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Avós: a memória viva que dá cor e sentido à família humana

Entre outras coisas, a pandemia nos fez entender e valorizar o inestimável patrimônio que recebemos dos idosos, isto é, dos nossos avós. A origem desta data tão significativa homenageia aos avós maternos de Jesus, cujos nomes conhecemos pelo Evangelho Apócrifo de Tiago e celebramos no dia 26 de julho, nos torna conscientes da sua precípua missão de serem guardiões da Aliança. Com esta expressão da tradição biblica, queremos destacar e incluir também a mediação na entrega e compreensão da cultura, como legado de valores, sentido e do profundo sabor de crenças, atitudes e coordenadas existenciais que nos guiam e orientam na vida, ajudando no discernimento e na consciência de pertencer à humanidade como uma família.

Sem eles, seríamos como uma árvore sem raízes, como pessoas com amnésia, sem identidade, sem história ou narrativas que nos situam e nos animam a continuar o aperfeiçoamento de nossa espécie e a vida com mais qualidade e plenitude. Ao mesmo tempo, devemos a eles a sabedoria e sensatez que vem da experiência, que nos torna humildes, e nos faz diminuir o ritmo frenético e por vezes de autodestruição da humanidade atual, que já inspirava a Santo Agostinho comentar: “corres muito, mas fora dos trilhos, como quem não sabe aonde vai e porque precisa ir tão ligeiro”.

O cuidado da Casa Comum está a escancarar como são necessárias as tradições benfazejas que ensinam no cotidiano o que significa a sustentabilidade, em relação à água, alimentação, saúde e a forma de trabalhar e plantar. A própria religião, no verdadeiro sentido de religar-se com Deus, para além de ritos ou símbolos, os revelam como catequistas e mestres de uma fé inabalável, que não conhece o “bricolage” religioso de quem só busca adrenalina espiritual ou conforto superficial, ou vira turista de ocasião de lugares ou serviços de auto-engano. A pandemia do coronavírus, que nos coloca diante do grande desafio de superar a mediocridade do consumismo ou da sociedade do espetáculo e do vazio, está a exigir a presença e o testemunho infaltável de nossos queridos avós. Deus seja louvado!

+Dom Roberto Francisco Ferreria Paz

Bispo Diocesano de Campos

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