Perseverança e suicídio.
Rafael Solano – Arquidiocese de Londrina
Andrew Solomon autor do livro “O demônio do meio dia” quando aborda os diversos tipos de suicídio afirma que: “Todos temos histórias, e os verdadeiros sobreviventes tem histórias interessantes. Na vida real, o ânimo tem que existir em meio à confusão dos brindes, bombas atômicas e campos de trigo”.
A anatomia do suicídio pode levar a uma pessoa a se perder no meio de traumas e dores e a muitas vezes desconhecer o valor e o verdadeiro significado de saber reinterpretar aquilo que tal vez o conduz constantemente a perseverar.
As desistências na vida hodierna são cada vez mais frequentes. O desistir se tornou muito mais do que uma mera justificativa. Posso desistir de tudo inclusive de mim mesmo. Por diversos fatores na nossa vida ministerial bispos e presbíteros nos vemos algumas vezes “dominados” por um certo interrogante no que diz respeito a nossa perseverança. Perseverar para que? Não é verdade que todos os ministros ordenados no dia da sua ordenação tenham a total maturidade para transformar no dia a dia das suas vidas aquilo que escolheram como “lema” do se ministério e mantê-lo assim até o final.
Não são poucos os bispos e presbíteros que ao longo da sua vida e do exercício qualificado do seu ministério já pensaram em desistir. Não é desistir por desistir mas sim desistir porque não suportam mais o que estão vivendo.
As diretas investidas que sofremos na sociedade podem conduzir a não só se questionar como também se formular sobre o verdadeiro sentido das dúvidas e certezas que nos levam a sermos perseverantes na vida que levamos.
Alguns quando falam sobre as desistências o fazem quase que dirigindo-se exclusivamente aos que não foram perseverantes e se deixaram conduzir pela futilidade ou superficialidade da vida. Na verdade não é sempre assim. Todos nós num momento determinado das nossas vidas temos que nos confrontar com que realizamos e vivemos e sobre tudo nos perguntar que tão perseverantes somos.
Perseverar e sobreviver não são necessariamente termos sinônimos mas se olharmos com atenção e cuidado, se tentamos observar as qualidades de um sobrevivente perceberemos que tanto um quanto outro teve que se esforçar suficientemente ao ponto de não perder a maior das esperanças: superar os traumas e as dores.
Quem é um sobrevivente, qual o seu aspecto, quais as suas razões para se manter vivo e não desistir. Quem persevera não é necessariamente um sobrevivente mas sim alguém que soube viver livremente os momentos mais exigentes da própria vida.
No início deste mês no qual devemos falar e refletir sobre o suicídio se faz também altamente recomendável analisar a nossa perseverança sem rigorismos ou pirronismos desmesurados. Os rigoristas excedem na compreensão de si mesmos quando tudo o observam desde a exigência máxima que não é o amor e sim cumprir a exigência. Os pirronistas só se suportam a luz da dúvida excessiva, sem ter certeza nenhuma e desconfiados são incapazes de valorizar a sua própria vida.
Vivamos a perseverança que nos leva a Gloria não dos prêmios terrenos e sim dos bens eternos.
Falar sobre o suicídio é fundamental para poder evitar desastres nas nossas vidas e nas dos nossos irmãos.