Santíssima Trindade, fonte de amor universal, de relacionalidade integradora e harmonia social.
Ao celebrarmos a Solenidade do Deus Uno e Trino, a Família Divina amorosa, mergulhamos não apenas num dogma que possa parecer abstrato demais, mas reconhecemos como afirma o Papa na Laudato Si nº 238 que toda criatura traz em si uma marca e estrutura propriamente trinitária, tão real que poderia ser contemplada espontaneamente, se o olhar humano não estivesse limitado, obscurecido e fragilizado. Sim, este mistério nos indica que fomos criados por amor e para o amor, que somos uma trama de relações, vivemos e realizamo-nos como seres reticulares que precisam desenvolver uma rede de conexões e trocas para humanizar-se e convergir para o Deus da Vida e da Solidariedade.
Ao contemplar o ícone de André Rublev sobre a Santíssima Trindade inspirado nos três personagens que visitaram Abraão no Mambré, São Sérgio expressava extasiado que era o quadro da verdadeira paz e concórdia não transparecendo somente a ausência de guerra, mas a perfeita comunhão e reciprocidade. Por isso, o político russo Nicolai Berdaieff, quando inquirido na Duma (Parlamento) qual seria um programa inspirado na doutrina cristã, ele afirmou sem vacilar: Meu programa para a sociedade é a Santíssima Trindade, onde cada pessoa encontra sua realização plena na comunidade.
Hoje, diante num individualismo visceral, que reedita a frase lapidar de Hobbes: o homem é um lobo para o homem; somos convidados a construir e manifestar uma espiritualidade de comunhão, capaz de fazer renascer entre todos/as a amizade e a paz social, uma sociedade convergente e colaborativa centrada na dignidade infinita da pessoa e do bem comum. Precisamos urgentemente nesta transição civilizatória que estamos passando, resgatar a empatia, a alteridade e compaixão que procedem do Deus TriUno, e geram a fraternidade e responsabilidade universal com todas as pessoas e seres vivos. Tratar de explicar a Santíssima Trindade apenas com nossa pobre razão é petulância, acreditar nela caminho de salvação, contemplá-la na eternidade será nossa plena e inteira felicidade. Deus seja louvado!
+Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo Diocesano de Campos
Campos dos Goytacazes, 26 de Maio de 2024.