Bispo de Campos e referencial da Pastoral da Saúde da CNBB fala sobre transplante de órgãos
“Nosso corpo é para salvar e pelo transplante de órgãos se transforma em uma oportunidade para salvar vidas”, afirmou Dom Roberto.
Ruan Sousa (Comunicação Diocese de Campos)
No último domingo (27/08), o apresentador Fausto Silva passou por uma cirurgia para o transplante de coração. Portador de insuficiência cardíaca, ele integrou a fila de espera por um transplante no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, entre 19 e 26 de agosto, foram realizados 13 transplantes de coração no país, sendo sete no estado de São Paulo. Faustão recebeu um coração após constatada a compatibilidade necessária para o procedimento, assim como os outros sete transplantados no estado paulista. De acordo com o Bispo de Campos e referencial da Pastoral da Saúde da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Roberto Francisco, o transplante de órgãos pode ser a única esperança de vida ou a oportunidade de um recomeço para as pessoas que precisam de doação. “Sempre a Igreja tem o princípio que a morte com dignidade. Há também a necessidade de salvar vidas através dos transplantes, talvez de outros órgãos ainda, como a pele, por exemplo, em casos de pessoas queimadas. É necessário sim, a regularização e só o poder público pode, através do SUS, que é universal e inclusivo, que a pessoa seja posicionada em uma lista como cidadão sem privilégios, mas com acesso amplo e irrestrito a todos”, afirmou Dom Roberto.
No primeiro semestre de 2023 foram realizados 206 transplantes de coração no Brasil, o que representa aumento de 16% em relação ao mesmo período do ano passado. No estado do Rio, o Programa Estadual de Transplantes realiza e ajuda na organização de toda a logística no estado. A cidade de Campos dos Goytacazes, na região norte fluminense, possui o NF Transplantes, que funciona no Hospital Ferreira Machado, a maior emergência do interior do estado. A unidade contabilizou um total de 13 doações de múltiplos órgãos, beneficiando mais de 30 pessoas. As doações efetivadas em 2022 possibilitaram que fossem realizados 12 transplantes de córnea, 12 de fígado, 8 de rins, duas peles, dois ossos e dois tendões. Segundo o psicólogo que integra a equipe do NF Transplante, Luiz Antônio Cosmelli, em grande parte dos casos as pessoas ainda não conversam sobre o assunto na família. “Nós do NF Transplante consideramos muito importante que aqueles que querem ser doadores de órgãos, possam conversar com as famílias em vida. Na hora da nossa entrevista, é essa quem autoriza. E se há uma conversa prévia desse paciente com a sua família o processo fica mais ágil, mais leve. A família obedece e acata a vontade que você expressou em vida. Se você quer ser doador, converse com a sua família e autorize”, falou o psicólogo.
Segundo o Ministério da Saúde a lista para transplantes é única e vale tanto para os pacientes do SUS quanto para os da rede privada. A lista funciona baseada em critérios técnicos, em que tipagem sanguínea, compatibilidade de peso e altura, determinam a ordem de pacientes a serem transplantados. Pacientes em estado crítico são atendidos com prioridade, em razão de sua condição clínica. Dom Roberto reafirmou que o acesso à saúde plena é um direito do cidadão. “É muito importante garantir o acesso a todos, pela saúde pública. Mas o transplante na hora H a procura é pelo SUS. A pessoa que mais necessita de atendimento, pode ter o plano de saúde, mas o SUS que organiza, então tem que ter uma lista organizada, transparente e que contemple a todos. Principalmente a vontade do doador, que chegue a quem de fato necessita”, declarou Dom Roberto.
O Catecismo da Igreja Católica ensina, antes de tudo, que a “transplantação de órgãos é conforme à lei moral, se os perigos e riscos físicos e psíquicos, em que o doador incorre, forem proporcionados ao bem que se procura em favor do destinatário” (n. 2296). No mesmo parágrafo, destaca que a doação de órgãos após a morte do doador é um “um ato nobre e meritório”, que pode e deve ser encorajado “como uma manifestação de generosa solidariedade”. “Como a doação de sangue, o corpo pertence a Deus, e nosso Deus, o filho de Deus nos entregou o seu corpo para salvarmos. Nosso corpo é para salvar e o transplante de órgãos se transforma em uma oportunidade para salvar vidas. Deve ter o consentimento da família sim. O órgão, nós precisamos salvar vidas. E garanto que a pessoa estará muito alegre com os seus familiares”, finalizou Dom Roberto.