A cultura da indiferença e do descarte
Neste domingo (29/09), o Senhor Jesus nos apresenta a parábola do pobre Lázaro e do rico Epulão. Constitui um verdadeiro exame de consciência, afirmava o Papa São João Paulo II, na sua visita aos EEUU, no Boston College, aplicável tanto às relações interpessoais como às internacionais, entre pobres e ricos, ou entre nações desenvolvidas e abastadas e nações à margem do progresso.
O rico Epulão (alguns manuscritos trazem este nome, que significa aquele que se banqueteava) foi julgado, não por ter bens e fazer festas, mas pela sua insensibilidade e indiferença que o tornava incapaz de ver quem estava na porta sedento e faminto. Hoje, nos deparamos, nas grandes cidades, com a invisibilidade das pessoas, seja do povo em situação de rua ou outras situações extremas de carência.
A consciência se torna embotada e habituada a naturalizar a fome e a miséria de seres humanos destinados ao descarte e à morte. Um cristão não pode deixar endurecer o seu coração e muito menos ficar com olhos frios, sem expressão, ao deparar-se com o drama de irmãos (ãs) que ficaram à margem da vida, na sarjeta.
O que chama à atenção nesta parábola, justamente, é que o Deus da Vida revelado por Jesus Cristo se importa, sim, com a situação de sofrimento desumano das pessoas, e nos cobrará por isso. Fica bem claro que nos deixou a sua Palavra para converter-nos e que seremos, como dizia São João da Cruz, no entardecer de nossa vida, julgados pelo amor.
Não permitamos que o individualismo e o isolamento complacente, tome conta da nossa sociedade e pulverize os laços e sentimentos de altruísmo e generosidade cristã. Peçamos ao Bom Pastor compassivo, que nos dê um olhar solidário e fraterno e mãos disponíveis e prontas para amparar e socorrer as multidões de Lázaros, dignificando-os e promovendo-os integralmente, para quebrar os muros da indiferença, insensibilidade, e do egoísmo. Deus seja louvado!
+ Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)