A Alegria do Retorno

Pe. Marcos Paulo Pinalli da Costa –  Diocese de Campos – RJ.

“Hoje à noite adquirimos um direito fundamental que nunca pode ser tirado de nós:
o direito à esperança”, (…) “à medida que os dias passam e os medos crescem, até a mais ousada esperança pode se dissipar”. (Papa Francisco, 11/04/2020 – Sábado Santo)

Esta mensagem do Papa Francisco na Vigília Pascal deste ano está muito viva e atual. Aliás, o Santo Padre é muito realista ao se referir a este tempo de Pandemia e isolamento social. De um lado a esperança de que tudo vai passar e do outro o medo e os desafios. Em nossa Diocese de Campos, o município de São João da Barra, por Decreto da Prefeita será o pioneiro a receber os fiéis tanto nas missas, como também nos cultos evangélicos ou de outras denominações religiosas. Vivemos a alegria do retorno.

Pudemos testemunhar uma histórica Live intitulada “Comportamento e Pandemia”, promovendo de certa forma um encontro inter-religioso mediado pela Prefeita Carla Machado tendo a participação do nosso Bispo Diocesano Dom Roberto Francisco, a Pastora Waleria Olyver, Presidente do Conselho de Pastores de São João da Barra, Lúcia Almeida, representante da Casa Espírita Cristã Joanna de Angelis e Samia Damas, Coordenadora da Vigilância Sanitária Municipal, que se recupera do Covid-19. Todos muito sensatos em suas ponderações esclarecedoras de como proceder neste retorno às atividades espirituais, com as devidas adaptações. Da parte do governo o respeito à liberdade litúrgica individual e de culto, conforme a orientação de cada credo. 

Eu sempre questionei o fato de não ser considerado o “serviço” religioso como atividade essencial enquanto outros departamentos eram liberados com regras sanitárias a serem observadas. O homem na sua integridade é composto de corpo e alma, ambos necessitam de cuidados. A espiritualidade sustenta e eleva a alma, mas para isto é essencial a assistência religiosa. Neste sentido, tivemos a sensação que, a prática da fé fora reduzida quando comparada com atividades econômicas. Muitos questionavam que o poder ir ao mercado, mas não na Igreja. Este tempo em casa foi para nos amadurecer e nos preparar para os próximos passos num mundo diferente ao que até então conhecíamos. 
Não pode haver inimizade entre o poder público e a Igreja, ambos defendemos a vida, queremos voltar à “normalidade”. Não se trata de um acordo entre estes dois poderes, mas diálogo mutua compreensão e colaboração. A Igreja continua sua missão, de forma menos limitada e agora acolhendo no espaço físico do templo um pequeno grupo de fiéis. Por ser uma Instituição de Direito Divino, tem como objetivo principal, a “salus animarum”, que significa “a salvação das almas”. Isto posto, graças ao anúncio do Evangelho e à celebração da Santíssima Eucaristia.

Ainda assim, agradeço a Deus por não ter sido imposto a nós a proibição de transmitir as missas em nome do Estado Laico. Infelizmente há uma controvérsia no uso do termo “Estado Laico” com a finalidade de desconstruir e diminuir da história a cultura da civilização cristã em vários países, inclusive aqui no Brasil. Praticamente uma das últimas atividades a ser liberada será a religiosa. Acredito que poucos são os lugares que, como aqui, onde representantes religiosos e poder executivo municipal, mesmo em meio à Pandemia possibilitam a volta gradual das missas e cultos, ainda que, com riscos, mas muita responsabilidade num cenário que muda a todo instante. 
Que tenhamos uma experiência positiva, sejamos modelo e inspiração para lugares que têm a mesma dificuldade. A independência entre Igreja e Estado favorece a ambos, quando num tempo de aflição como este é cobrado de nós ações que respondam aos anseios do nosso rebanho, cidadãos com necessidades físicas e espirituais a serem superadas. 

Aproveito para agradecer e parabenizar a Prefeita Carla Machado e toda a sua equipe de trabalho pela ousadia e coragem nesta atitude singular, também Dom Roberto Francisco, nosso Bispo Diocesano e referencial da Pastoral da Saúde no Brasil pela postura tomada não só na Live ao dizer que “A Eucaristia é inegociável”, ou seja, continuaríamos a ter missa sem a participação dos fiéis se tentassem nos impedir de distribuir a Eucaristia na missa ou nas celebrações, bem como aceitar esta nova situação com seus desafios e dúvidas que virão. Entendendo que tudo é novo para nós Igreja e para o Estado, com informações e opiniões diferentes, mudando conforme o vento. Cabe aqui um provérbio cuja autoria desconheço: “O tempo é a melhor resposta” (ou o melhor remédio).

Graças a Deus nosso bispo diocesano como autoridade competente tem nos orientado, sendo sua a última palavra. Isto nos assegura não dar passos errados. Nunca estivemos como ovelhas sem Pastor. Excelente a orientação litúrgico-pastoral da CNBB datada de 21 de maio de 2020 a ser por nós seguida, mas para isto precisaremos nas várias Comunidades Eclesiais de uma equipe voluntária que dê suporte para acolhermos nossos irmãos e irmãs. 
Tanto esperamos este dia que veio para nós juntamente com o aniversário de 170 anos do município de São João da Barra-RJ. Um presente que sonhamos e ganhamos, no entanto, devemos ter cuidado para não quebrá-lo. Um valioso e frágil presente. Não podendo ser transformado em “presentes” como o Cavalo de Tróia, ou ainda, na mitologia grega a “Caixa de Pandora”, cujo significado é “uma caixa onde os deuses colocaram todas as desgraças do mundo, entre as quais a guerra, a discórdia, as doenças do corpo e da alma. Contudo, nela havia um único dom: a esperança.”. (1) 
Para que este presente nos faça bem, não vamos abandonar a frase “#Ficaemcasa!”, especialmente aos que pertencem ao grupo de risco. Nem todos poderão participar conosco e talvez, por um tempo ainda maior. Aos senhores peço a compreensão. A pressa neste momento só servirá para recuarmos a cada passo dado. Aos que voltarão a frequentar a missa sugiro outra frase, porém mais longa: “#FielcombinacomMáscaraeÁlcoolemGel”. 
Este presente não é a abertura da Igreja como muitos publicaram, até porque não foram fechadas por força da Lei, mas a participação de alguns fiéis (30% conforme a capacidade do Templo) nas celebrações é uma nova conquista. Os setenta por cento que não puderem ou optarem por não participar das missas ou celebrações com a presença dos fiéis não estão incorrendo em pecado enquanto durar a Pandemia. Não subestimem a Comunhão Espiritual, acompanhem nossas transmissões, viva a fé em casa.

(1) DIANA, Daniela, Professora, Professora Daniela Diana. Caixa de Pandora. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/caixa-de-pandora/. Acesso aos 16 de junho de 2020.

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