O dia da consciência negra na perspectiva cristã
Pe. Marcos Paulo Pinalli da Costa,
Em algumas capitais do Brasil e em mais de mil cidades, este dia é feriado. Foi escolhido o dia 20 de novembro por remeter ao assassinato de Zumbi, último líder negro do quilombo dos Palmares, no ano de 1695, cuja cabeça foi exposta no pátio da Igreja do Carmo em Recife até sua total decomposição.
Bem sabemos que, são várias as classes que lutam por direitos na sociedade brasileira, como forma de enfrentar a desigualdade social e o preconceito. Nesta data, recordamos dos nossos irmãos negros, traficados nos navios negreiros, vendidos como coisa e explorados como animais de carga, sobretudo nas lavouras. Um triste, desumano e violento período de nossa história que durou mais de trezentos anos.
Bendito seja o dia 13 de maio de 1888, data da assinatura da Lei Áurea pela princesa Isabel, porém, esta tão sonhada liberdade, foi fruto de muitas mortes e lutas, mas não foi a solução. O negro “livre” continuou à margem da sociedade, sem casa, sem terra, sem educação para si e seus filhos, refém do trabalho com baixa remuneração e distante dos cargos públicos. Os proprietários de terras, como o próprio governo da época favoreceram a colonização de imigrantes vindos sobretudo da europa, do leste europeu, do Líbano e do Japão como forma de ocupar as propriedades e até mesmo substituir os negros.
A Consciência Negra evidencia na atualidade o que ainda existe, a desigualdade, a violência, o preconceito e o racismo. Dentro de uma perspectiva cristã, somos todos iguais, filhos do mesmo Pai e único Deus, irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo. Seguem alguns versículos do Novo Testamento que fundamentam a igualdade entre os homens. O próprio Cristo nos ensinou: “12.Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a Lei e os profetas.” Cf. Mt 7, 12. Também o Apóstolo São Paulo ensinou na Carta aos Gálatas: “26.porque todos sois filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo. 27.Todos vós que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo. 28.Já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus.”, cf. Gl 3, 26-28.
Na história da Igreja, em março de 1960, o Papa São João XXIII, nomeou o primeiro Cardeal Negro, Dom Laurean Rugambwa, da Tanzânia, o que foi interpretado pelos africanos como um reconhecimento do Vaticano da igualdade dos direitos. Sua eleição favoreceu o crescimento e a formação voltada para a consciência étnico-religiosa do clero africano, emancipando-se assim da missões externas. O Papa São João Paulo II, se referia à África como o “continente da esperança”.
Que Nossa Senhora Aparecida interceda por todos nós, para que tenhamos a consciência que não cabe num coração cristão, qualquer atitude ou pensamento intolerante, racista e preconceituoso. Não importa a aparência, importa o coração. Assim, não há raça pura, há coração puro, os dos que amam a Deus e ao próximo.
* Sacerdote da Diocese de Campos – RJ.