Festa do Divino Espírito Santo, patrimônio do povo Sanjoanense
Jorge Renato Amaral, Provedor das Veneráveis Irmandades de São João Batista, Santíssimo Sacramento e Sr. dos Passos
Século XIII
Portugal, Paço real da Vila de Alenquer, ano de 1292 da era cristã, era solenidade de Pentecostes, a mui digna Rainha Santa Isabel e seu esposo o Rei Dom Dinis convocava o clero, a nobreza e o povo para tomarem parte das solenidades religiosas realizadas na inauguração de uma Capela dedicada ao Espírito Santo, a que chamaram de Império. Desse modo, de todos os pobres assistentes aos ofícios religiosos, realizados na capela real, convidou-se o mais pobre para ocupar o dossel da capela-mor, o lugar do rei, o qual lhe serviu de pajens os mais altos dignitários do rei.
O pobre, então, ajoelhou-se, o bispo lhe colocou sobre a cabeça a coroa real, enquanto, entoava o hino “Veni Creator Spiritus”. Assim investido das insígnias reais, o pobre assistiu à celebração da missa. Em seguida, o pobre se dirigiu ao paço real, onde lhe foi oferecido um grande jantar, servido pela rainha.
Esta tocante solenidade encontrou eco entre os nobres da corte, que desejosos de seguirem o exemplo da caridosa Rainha, a quiseram por em prática. Com a autorização do monarca, mandaram fazer coroas semelhantes à coroa do rei. No dia de Pentecostes, então, passaram a fazer cerimônias idênticas à realizada no paço real. Foram essas coroas que os donatários das Ilhas dos Açores trouxeram para o arquipélago, onde, no dia de Pentecostes passaram a usar o mesmo cerimonial, iniciado na corte de D. Dinis e Dona Isabel.
Século XVI
No Brasil, os primeiros colonizadores portugueses querendo imitar o gesto da rainha Santa Isabel, trazem a festa para a nova colônia, que se espalha rapidamente por diversas regiões do novo mundo.
Século XVIII
Brasil, Vila de São João da Barra, ano de 1775 da era cristã, chegam da Ilha dos Açores, Portugal, quatro açoreanos conhecidos como: Francisco Antônio, José dos Ramos, João Rodrigues e outro com apelido de Baralha. Fixam na Igreja Matriz de São João Batista em comum acordo com o vigário paroquial, a Festa do Divino Espírito Santo, seguindo então os ritos e costumes próprios realizados em Portugal. Tendo como primeiro Imperador da nova festa, Manoel Antunes Moreira.
Século XIX
Apogeu e transformações: durante todo o século a festa florescia em terra fértil, ganhou importância e destaque entre a sociedade sanjoanense, muitos foram os sorteados para ser o Imperador do Divino, muito concorridas foram as festas deste século. Nesta época o Imperador deveria ser um irmão da Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento e Senhor dos Passos, que era escolhido através de sorteio. No final deste século a figura do Imperador começa a perder destaque, surgindo uma nova figura: a Imperatriz, representando a Senhora Rainha de Portugal, Santa Isabel.
Século XX
Com a mudança do principal protagonista da festa, o Imperador passa a ser uma espécie de “pajem de estoque”, acompanhando a Imperatriz nos cortejos solenes. A partir de então, passou a ser sorteados festeiros que ainda deveriam pertencer a Irmandade do Santíssimo Sacramento e Senhor dos Passos. Eles, automaticamente, escolhiam uma menina e um menino da família para servir de Imperatriz e Pajem. Nessa fase, a festa entrou em declínio, ficando interrompida por mais de trinta anos.
Segunda metade do século XX
Primeiro de Abril de 1983, Sexta-Feira da Paixão. A Senhora Lorena Bomgosto, por inspiração Divina, decidiu resgatar a antiga festa do Divino. Nesse momento, reuniu um grupo de Senhoras que contaram com o apoio do Senhor Denilson Cunha, esposo da Senhora Lorena e provedor da Irmandade do Santíssimo Sacramento na época, e do mui digno Pároco da Paróquia de São João Batista o Reverendíssimo Padre José Eduardo Pereira. Decidiram então, criar uma Comissão, a fim de realizar, no mesmo ano, a festa do Divino. Para o retorno, foram escolhidos como Imperatriz a Senhorita Terezinha Alvarenga e como Imperador Leandro Raposo. Para o próximo ano então, passou a ter o sorteio para a escolha do novo casal de Imperatriz e Imperador como acontecia em outrora.
Século XXI
A festa religiosa entra este século com status cultural, pela importância histórica. Nesta nova era a festa vê o seu fortalecimento. Novos eventos foram incorporados, bem como: novenas, levantamento do mastro na praça da Matriz, passeios ciclísticos, almoços, folias e vigílias. Também foram mantidas tradições herdadas dos açoreanos: cortejos, missas solenes, tronos imperiais montados na Igreja Matriz e na casa do casal sorteado. Vale ressaltar a importância da tradicional marcha do Divino que é executada nas entronizações da custódia do Divino.