O CUIDADO DOS FILHOS E A PREVENÇÃO AO SUICÍDIO
Pe. Lício de Araújo Vae – Diocese de São Miguel Paulista (SP)
Ao gerar ou adotar um filho, nasce para os pais não somente o dever de alimentá-lo, mas também de cuidá-lo, ou seja, dar atenção e companhia a ele. O abandono afetivo é o descumprimento desses deveres, pois o cuidado é essencial para o desenvolvimento psicológico, social e até mesmo físico das crianças e adolescentes.
É preciso acolher para proporcionar o sentimento de pertencimento.
Para que o sentimento de pertencer seja construído é necessário afeto, planejamento, escuta, diálogo e o exercício da empatia.
A presença e a convivência dos pais são de extrema importância para a educação e formação dos filhos, sobretudo para a construção da identidade da criança. O abandono afetivo pode causar consequências sérias, como comportamento agressivo, falta de interesse pelas atividades escolares, sintomas de depressão ou transtornos psicológicos, que são fatores de risco para suicído em crianças e adolescentes.
A família é importante para a pessoa e para a sociedade; é no âmbito familiar que o ser humano recebe as primeiras noções do bem e da verdade, aprende a amar e ser amado e compreende o significado de ser pessoa. Em contrapartida, sem famílias fortes na comunhão e estáveis no seu compromisso, os povos se debilitam; é na família que se aprende as responsabilidades sociais e a solidariedade (CIC, nº 2224).
A família tem uma grande incidência no desenvolvimento emocional e social de todo indivíduo. Os que vivem sem família conhecem dificuldades quase insuperáveis ao longo de sua existência. É esse laço familiar que modela a maneira de pensar, de tomar decisões, a forma de nos comportar e até a perspectiva de vida. Os filhos se sentem amorosamente entrelaçados no amor dos pais, e esse ambiente os define como pessoa. Por isso, a importância da família em seu desenvolvimento.
É no seio da família que a criança conhece regras de convivência e se prepara emocionalmente para as adversidades do mundo exterior. Nesse longo processo de aprendizado, há todo um esforço em cuidar, amparar, acolher os filhos para que se sintam seguros quando chegar a hora de deixar o “ninho”.
A juventude é uma fase de desenvolvimento humano, é um período de mudanças que ocorrem sobretudo por causa das alterações hormonais no organismo. É um tempo de travessia da infância para a vida adulta e, por isso, um tempo de conflitos, de descobertas, de desafios e de busca da identidade pessoal. É um momento de grandes transformações.
O jovem necessita contar com o apoio da família nesse momento tão decisivo em sua vida. Sem esse apoio, a existência torna-se um momento de sofrimento e exaustão emocional. A família terá como missão nessa fase guiar seu filho ou filha por esse processo de maneira suave, buscando um equilíbrio, pois nem sempre é fácil impor suas opiniões, se omitindo e sendo negligente.
Como proteger e prevenir?
Os vínculos são uma das principais chaves para prevenir inclinações suicidas entre crianças e adolescentes. O apoio familiar é essencial, assim como as relações sociais, em festas, na família, na escola, nos esportes, etc. Incentivar a criança ou adolescente a acreditar em si mesmo, estar aberto a ouvi-lo e a compartilhar experiências, aprendizados e orientações também é primordial.
Não existem receitas prontas para lidar com esse momento. A família colabora com o cuidado dos jovens quando os ouve e não desqualifica suas emoções, quando é capaz de estar afetivamente próximo deles, quando é capaz de acolher suas dores e suas rebeldias (entendidas como fase normal do processo de adolescer) e quando lhes impõem limites.
Comunicação e confiança são palavras-chave: saber analisar a situação, incentivar e encorajar o jovem a trocar ideias, a falar sobre seus conflitos e, novamente, estar aberto a ouvir sem julgamentos ou repressões, é papel do adulto responsável, lidando com o sofrimento daquela pessoa e com suas questões com seriedade, sensibilidade e respeito.
Os estudos da Psicologia e da Suicidologia mostram que uma família com uma estrutura funcional sólida e bem delineada atravessa melhor essa fase de turbulência – um fator de proteção para o suicídio entre adolescentes e jovens.
O cuidado dos jovens inclui a importância do autoconhecimento para a construção da identidade pessoal e também a possibilidade de ensinar a amar e ser amado. Aquele que ama verdadeiramente a si mesmo e às pessoas ao seu redor desenvolve qualidades como: humildade, bondade, generosidade, compaixão, entrega, partilha, verdadeiro interesse pelo outro.
A família cuida dos jovens quando os ensina que o amor é um dom supremo; ele abraça, integra, acolhe, corrige, perdoa, é gentil e amigável. É paciente, alegre, sorridente, positivo, amigo, companheiro, fraterno.
A juventude é também um período de crise para a família: muitas vezes há falta de diálogo, de escuta atenta, de compreensão do desenvolvimento dos filhos, mas é certo que quanto mais os pais forem abertos para que esses conflitos e contestações sejam vividos no âmbito familiar, mais a família estará colaborando para o amadurecimento do adolescente ou do jovem.
Além disso, é importante lembrar que os pais também passam por dificuldades, pois as expectativas que tinham em relação aos filhos se frustram, há aumento das preocupações, dos riscos, dos erros, dos medos, o que gera insegurança: “Será que eu fiz a coisa certa? ”. Em resumo, a crise dos jovens com sua família é uma boa oportunidade para redescobrir novas formas de relacionamento familiar e o ideal é que esse processo seja saudável para todos.