Tradição de três séculos preservada em Campos dos Goytacazes
Celebrar o trânsito de São Bento em Campos dos Goytacazes (RJ) em plena pandemia é guardar a memória de uma festa que marca a presença dos monges com três séculos de história. A celebração aconteceu no domingo (11)com todos os cuidados sanitários para evitar a circulação do vírus. Para conter aglomeração a missa foi campal, mas com distanciamento social. Dentro dos carros ou em cadeiras espalhadas no local devotos de Campos e de toda a região participaram da celebração presidida pelo Pe. Alcemar Pereira da Silva.
Ricardo Gomes – Diocese de Campos
Fotos: Adyvan Pedra
No domingo (11) Dia do Patriarca dos Monges, São Bento foi celebrada missa presidida pelo Pe. Alcemar Pereira da Silva e com grande participação de fiéis de Campos e de toda a região. A celebração teve a presença do Guardião da Ordem Beneditina em Campos, Dom Bernardo Queiroz que ajuda a preservar a tradição de três séculos do monaquismo na Baixada Campista de onde irradia a mística com seu legado de fé.
Celebrar São Bento é resgatar todo o trabalho realizado pelos monges desde 1648 e as igrejas construídas junto com a obra desbravadora dos religiosos que deram sua contribuição a formação cristã e católica da terra campista. Desde sua chegada a Campos em 2017, Dom Bernardo Queiroz vem empreendendo uma luta pela restauração do prédio do mosteiro e da obra realizada pelos monges que deram uma grande contribuição a formação religiosa, cultural, social e educacional do município de Campos.
Ao final da celebração Dom Bernardo Queiroz revelou a todos os projetos para a reestruturação da mística beneditina e a fé em São Bento. A mística beneditina de oração e trabalho implantada desde tempos difíceis. Uma presença que desde os primórdios revela a formação de uma nova sociedade pautada nos valores cristãos. O monge colocou sob a intercessão de São Bento pelo fim da Pandemia.
Nos municípios de Campos e São João da Barra foram construídas 36 capelas. Algumas mais expressivas e com festas tradicionais. O Mosteiro de São Bento foi o marco do processo civilizatório em toda a Baixada Campista e desde Frei Fernando a preparação para a criação da Diocese de Campos que no próximo ano completa 100 anos. Frei Fernando foi o grande desbravador das terras campista.
Fiéis rezam pela ordenação sacerdotal de Dom Bernardo Queiroz
Desde que veio para Campos com a morte de Dom Beda Gonçalves que Dom Bernardo Queiroz aceitou o desafio de não deixar morrer a tradição mística implantada na cidade e região. E a ordenação sacerdotal do monge é um sonho de muitos fiéis que cresceram educados pelos religiosos. Ivonete de Souza Machado recorda desde a sua infância a catequese e a educação religiosa recebida e a participação de sua mãe e familiares na Igreja de Santo Amaro.
– Dom Bernardo desde a sua chegada que cativou a todos e acredito que fará muito mais sendo sacerdote. Carismático e cativador ele revela um homem de Deus e nos faz recordar monges que passaram por nossas comunidades. Minha tia Lecy guarda uma foto de Dom Fidelis Widmer com as crianças da escola em Boa Vista numa primeira comunhão. Minha mãe aos 88 anos tem boas recordações de Dom Bonifácio que por décadas cuidou da igreja de Santo Amaro. – recorda Ivonete.
Dom Bernardo Queiroz representa a certeza de que a tradição de três séculos nunca deixe de existir e a fé no Patriarca dos Monges e Padroeiro da Europa nunca deixe de ser celebrado em Campos dos Goytacazes, preservando a grande contribuição a fé católica desde o início do processo civilizatório de toda a região.
– Nasci em Santo Amaro onde fui batizada, fiz minha primeira comunhão e me casei e batizei meus filhos. Ao ver Dom Bernardo tenho recordações de meu tempo de infância e juventude. Participei da vida da igreja de minha comunidade e são momentos muito felizes em minha vida. Sou devota de nosso Pai Santo Amaro e fico triste em pensar que um dia possamos perder essa festa no mosteiro. Nas minhas orações peço a Deus que Dom Bernardo seja sacerdote e possa continuar essa tradição. – completa Ivonete.
Recordações e fé
Adyvan Pedra tem grandes recordações e fez questão de se deslocar da praia de Atafona, São João da Barra para participar da missa no mosteiro campista. Fé e recordações da presença monástica nas terras de Campos e São João da Barra. E um dos grandes legados dos monges foi a difusão da devoção a Santo Amaro que é festejado na Praia de Açu no município de São João da Barra. Tradição religiosa que é preservada no distrito campista de Santo Amaro de onde irradia para toda a região.
– É uma graça ainda termos em Campos a atividade no mosteiro de São Bento em Mussurepe, pois oferece a nossa devoção uma experiencia mais profunda e Dom Bernardo nos traz a presença da Ordem Beneditina. Observando a fé desse monge que na sua luta diária no reerguimento e restauração do templo e da devoção de São Bento, não perdendo a característica da contemplação de vida monástica nos exprime o amor e o zelo pela casa de Deus. É importante lembrar que embora tenha as atividades no mosteiro é uma pena que permaneça fechado para as celebrações das missas. – reflete Adyvan
“Rogamos ao Bom Deus, Senhor da Messe, que seja concedida a Dom Bernardo o Sacramento da Ordem para que ganhe o povo devoto que já corresponde com louvor os esforços que vem sendo feito ultimamente no mosteiro, contudo o povo e o mosteiro estão de parabéns, pois o caminho para o crescimento já é aberto, pois além do peso histórico, vemos atualmente um esforço de todas as partes para o crescimento da devoção do glorioso santo. Adyvan Pedra.
Jorge Bento Neves Pereira carrega no nome a devoção a São Bento e recorda a mãe como devota do santo. Atualmente mora no Distrito de Santo Amaro e se emociona em ser devoto do Padroeiro da Baixada Campista e a sua fé em São Bento recordando do que recebeu da mãe.
– Moro em Santo Amaro, sou devoto de nosso padroeiro, mas nunca vou esquecer que trago no meu nome a devoção e a fé em São Bento. Desde que nasci minha mãe fez questão de colocar no meu nome a devoção a São Bento. E ser devoto de ambos é uma alegria. – disse Jorge Bento.
Desbravadores da fé em tempos difíceis os monges beneditinos desde 1648 foram luzeiros da tradição católica, com a espiritualidade do trabalho e da oração. Com a chegada a Campos do Guardião da Ordem Beneditina, Dom Bernardo Queiroz uma luz acendeu no fim do túnel de que essa herança possa continuar na terra campista. Um monge simples que deixou a Abadia na cidade do Rio de Janeiro para viver a mística do trabalho e da oração. Acorda cedo, lava a própria roupa, prepara seus alimentos e cuida da herança de três séculos.
– O Mosteiro de São Bento, sede da Fazenda recebida na partilha de 1648 é um dos poucos remanescentes da arquitetura religiosa brasileira ainda de pé. A área foi ampliada com aquisições e doações ao longo do tempo, sinal da importância dos Beneditinos na Região. Sua restauração torna-se imprescindível para que futuras gerações possam admira-lo e percorrer seus espaços para ter a noção do que poderia ser viver num espaço assim construído. Louvo o empenho para sua restauração, que é obra de grande envergadura e custosa. O futuro agradecerá. – Carlos Freitas – Museólogo.
Uma vida dedicada a oração
São Bento de Núrsia nasceu em Núrcia, na Itália, no ano de 480. Filho de uma rica família do lugar era irmão gêmeo de Escolástica, que também se tornou santa. São Bento é o patriarca do monaquismo ocidental. Após um período de solidão perto da sagrada Gruta de Subiaco, passou para a vida cenobítica (tradição monástica iniciada desde os primeiros tempos do cristianismo, que enfatiza a vida em comum), primeiro em Subiaco, depois em Montecassino.
Sua Regra, que resume a tradição monástica oriental, adaptada com sabedoria e prudência ao mundo latino, abre novo caminho à civilização europeia, após o declínio da civilização romana. Nesta nova escola de serviço do Senhor, tem parte determinante a leitura meditada da palavra de Deus e o louvor litúrgico, alternados com os ritmos do trabalho, em clima intenso de caridade fraterna e de serviço recíproco.
Nas pegadas de São Bento surgiram, no continente europeu e nas ilhas, centros de oração, de cultura, de promoção-humana de hospitalidade para os pobres e peregrinos. O Papa Paulo VI proclamou-o padroeiro da Europa, em 24 de outubro de 1964. Sua memória, por causa da Quaresma, foi transferida da data tradicional de 21 de março, considerado o dia de sua morte, para 11 de julho, dia em que, desde a alta Idade Média, em alguns lugares, se fazia particular memória do santo.