Igreja ajudando preservar tradição cultural e religiosa em Campos dos Goytacazes
Campos dos Goytacazes (RJ), terra de tradições religiosas e culturais. No ano que a Diocese de Campos completa seu centenário é o momento propício a um olhar do papel da igreja na preservação dos bens culturais. A Cavalhada de Santo Amaro é um dos espetáculos com três séculos traduz no diálogo e encontro entre fé e cultura que se abraçam.
Ricardo Gomes – Diocese de Campos
Nas comemorações do Centenário da Diocese de Campos a cidade de Campos dos Goytacazes é uma terra que preserva a patrimônio cultural nas diversas comunidades. A Festa de Santo Amaro é uma das mais antigas e mantêm a devoção do santo de origem italiana, devoção trazida pelos monges beneditinos desde 1733 com a construção da igreja na Baixada Campista.
Uma festa que tem na Cavalhada um dos principais espetáculos que une a fé e cultura em diálogo. Nesta segunda feira (27/06) às 19h a equipe que apresenta o espetáculo no dia 15 de janeiro participa de uma missa em ação de graças presidida pelo Reitor do Santuário de Santo Amaro, Pe. Liomar dos Santos. Além dos componentes e familiares a Comissão organizadora receberá as bênçãos do sacerdote já preparando para em 2023 o espetáculo voltar a acontecer na arena da praça local.
A cavalhada é um folguedo que acontece em Campos dos Goytacazes desde 1730 no Solar do Colégio, dos jesuítas por ocasião da visita do Procurador da República, Dr Manoel da Costa Mimoso. Em Santo Amaro acontece no inicio da construção da igreja no Distrito Campista. Uma tradição que une famílias que despertam para a tradição cultural mantida pelas gerações.
Alegria e emoção. Miguel Henriques recorda sua participação desde a juventude e atualmente deixa a herança cultural para o filho Wellington Luís que assumiu seu lugar no espetáculo, mas continua na Comissão Organizadora junto a Joel Rita da Costa e Fernando Teles. E se emociona por ter na família o legado cultural e de fé.
– Como não me alegrar por ter o meu filho continuando essa tradição que recebi de meus antepassados. Mas mesmo sem estar no espetáculo continuo ajudando a preservar essa tradição. Hoje é uma emoção em saber que a nossa cavalhada nunca acabará e ver jovens lutando por essa herança que temos e um espetáculo de beleza. – conta Miguel.
Tradição familiar a Cavalhada de Santo Amaro guarda em sua história a presença e envolvimento das famílias desde a preparação até o dia do espetáculo. Detalhes que observa a escritora Gisele Gonçalves autora do livro Cavalhada de Santo Amaro – Uma tradição da Baixada Campista.
– Além dos cavaleiros, a cavalhada conta com a participação de várias pessoas da comunidade, como por exemplo, as que confeccionam as vestes. Por isso, não tem como deixar de falar da rainha da Cavalhada de Santo Amaro, conhecida como Dona Conceição. Ela por anos convencionou as vestes com muito primor. O trabalho com as vestes preserva uma riqueza de detalhes no qual emergem tradições muito peculiares da nossa Baixada Campista. – destaca Gisele Gonçalves.
– Fazendo parte da festa, uma tradição viva e sempre atraente é a Cavalhada de Santo Amaro. Expressa por um lado a arte eqüestre e a representação lúdica e simbólica de um passado heróico, inspirado na defesa da fé e da liberdade religiosa dos cristãos. Hoje outro contexto a necessidade de dialogo civilizatorio entre culturas, a mística e a importância dos valores da cavalaria como ideal de serviço a Deus e a Igreja e a beleza da perícia da montaria e nas evoluções das diversas tarefas e habilidades. Mostra um trabalho comunitário e de várias gerações e da integração humana e social. – destaca Dom Roberto Francisco.
– A Cavalhada de Santo Amaro é muito mais do que uma manifestação cultural que representa o povo da Baixada Campista, a memória coletiva, a cultura que se expressa nos detalhes, desde as vestes até o adestramento dos animais. É um legado passado de pai para filho, que se manifesta no dia a dia dos cavaleiros, das artesãs, das famílias envolvidas. – afirma Gisele Gonçalves.
Esta manifestação cultura perpassa os séculos e de forma dinâmica se recria e se fortalece. A pesquisa sobre a Cavalhada possibilitou a Gisele Gonçalves conhecer a manifestação que tem de ir para além do dia 15 de janeiro.
– Foi uma grande honra poder deixar um livro sobre esta manifestação única, tanto para o Município de Campos dos Goytacazes, quanto para o Estado do Rio de Janeiro. – destaca.
Mas a emoção vai além da representação do espetáculo para as emoções durante toda a preparação que envolve famílias que juntas ajudam na construção da memória social e coletiva. E um legado familiar que se perpetua pelos séculos.