“Ouvi o clamor deste povo!”
“Ouvi o clamor deste povo!”
Há 30 anos, acontecia a primeira Campanha da Fraternidade com o tema do Negro e com o Lema: “Ouvi o clamor deste povo!”. Com a lei, 10639, de 09 de janeiro de 2003, se institui o feriado facultativo (ficava a critério dos Estados decidir a obrigatoriedade) do 20 de novembro como o Dia da Consciência Negra; também esse diploma legal instaurou o Ensino de História e Cultura Afro- brasileira.
Queria-se, com esta legislação, superar os malefícios sofridos pelos cidadãos negros na história brasileira. Ao mesmo tempo, refletir sobre a verdade da escravidão e do processo abolicionista, que não concluiu totalmente. Superar argumentações falaciosas a respeito da suposta benignidade da escravidão brasileira, e da abolição, como um presente recebido pelos negros sem lutas ou resistências.
Basta olhar os arquivos e registros das últimas décadas, anteriores a 1888, que se descobrirāo: fugas, queimadas e homicídios, de uma violência estrutural opressiva contra o negro. Desfazer o preconceito racial expresso no discurso do ministro José Pedro Dias de Carvalho no Senado: “O Brasil não ganha com a Introdução dessa espécie da população, entendo que o maior cuidado e empenho do governo deve ser introduzir colonos brancos, para assim arredar essa população heterogênea que não deixa de inspirar alguns receios”.
Dia de reconciliação, pois muitos ainda discriminam, esquecendo o que Jaime Pinsky coloca com propriedade: “Olhamos os negros com rancor, como se eles tivessem escolhido vir para cá manchar a sociedade branca. Após escravizá-los, reclamamos de seu caráter submisso. Após esmagá-los de trabalho por séculos, falamos de sua preguiça.
Depois de deixá-los na rua, quando da Abolição, não nos conformamos com sua pobreza. O problema do negro deve ser explicado pela História, nunca pela biologia” (12 faces do preconceito, pag. 23). É, de veras, pouco, uma data para fazer tantas considerações; nos EEUU, que gostamos de imitar, é todo um mês o Black History Month, celebrado em fevereiro.
Chegará um dia, como falava Martin Luther King à sua filha, que não se falará mais de racismo, de discriminação racial, de Dia da Consciência Negra, mas, até lá, com os irmãos negras e negros, os cristãos e todos os homens e mulheres de bem, estaremos lado a lado caminhando juntos pelo Reino. Deus seja louvado!
+Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo Diocesano de Campos
Campos dos Goytacazes, 23 de Novembro de 2018.