A realidade educacional pós-pandemia

Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves – Professor e Teólogo

Diante de uma realidade dura e atroz, observamos que a educação passa por grandes transformações. Na atual situação pandêmica é preciso refletir sobre a condição educacional que crianças, jovens e adultos estão passando. Vivemos a realidade da pandemia da COVD-19 que fez milhares de vítimas. Infelizmente as vidas se tornaram mercadorias; o ser humano é descartável diante do capitalismo que consome tudo e todos.

No dia 15 de outubro de 2020, o Papa Francisco lançou o Pacto Educativo Global, propondo ao mundo todo uma aliança em prol de uma educação de qualidade. O próprio Papa revela que quando idealizou este novo projeto, nunca foi algo que se pudesse imaginar viver uma situação como a da Covid-19. O coronavírus acentuou a desigualdade social e a escassez de oportunidades educacionais e tecnológicas, a ponto de constituir-se uma verdadeira “catástrofe educativa”.

O termo catástrofe, para alguns pode ressoar como exagerado, mas não é. A vida se tornou um bem de consumo, principalmente na realidade capitalista que só visa o lucro e descuida dos direitos inerentes a vida humana.  Diante de um grave problema sanitário, parece que nos habituamos com as mortes noticiadas diariamente.

Infelizmente, o distanciamento social foi agravado com a pandemia, aumentando o número de pobres, a esse contexto somasse um grandioso problema social: a evasão escolar,obrigando milhares de crianças, jovens e adultos a abandonarem os estudos. Tal conjuntura comprometeu, ainda mais, o desenvolvimento integral do ser humano e, consequentemente, afetou também o seu desenvolvimento intelectual,seu compromisso e ação social.

Esse cenário compromete o desenvolvimento integral do ser humano, minando a possibilidade de acender um individuo ético, coerente e comprometido. Sendo assim a construção de uma sociedade mais igualitária só será possível quando diminuirmos o distanciamento das classes sociais, além de fomentar na sociedade uma construção de sujeitos éticos e aprimorar o conceito de responsabilidade como sendo um valor social em comprometimento com os menos favorecidos. Entretanto, essa realidade só será revertida quando tivermosum ensino de qualidade para todos e maior interação entre os agentes sociais.

Sendo assim, políticas públicas e maior empenho dos governantes em proporcionar uma educação de qualidade, transformará nossa sociedade fazendo com que nossas crianças, jovens e adultos sejam protagonistas de suas vidas, comprometidos com suas escolhas e profissões.

Papa Francisco, aos 15 de outubro de 2020, idealiza um procedimento para uma renovação do processo formativo, para que, diante dos sinais dos tempos, seja possível responder aos desafios e situações críticas relativas ao mundo em que vivemos. Assim, como afirma o Papa Francisco, a educação“é um dos caminhos mais eficazes para humanizar o mundo e a história”.

Francisco acrescenta ao seu discurso a relação amorosa e comprometida com a educação que todos devemos ter: “A educação é, sobretudo, uma questão de amor e responsabilidade que se transmite, ao longo do tempo, de geração em geração. Por conseguinte, a educação apresenta-se como o antídoto natural à cultura individualista.”

Por isso, ao se falar de um pacto Educativo Global Francisco tem em mente um plano “para e com as gerações jovens, que empenhe as famílias, as comunidades, as escolas e as universidades, as instituições, as religiões, os governantes, a humanidade inteira na formação de pessoas maduras”.

Para tanto, se faz necessário trazer para o debateos pontos concretos para a execução desse Pacto Educativo Global que compreende diversas realidades: 1. Colocar a pessoa no centro de cada processo educativo; 2. Ouvir a voz das crianças, adolescentes e jovens a quem transmitimos valores e conhecimentos; 3. Favorecer a plena participação das meninas e adolescentes na instrução; 4. Ver na família o primeiro e indispensável sujeito educador; 5. Educar e educarmo-nos para o acolhimento, abrindo-nos aos mais vulneráveis e marginalizados; 6. Encontrar outras formas de compreender a economia, a política, o crescimento e o progresso.

Só é possível atingir tais objetivos se houver uma mudança considerável no pensamento de nossos governantes e refletir sobre a construção de uma sociedade justa que se preocupa com o bem comum e com a Educação Integral sendo aquela que entende que a educação deve garantir o desenvolvimento dos sujeitos em todas as suas dimensões: intelectual, física, emocional, social e cultural. Mas não somente isso, também deve promover e construir uma sociedade comunicativa e, de forma coletiva, dialogar com todas as faixas etárias além de corroborar com a comunidade local.

Assim, o Papa Francisco incentiva que todos participem desta realidade e colaborem para o desenvolvimento integral de todos “queremos empenhar-nos corajosamente a dar vida, nos nossos países de origem, a um projeto educativo, investindo as nossas melhores energias e também iniciando processos criativos e transformadores em colaboração com a sociedade civil.” Neste processo, Francisco assinala a Doutrina Social da Igreja como referência, e que é na prática e na colaboração de todos que é possível refletir sobre as grandes transformações.

Para que isso seja possível a Educação Integral deve ser assumida por todos e por todas, principalmente com o foco no processo formativo de crianças, jovens e adultos. Tudo isso deve ocorrer em uma grande sintonia para colaborar nos processos de aprendizagens que atuam dentro e fora da escola, nas casas e em todos os locais, colaborando assim na formação integral do ser humano.

⁠é preciso ter esperança, entretanto, aqui faço menção ao grande educador Paulo Freire, com o termo “esperançar”. Para Freire “É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo.”

Destarte, para ser possível ver uma sociedade ética e comprometida devemos manter esta esperança, como também nos apresentou Dom Helder Câmara: “Deixa-me acender cem vezes, mil vezes, um milhão de vezes de esperança que ventos perversos e fortes teimam em apagar. Que grande e bela profissão: acendedor de esperança”.

Por fim, é preciso fazer ressoar as palavras de Paulo Freire em consonância com o desejo de Dom Helder, ecoando os pedidos de Francisco “é tempo de olhar em frente com coragem e esperança. Que, para isso, nos sustente a convicção de que habita na educação a semente da esperança: uma esperança de paz e justiça; uma esperança de beleza, de bondade; uma esperança de harmonia social!”

https://www.youtube.com/watch?v=Ok3YJqJ3kjw

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