A Páscoa de um Profeta

Ricardo Gomes

Recordo palavras de um profeta que desejou ser mártir. Ao conhecer Dom Pedro Casaldaliga no Congresso Eucarístico Nacional em Vitoria suas palavras me voltam e como um em um filme.  Recordo: “Queria ser mártir, mas Deus não quis e pude presenciar o martírio de Pe. João Bosco Bunier.”  O jesuíta foi morto no dia 15 de outubro de 1976 com um tiro na nuca por um policial militar, quando defendia duas mulheres que eram torturadas em uma delegacia de Ribeirão Cascalheira (MT). O jesuíta estava acompanhado do bispo Pedro Casaldáliga quando chegou à delegacia. Antes de ser baleado, recebeu um soco e uma coronhada do assassino. O crime teve repercussão no mundo. E um mártir que tombava defendendo a vida e a dignidade da nulher.

 Essas palavras marcaram profundamente e como negar essa dimensão da vida de Dom Casaldaliga. E anos depois pude conhecer a Prelazia de São Félix do Araguaia (MT) e visitar Dom Casaldaliga. Me recebeu na Estação Rodoviária. Simplicidade de um profeta. Pelas ruas a cada momento era obrigado a parar. Amado por aquela gente simples e sofredora, ameaçada pelos poderosos. E esse povo hoje chora a perda de um profeta. Entre abraços caminhava a passos lentos. Dom Pedro era simplesmente o Pedrão como era chamado carinhosamente por aquela gente.

E recordava as palavras em Vitória. “Queria ser mártir, mas Deus não quis”. Era preciso ser profeta para defender aquele povo sofredor. Sofrer com eles e mesmo diante de ameaças dos poderosos vivia corajosamente e nunca abaixava a cabeça diante de ameaças e a sua luta reconhecida mundialmente por sua defesa do povo do Cerrado, povos indígenas e as perseguições no tempo da Ditadura Militar. Nada o fazia desistir da luta. E as palavras seguiam do exemplo. “Quis ser mártir, mas Deus não quis.” Me volta a memória e vejo aquele homem simples no meio do povo. E me contava no caminho a casa. “ Na Igreja sou bispo, entre o povo sou irmão e companheiro. Sofro junto de meu povo e entendo que precisava continuar vivo para ser a voz deste povo e  o martírio é o martírio do povo que sofre, morre e nunca desiste.”. Agora o mártir segue na sua Páscoa para os braços do Pai no colo da Mãe Maria Santíssima. Vá em Paz Pedrão e que os anjos o acolham no festin da eternidade..Assim seja!

 

* Jornalista

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