Os Efeitos de Uma Conversão
Anísio Baldessin
“Ai, pobre e infeliz de mim! Que grande cegueira foi a minha por não ter conhecido o meu Deus! Perdoai Senhor, perdoai esse grande pecador. Dai-me pelo menos tempo para fazer penitência e para arrancar de meus olhos tantas lágrimas quantas forem necessárias para lavar as manchas e a sujeira de meus pecados. ”
Foi com essas palavras que, Camilo de Léllis, no dia de 2 de fevereiro de 1575, com 25 anos de idade, tomou a decisão mais importante de sua vida. Ou seja, se converteu.
Muitos acreditam que converter-se significa, ir à Igreja, frequentar missas, cultos ou participar de eventos e rituais religiosos. Por isso, é comum ouvir o seguinte comentário: “O fulano (a) se converteu. Agora, ele vai à Igreja todos os finais de semana”. Quando ouço isso penso: faz tudo isso, mas continua vivendo e agindo da mesma maneira”?
Mas afinal, o que é conversão? Quem dirige automóveis entende bem esse termo. Pois quando está no carro e vê uma placa indicando que só pode seguir à direita, imediatamente faz uma conversão. Ou seja, muda de direção e segue por um outro caminho. Isso é conversão.
Nos dias atuais, esse termo, principalmente no mundo empresarial, foi substituído pela palavra mudança. Tanto que o professor e filósofo Leandro Karnal cunhou a seguinte frase: “Mudar é muito difícil, mas não mudar é fatal”.
Camilo de Léllis, São Camilo para nós católicos, entendeu que para o bem de sua vida ele precisa se converter. Talvez, naquele momento, ele não tivesse a noção exata dos efeitos que aquela conversão (mudança) causaria na sua própria vida e na vida dos doentes, familiares, cuidadores e profissionais da saúde. Senão vejamos: na noite do dia 24 de dezembro de 1598, durante a inundação do rio Tibre na cidade de Roma, ele salvou muitos doentes que estavam internados no Hospital Santo Espírito, carregando-os em seus ombros. Fundou da Ordem dos Ministros do Enfermos, padres e irmãos camilianos que está presente em mais de trinta países.
Portanto, se eu e você, padres, religiosos e colaboradores, atualmente mais de 25 mil, que trabalham nas instituições camilianas e dela conseguem, com seu trabalho, garantir seu sustento bem como o de sua família, em grande parte, é graças a conversão deste homem. Se muitos doentes, em regiões distantes e precárias do Brasil e do mundo, dispõem de atendimento de saúde é porque ele se converteu.
Não podemos deixar de mencionar as congregações das irmãs camilianas, das filhas de São Camilo e outros grupos religiosos que, inspirados neste gigante da caridade, fazem muito em prol dos doentes e daqueles que o cercam. Tudo isso, sem contar as pessoas que, inspiradas N’Ele, desenvolvem, voluntariamente, atividades de assistência religiosa, espiritual e solidária para os enfermos.
Todos esses efeitos, bem como tantos outros que foram produzidos por essa conversão, (mudança) deveriam nos ajudar a refletir sobre o que, como e para onde estamos direcionando a nossa vida. O meu jeito de ser, de viver, conviver e pensar necessita de uma conversão? A maneira de exercer o ministério, cuidar dos doentes, ministrar aulas, coordenar, gerenciar, liderar pessoas e tantas outras coisas relacionadas à vida pessoal ou profissional, também não estaria pedindo uma conversão?
* Sacerdote Camiliano