Adeus, Papa Francisco, peregrino da esperança!

Nesta segunda-feira da oitava da Páscoa fomos surpreendidos pela triste notícia do falecimento do Papa Francisco. Surpreendidos pelo fato de ontem apesar das suas limitações, mais uma vez indo ao encontro de suas ovelhas para a tradicional bênção “Urbe et Orbe”, ou seja: “De Roma para o mundo”. Veio do “fim do mundo”, como ele mesmo se apresentou. No seu primeiro gesto se curvou diante do povo na praça São Pedro para que os fiéis rezassem por ele.

Não querendo me fazer pueril e muito menos supersticioso, mas numa reflexão pessoal, em nossa região o sol ficou tímido e escondido por nuvens que de certa forma derramaram algumas lágrimas entre nós através de uma leve chuva nesta manhã e o dia todo nublado.

Ao contrário, o amanhecer no Vaticano foi marcado com um dia ensolarado em plena primavera, a estação das flores. Em 2018, o Papa Francisco escreveu ao Presidente do museu “Barrio de Flores” em Buenos Aires por ocasião da sua inauguração: “Flores é o bairro onde nasci e vivi até entrar para o seminário. Com um pouco de petulância, posso dizer que é o meu bairro, minhas raízes”.

Quanto ao sol, no dia de hoje em Roma, que para muitos é adjetivo de um dia alegre, considero sua história na vida do Santo Padre, cujo seu brasão recorda o dos jesuítas com as letras maiúsculas IHS, significando “Jesus Salvador dos Homens. Também no centro da bandeira da Argentina possui o sol de maio, porém simbolizando a independência deste país e sua cultura pré-colombiana, com sua mitologia, mas não por este motivo foi a escolha do saudoso Papa. São Lucas escreveu sobre Jesus o sol nascente: “Graças à ternura e misericórdia de nosso Deus, que nos vai trazer do alto a visita do Sol nascente, que há de iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz.” Cf. Lc. 1, 78-79.

Num mundo individualista que banaliza questões de extrema importância como a pobreza, o aborto, o meio ambiente e atualmente, o lugar da mulher na sociedade, as guerras, as imigrações, o diálogo entre as religiões, sobretudo os orientais entre outros temas, o Papa Francisco não se calou. Também se preocupou com os jovens e os divorciados. Seu desejo foi de uma Igreja de portas abertas acolhendo e engajando a todos, isto sem discriminação. Por tais posturas o Papa foi contestado até por muitos que deveriam conservar a união com ele. Agiu sempre de sã consciência. Considero o maior reformador da disciplina eclesiástica, sem desmerecer seus antecessores após São João XXIII por ele canonizado.

Não esqueçamos que na Argentina, Bergoglio viveu a triste experiência da guerra das Malvinas em 1982, quando sua nação não conseguiu êxito morrendo em batalha cerca de 649 militares e civis, ao passo que da parte Britânica foram cerca de 255 militares.   Por isto também, em sua última mensagem pediu a paz e citou as guerras atuais e reclamando a paz. Segundo o ensinamento do Papa importa construir pontes e não muros.

Papa Francisco, sempre que pôde com ótimo humor sobre o Brasil com uma das seguintes frases: “O Brasil não tem solução é muita cachaça e pouca oração”, “Se Deus é brasileiro, o Papa é Argentino, tudo bem resolvido.”.

Enfim, neste dia nos entristece além do falecimento do Santo Padre que, nem ainda foi enterrado e a imprensa já especula informações sobre os possíveis Pontífices. Infelizmente e conscientemente comparo com uma família que ainda não enterrou o pai e já quer dividir a herança em pleno funeral. Devemos viver este tempo de luto e respeito “in memoriam.”.  

O Espírito Santo agirá no próximo conclave. Não nos preocupemos com seu sucessor. Hoje é tempo para chorar e depois para sorrir, cf. Ecles. 3,4. Não importa a nacionalidade, pois nossa igreja cujo nome é católica significa universal.  O nome Papa em italiano quer dizer pai e como aprendi na minha catequese, PAPA, significando em cada letra deste nome: “Pedro Apóstolo Príncipe dos Apóstolos.”.  

Nada melhor que sempre recorrer a Nossa Senhora e pedir para ser enterrado na Basílica de Santa Maria Maior, donde tinha o costume de visitar antes e depois de suas viagens apostólicas. Foram doze anos confirmando os irmãos na fé. Doze também o número dos apóstolos e torna-se o Papa da alegria, da misericórdia, da fraternidade humana entre religiões diferentes e da esperança. Despedimo-nos do maior peregrino da esperança. Adeus, Papa Francisco, peregrino da esperança!

Autor: Pe. Marcos Paulo Pinalli da Costa, sacerdote da Diocese de Campos-RJ.

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