O LEGADO DE UM PAPA DO FIM DO MUNDO

Pe. Thiago Linhares

Foram 12 anos, 1 mês e 8 dias de um pontificado marcado pelo convite à alegria cristã, ao dinamismo da proximidade, ao cuidado da casa comum e ao anúncio do genuíno evangelho,  que tem como destinatários principais os pobres. Em seu primeiro discurso, da Bancada da grande Basílica de São Pedro, o novo Pontífice Romano que por primeiro escolheu o nome Francisco, disse que fora chamado pelos cardeais desde o “o fim do mundo”. E ao longo de seu pontificado não hesitou em convidar a Igreja a ir até lá, aos ambientes, geográficos e humanos mais extremos, que os quais chamou de periferias existenciais.

Sem dúvida foi um papa reformador, e como já de se esperar, agradou e desagradou. Foi alvo de incompreensões e críticas, principalmente por parte daqueles que por causa de sua rigidez religiosa, enxergavam a Igreja como uma fortaleza cheia normas, e não um hospital de campanha, uma casa para todos, como Francisco muitas vezes afirmava. Com muita coragem enfrentou problemas seríssimos dentro da Igreja como o abuso de menores, criando leis mais rígidas e punições severas. Lidou com o abuso de poder, com a corrupção financeira dentro do Banco do Vaticano, reformou a Cúria Romana, quis uma Igreja onde as mulheres tivessem mais participação nas decisões, e assim o fez, afirmando que uma Igreja que deseja ser autoreferencial trai sua própria essência.

Papa Francisco deixou documentos oficiais que são verdadeiras joias pastorais que, podemos dizer assim, apenas começaram seus efeitos práticos. A Evangelli Gaudium (2013) foi um chamado à evangelização com alegria, ousadia e misericórdia. Sobre a família, escreveu a Amoris Laetitia (2016), abordando temas como casamento, educação dos filhos e problemas pastorais atuais. Quis mostrar que a santidade é o rosto mais bonito da Igreja, publicando a Gaudete et Exultate (2018). Como resultado do Sínodo dos Jovens escreveu a Christus Vivit (2019), Pedindo mais abertura e acolhida à juventude na Igreja. Preocupado com a Igreja na Amazônia, um daqueles lugares chamados de periferias existenciais, o papa escreveu Querida Amazôni (2020), e no 150º Aniversário de Nascimento de Santa Terezinha escreve C’est la Confiance (2023), falando sobre a confiança, o abando e o mor gratuito.

Seu legado escrito explicita sua vontade para Igreja que o Senhor, pelas mãos dos cardeais, lhe confiou para guiar naquele dia 13 de março de 2013. Naquele mesmo ano promulgou a Lumem Fidei, a encíclica escrita a 4 mãos, como foi chamada, já que boa parte foi escrita por Bento XVI. Em 2015 entregou à Igreja a Laudato Si, uma reflexão sobre a crise ecológica à luz do Evangelho e em 2020, Francisco convoca à solidariedade e ao amor universal, com a Fratelli Tutti, como um ajuda em tempos de polarização.

Francisco parte como um Homem de Esperança! Ele foi sobretudo um peregrino da esperança. Fez 47 viagens apostólicas, visitando 66 países ao redor do mundo. Esteve em lugares em que se precisava falar da esperança e da misericórdia: Lampeduza (2013), Lesbos (2016), República Centro-Africana (2015) onde abriu a Porta Santa da Misericórdia  em um país de conflito, foi ao Iraque (2021), e uma de suas últimas viagens visitou Timor-leste, Indonésia, Papua-NovaGuiné e Singapura (2024), reforçando a presença da Igreja em regiões com minorias católicas.

Nestes últimos tempos o “Trono de Pedro” foi uma cadeira de rodas e seu discurso mais longo a enfermidade enfrentada com resignação e bom humor. Hoje o mundo perdeu uma voz profética, e a Igreja escreveu no rol de seus Pontífices um Papa que convidou-a à Alegria do Evangelho.

Obrigado por tudo, Santo Padre!

Padre Thiago Zacarias Linhares 

Diocese de Campos/RJ

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