A cultura do perdão e amor ao inimigo

 

         A cultura do perdão e amor ao inimigo

                    O Evangelho, deste domingo, pertencente a São Lucas, vai ao cerne e o coração da proposta cristã: vencer o ódio, a raiva e a retaliação com o perdão e o amor ao inimigo. De fato, quantos relacionamentos foram curados, amizades resgatadas, matrimônios salvos pelo perdão e a reconciliação, sem esquecer que a própria santidade, como afirma claramente Jesus, tem como padrão imitar a misericórdia e a generosidade do Pai.

              Mas, esta mensagem, tão desafiadora, tem um poder transformador para a sociedade e a convivência política gerando cultura de paz e de concórdia. Uma das grandes inspiradoras da filosofia política do perdão, junto aos conhecidos Francisco de Assis, Ghandi, Lança del Vasto, Martin Luther King, é Hannah Arendt, que defende o perdão como grande virtude política.

               Ela, no entanto, vai mais longe; primeiro, o perdão revela um coração esperançoso e desarmado; segundo, assume riscos e convida o outro a participar do encontro; terceiro, redefine a biografia e a história com narrativas significativas e, finalmente, inicia relacionamentos novos e fraternos. Apostar na reação e na exemplaridade do castigo pode dar resultados, mas não cura a convivência nem trás paz duradoura.

                 Quando consentimos adentrar na espiral da violência com a lógica do dente por dente e olho por olho, ficaremos todos cegos, ou banguelas, como frisava Ghandi com muita propriedade. A revolução do perdão e do amor ao inimigo, iniciada e promovida por Cristo, foi capaz de tecer e construir valiosas tréguas, alianças, pactos de amizade, aproximação e reconciliação entre rivais e partes em conflito.

            Às vezes, esquecemos que a palavra paz vem do latim pangere, pactuar, e que para obtê-la devemos substituir o velho adágio latino civis pacem para bellum ( se queres paz prepara-te para a guerra ) pelo pensamento de São João Paulo II: se queres paz prepara-te para a paz.

        O Papa Francisco conseguiu frutos inestimáveis com a sua dinâmica pacificadora: encontro, diálogo e acordo, aproximando Cuba e os EEUU, Israel e a Autoridade Palestina, Colômbia e as FARC. A justiça do Reino é restaurativa, confia nas pessoas, se volta com esperança para o futuro e muda o olhar e o coração. Nunca nos cansemos de amar e perdoar, a grande medida é vezes sete, ou seja, sempre. Deus seja louvado!

+Dom Roberto Francisco Ferreria Paz

Bispo Diocesano de campos

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