Festas Tradicionais: Festa ao Santíssimo Salvador

Sylvia Paes

As festas tradicionais brasileiras são muitas e de diversos matizes, tantas quanto as “cores” das nossas regiões.

Temos as festas que nos remetem as tradições indígenas marcando o território da região norte, enquanto que no sul as festas que retomam as tradições europeias são predominantes, como as de tradições germânicas da colônia alemã.

Outra forte característica nacional são as festas que homenageiam os santos da igreja católica. São as Festas de Reis, do Divino, o Carnaval e o Natal, as juninas que celebram São João, São Pedro, Santo Antônio, e as festas dedicadas aos padroeiros das cidades. Tais festas remontam ao período colonial brasileiro, quando a igreja católica exercia o domínio político e religioso, isso antes mesmo da cisão e criação do protestantismo. É até comum a gente ouvir questionamentos a esse respeito – porque tantas festas de santos de uma determinada igreja se são tantas as religiões hoje espalhadas no território nacional? A resposta está na nossa história e na consolidificação das tradições.

Assim festejamos o padroeiro da nossa cidade, o Santíssimo Salvador, no dia seis de agosto, conforme narra o Novo Testamento como sendo a data da Transfiguração do Senhor. A festa de São Salvador, com mais de 360 anos festeja Jesus Cristo, o Salvador, a festa ao Santíssimo, àquele que no pantheon da igreja Católica está no mais alto lugar, o salvador da humanidade.

Essa é uma festa de tradição portuguesa, implantada pelos colonizadores. Curiosamente o fundador da Vila que deu origem a cidade de Campos dos Goytacazes foi o empreendedor português Salvador Corrêa de Sá e Benevides. O nome Salvador foi muito comum em Portugal durante os séculos XV e XVI, justamente pela fé e devoção a Jesus Cristo como o Salvador. Então nada mais lógico do que o Salvador Corrêa desejar homenagear o seu santo de devoção na escolha do nome da Vila, Villa de “São Salvador” dos Campos dos Goytacazes e depois o escolhendo para seu padroeiro.

A festa setecentista se iniciava com missa às quatro horas da manhã, seguida da ladainha – Te Deum e das cerimônias religiosas, culminadas pela procissão. A parte profana encerrava as festividades com retretas das Bandas Lira de Apolo, Guarany, Operários Campistas e queima de fogos.

Sabe-se, por exemplo, que em tempos idos a Cavalhada se apresentava na Praça Principal, hoje Praça do Santíssimo Salvador (Lamego, 1945).

Igreja de São Salvador. Foto de Guilherme Bolckau – 1872    

O Jornal Monitor Campista também nos lembra das Procissões seguidas das apresentações das Bandas de Música, hoje centenárias, nas famosas retretas, com competições entre elas para ver quem tocava mais e melhor. O público se deleitava com tudo isso durante os passeios, onde o sagrado e o profano se harmonizavam.

Em outra época podia-se visitar exposições de fotografias, de aves e outros animais exóticos. As lojas exibiam suas vitrines ricamente ornamentadas, para as quais havia até mesmo um concurso especial. E como não falar das famosas Corridas de Bicicletas organizadas pelo inesquecível Patesco?

Data dos anos de 1980 o Festival do Doce, o que já se consolidou como tradição, tanto que esse ano em decorrência da pandemia, o Festival de Doce acontece online. É a tradição se adequando aos novos tempos, mas sem deixar morrer a essência de sua criação que foi exaltar o saber-fazer dos doces de tradição portuguesa em nosso município. Somos por isso, conhecidos pela terra do “chuvisco”, um doce com uma história bastante peculiar.

O cenário de toda festa é, e sempre foi, a praça principal com a Catedral Diocesana a fundo, ladeada por edificações centenárias, o que nos garante o poder temporal. Somos quem somos, por habitarmos uma cidade com histórias consolidadas, escritas desde os primeiros anos da era moderna.

Posts Similares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *