massa e não deixar viver como massa. Quando as coisas vão mal, se não fizermos o melhor que pudermos para fazê-las progredirem tudo será pior ainda, diz Frankl.
“O subjetivismo relativista, sem normas, sem valores, fecha a pessoa no egoísmo, tornando-a prisioneira dos seus caprichos e prazer,”, diz Bento XVI. Vivendo-a prisioneira dos seus caprichos, vive também o vazio existencial.
Mas como sair do meu egoísmo e viver a auto transcendência, me abrir para outro, olhar para fora¿ Realizando valores. Os valores se tornam reais na minha vida quando se tornam atos concretos, quando se tornam vividos no dia a dia e isso depende da nossa responsabilidade, da nossa resposta.
O chamado da vida nos permite realizar valores e assim encontrar sentido.
Valorar não é dar valor a algo, mas reconhecer que cada coisa tem seu valor, que cada coisa ou acontecimento vivido bom ou ruim é importante, porque me torna melhor.
Frankl dizia que existe duas vias para encontrar o sentido da vida, ter alguém para amar e uma obra a realizar. Para ele o sentido da vida não é algo pelo qual se deve perguntar, mas sentir.
Todos os dias podemos encontrar sentido para realizarmos algo para o outro, Jesus em Lc 24,49 já nos avisava que a promessa de Deus Pai seria cumprida e que nós deveríamos ser obedientes e esperar o tempo de Deus e seríamos revestidos da força do alto. E assim revestidos por ela, mesmo nas nossas dificuldades e limitações, podemos auto transcender, sair de nós mesmos e servirmos a Deus nos irmãos, combatendo assim o vazio existencial.