A “irmã morte é fonte de vida eterna”, diz Cantalamessa na pregação do Advento
“Ver a vida do ponto de observação da morte dá uma ajuda extraordinária para viver bem”, diz Frei Cantalamessa na primeira meditação para a Curia Romana.
Cidade do Vaticano Gaudium Press) Na sexta-feira, 04/12, foi realizada a primeiras das meditações realizadas pelo pregador da Casa Pontifícia, o agora Cardeal Raniero Cantalamessa.
As meditações para o tempo do Advento de 2020 serão realizadas na Sala Paulo VI e deverão contar com a presença do Papa Francisco, dos cardeais, arcebispos, bispos, prelados da Família Pontifícia, dos funcionários da Cúria Romana e do Vicariato de Roma, dos Superiores Gerais ou Procuradores das Ordens religiosas que fazem parte da Capela Pontifícia.
Uma consequência da pandemia: Toda a humanidade experimenta uma sensação de precariedade e caducidade…
O tema escolhido para este ano foi inspirado em um versículo do Salmo 90: “Ensina-nos a contar os nossos dias, para que nosso coração a sabedoria alcance”.
Frei Cantalamessa iniciou sua primeira meditação recordando o estado de espírito dos soldados nas trincheiras durante a Primeira Guerra Mundial, descrito por um poeta: “Nós ficamos como no outono, as folhas nas árvores”.
E ele, então, comparou: “Hoje é toda a humanidade que experimenta essa sensação de precariedade e caducidade por conta da pandemia. No ano marcado pelo grande e terrível ‘fato’ do coronavírus, esforcemo-nos em captar o ensinamento que daí cada um de nós pode tirar para a própria vida pessoal e espiritual”.
Verdades eternas sobre as quais devemos meditar, refletir
Neste tempo em que vivemos, disse Cantalamessa, “as verdades eternas sobre as quais queremos refletir são:
primeiro, que todos somos mortais e ‘não temos aqui cidade permanente’; segundo, que a vida do fiel não termina com a morte porque nos aguarda a vida eterna; terceiro, que não estamos sós no pequeno barco do nosso planeta, porque a ‘Palavra se fez carne e veio morar entre nós’.
A primeira dessas verdades é um objeto de experiência, as outras duas são objetos de fé e esperança, ensinou.
“Ensina-nos a contar os nossos dias, para que nosso coração a sabedoria alcance”
Após esta introdução, o Cardeal pregador anunciou o tema da reflexão do dia: “Iniciemos meditando hoje sobre a primeira destas ‘máximas eternas’: a morte”.
Então ele tratou da “perspectiva em que nos colocamos nesta meditação” de hoje:
“Da morte pode-se falar de duas maneiras diversas: ou em chave kerigmática, ou em chave sapiencial.
O primeiro modo consiste em proclamar que Cristo venceu a morte; que ela não é mais um muro contra o qual tudo se quebra, mas uma ponte rumo à vida eterna. O modo sapiencial ou existencial consiste, ao invés, em refletir sobre a realidade da morte tal como ela se apresenta à experiência humana, com o objetivo de trazer daí lições para bem viver.
Para o pregador, a chave sapiencial “é o modo em que se fala da morte no Antigo Testamento e, em particular, nos livros sapienciais:
“Ensina-nos a contar os nossos dias, para que nosso coração a sabedoria alcance”, pede a Deus o salmista (Sl 90, 12). Tal maneira de olhar a morte não termina com o Antigo Testamento, mas continua também no Evangelho de Cristo” na sua admoestação: “Vigiai, portanto, pois não sabeis o dia, nem a hora” (Mt 25, 13), na conclusão da parábola do rico que projetava construir celeiros maiores para a sua colheita:
“Insensato! Ainda nesta noite vão tomar a tua vida. E o que acumulaste, para quem será?” (Lc 12, 20).
A “irmã morte” nos ensina muito, ela tem sua escola
“No avançar da tecnologia e das conquistas da ciência, corríamos o risco de ser como aquele homem da parábola que diz para si mesmo”, comenta Cantalamessa:
“Minh’alma, tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe diverte-te!” (Lc 12,19).
A presente calamidade veio para nos recordar de que bem pouco depende do homem “projetar” e decidir o próprio futuro”. “A consideração sapiencial da morte conserva, depois de Cristo, a mesma função que tem a lei depois da vinda da graça. Também ela serve para guardar amor e a graça”.
Olhar a vida do ponto de observação da morte dá uma ajuda extraordinária para viver bem
Frei Cantalamessa sugere “Olhar a vida do ponto de observação da morte dá uma ajuda extraordinária para viver bem. Está angustiado por problemas e dificuldade? Vá à frente, coloque-se no ponto certo: olhe estas coisas do leito de morte. Como gostaria de ter agido? Qual importância daria a estas coisas? Tem uma discórdia com alguém? Olhe a coisa do leito de morte. O que gostaria de ter feito então: ter vencido, o ter se humilhado? Ter prevalecido, ou ter perdoado?”.
“Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã a Morte corporal”
Para o pregador da Casa Pontifícia, “O pensamento da morte nos impede de nos apegarmos às coisas, de fixar aqui na terra a morada do coração, esquecendo de que “não temos aqui cidade permanente”.
“A Irmã Morte é realmente uma boa irmã mais velha e uma boa pedagoga. Ensina-nos tantas coisas, se apenas soubermos escutá-la com docilidade”.
Explicando: “Tenho em mente um outro âmbito em que temos a necessidade urgente da Irmã Morte como mestra, além do campo ascético: a evangelização. O pensamento da morte é quase a única arma que nos ficou para mover-nos do torpor de uma sociedade opulenta, à qual aconteceu o mesmo que ao povo eleito libertado do Egito”.
Voltamos a ter medo da morte?
O Cardeal Cantaolamessa, em sua primeira meditação, por fim questiona:
“Mas como –perguntamos– voltamos a ter medo da morte? Jesus não veio para “libertar os que, por medo da morte, estavam a vida toda sujeitos à escravidão” (Hb 2,15)?.
Sim, mas é preciso ter conhecido este medo, para dele sermos libertados. Jesus veio para ensinar o medo da morte eterna àqueles que não conheciam além do medo da morte temporal”.
“A ‘segunda morte’, assim a chama o Apocalipse (Ap 20,6); ela é a única que merece realmente o nome de morte, porque não é uma passagem, uma Páscoa, mas um terrível terminal. É para salvar os homens desta desgraça que devemos voltar a pregar sobre a morte”.
Participar da Eucaristia é o modo mais verdadeiro, mais justo e mais eficaz de ‘nos prepararmos’ para a morte.
Cantalamessa conclui sua primeira meditação deste ano afirmando que “Instituindo a Eucaristia, Jesus antecipou a própria morte. Nós podemos fazer o mesmo.
Antes, Jesus inventou este meio para nos fazer partícipes de sua morte, para nos unir a si.
Participar da Eucaristia é o modo mais verdadeiro, mais justo e mais eficaz de ‘nos prepararmos’ para a morte. Nela, celebramos a nossa fé e a oferecemos, dia após dia, ao Pai.
Na Eucaristia, nós podemos elevar ao Pai o nosso ‘amém, sim’, ao que nos aguarda, ao gênero de morte que ele irá querer permitir para nós. Nela, nós ‘fazemos testamento’: decidimos a quem deixar a vida, por quem morrer”. (JSG)
E Frei Cantalessa anuncia o tema da reflex o do dia: “Iniciemos meditando hoje sobre a primeira destas ‘m ximas eternas’: a morte . “Da morte – continua – pode-se falar de duas maneiras diversas: ou em chave kerigm tica, ou em chave sapiencial. O primeiro modo consiste em proclamar que Cristo venceu a morte; que ela n o mais um muro contra o qual tudo se quebra, mas uma ponte rumo vida eterna. O modo sapiencial ou existencial consiste, ao inv s, em refletir sobre a realidade da morte tal como ela se apresenta experi ncia humana, com o objetivo de trazer da li es para bem viver”. Afirmando: “ a perspectiva em que nos colocamos nesta medita o”. “O questionamento acerca do sentido da vida e da morte desempenhou uma tarefa not vel na primeira evangeliza o da Europa”, ou seja, “que os homens devem morrer”. “Foi o questionamento posto pela morte que abriu caminho ao Evangelho, como uma brecha sempre aberta no cora o do homem. A recusa da morte, n o o instinto sexual, a base de toda a o humana, escreveu um conhecido psic logo contra Freud”, recorda o Cardeal.