Quaresma litúrgica e existencial
Pe. Thiago Zacarias Linhares (Pároco da Paróquia Santo Antônio de Porciúncula)
A quaresma não é só um tempo litúrgico. Ela primeiro é uma realidade existencial e só por isso pode ser celebrada. Antes de ser Liturgia é vida. E erra quem fica só na Liturgia e não contempla a Quaresma na Vida.
Os 40 dias que precedem e prepararam a Páscoa é a imagem do processo libertador que Deus realiza no coração de cada homem. É o tempo da espera, da purificação, do dirigir-se para algum lugar, mas sobretudo, é o tempo da intervenção de Deus. Quem não prova isto nas realidades concretas da vida? Estamos todos neste processo de deslocamento cada vez que tomamos consciência do que nos oprime, e assim, fazemos este movimento de saída da casa da escravidão. Experimentamos o perigo dos faraós da vida com seus cavalheiros. Atravessamos mares de medos e angústias. Enfrentamos desertos de solidão e desalento. Sentimo-nos abandonados por Deus e sofremos a tentação da saudade da vida antiga. Por isso a quaresma é vida antes de tudo. E só será bem celebrada na Liturgia se for bem encarnada na história.
A quaresma por si só – como a vida – não tem seu sentido pleno se não for coroada pela Páscoa. Seria insuportável um deserto sem terra prometida. A quaresma é o tempo de contemplar o êxodo em nós. Ele já começou, mas ainda não terminou. Todos nós podemos provar em nossa existência que somos pó, que às vezes as flores somem e o lamento ocupa o lugar de exultação. A vida assim como a quaresma, assume um clima de pausa, exige um pouco mais de sacrifício e sobriedade. Quem não experimenta isto hora ou outra? Mas jamais esqueçamos que quaresma é processo, e processo tende a se findar quando chega sua realização e a realização da Quaresma é a Páscoa. E assim também é na vida: ciclos se encerram, processos terminam, e tudo então é/será pascalizado, já ainda no tempo, mas um dia na definitivamente na eternidade.
Santa Quaresma Litúrgica a todos, pois a existencial já celebramos mais dias durante o ano.
