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Um Pontificado em caminho pelas estradas do mundo

Alessandro Gisotti

“Vou confidenciar a vocês: eu não gosto de viajar”. São as palavras aparentemente surpreendentes que o Papa pronunciava em 8 de junho passado ao encontrar um grupo de jovens no Vaticano durante a iniciativa “O Trem das Crianças”. Na realidade, sabe-se que quando era arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio raramente se afastava da sua diocese. Fazia poucas viagens internacionais, na maioria na América Latina ou em Roma para os Sínodos ou Consistórios. Porém Francisco manteve sempre vivo o espírito de viajante, espírito missionário, que desde jovem sonhava em ir ao Japão nas pegadas de São Francisco Xavier.

Desejo que, de um modo imprevisível para o jovem jesuíta argentino, Bergoglio pôde realizar este ano como Papa ao visitar a Terra do Sol Nascente. Na verdade, dentro da sua diocese, a imensa Buenos Aires, o futuro Pontífice nunca ficava parado. Ia para todos os cantos da cidade, utilizando quase sempre meios de transporte público. “Algo normal” para o bispo e mais tarde cardeal argentino, mas que depois da sua eleição a Pontífice, causou grande sensação quando foram divulgadas algumas fotos do novo Papa no metro e ônibus da capital argentina.

Portanto, um bispo “caminhador”, “callejero”, no meio do povo e que preferia usar seu tempo nas Villas Miserias, nas “periferias existenciais” da metrópole, do que no centro da cidade. Portanto um bispo que sempre viajava na sua diocese. E assim, quando se tornou Papa, Francisco imediatamente sentiu que agora a sua diocese era o mundo e que devia se colocar de novo a caminho, com o mesmo espírito que o tinha animado até então, mas em um espaço bem maior.

De resto, na mesma audiência aos jovens do “Trem das crianças”, Francisco falava a respeito de viagens: “Para mim aconteceu o que acontece às crianças mimadas: não gosta da sopa? Dois pratos! Não gosta de viagens? Vais viajar muito… na verdade durante as viagens encontramos muita gente,  gente boa e aprende-se muito”. Nesta resposta, tão simples e direta encontra-se o valor das viagens do Papa Francisco: encontrar as pessoas, conhecer os contextos. De algum modo, como observou recentemente o Washington Post em um artigo de Chico Harlan, para o Papa, as viagens apostólicas servem para “reformar a Igreja” colocando no centro as periferias das quais extrair “linfa” para encaminhar novos processos de evangelização.

Um pontificado “itinerante”, “sinodal”, como foi visto neste ano de 2019, ano recorde para as viagens apostólicas internacionais. Francisco fez 7 viagens, visitando 11 países em 4 continentes. Precisamos voltar a 1982 e a São João Paulo II para alcançar o mesmo número de visitas do Sucessor de Pedro fora das fronteiras italianas. Por outro lado, é significativo que este ano tão cheio de viagens internacionais coincida com o centenário da Maximum Illud de Bento XV sobre a atividade missionária no mundo. Com suas viagens, Francisco sublinha exatamente a dimensão missionária do discípulo do Senhor, chamado a ser “em saída” para anunciar a Boa Nova em todo o mundo, porque nenhuma terra é longe e nenhum povo é alheio à Palavra de Deus.

“Revendo” as sete viagens deste ano pode-se encontrar os grandes pontos da ação pastoral de Francisco: os jovens, na viagem ao Panamá para a JMJ; o diálogo inter-religioso, nas viagens aos Emirados Árabes e Marrocos; o diálogo ecumênico, nas visitas à Bulgária e Macedônia do Norte e depois na Romênia. E a defesa do meio ambiente e atenção pelos pobres nas viagens a Moçambique, Madagascar e Maurício; enfim, a paz e a promoção dos direitos das mulheres e das crianças como pontos chave da viagem asiática em duas etapas: Tailândia e Japão.

Foi na saudação aos jornalistas durante o voo para a Tailândia, que o Papa observou: “Faz muito bem a todos serem informados e também conhecer as culturas que estão longe do Ocidente”. De fato, com as suas viagens, Francisco leva luz para os cantos mais ocultos do mundo, onde a mídia jamais iria, mas que graças à sua presença tornam-se “visíveis” à comunidade internacional, chamada a se ocupar de povos e terras que normalmente são esquecidas. A “cultura do encontro” abre-se também graças às suas viagens. Viagens que duram bem mais do que o momento no qual o papa sobe no avião e volta a Roma. Não apenas para as pessoas, mas também para ele que, em uma entrevista, confidenciou levar no coração as pessoas encontradas nas viagens, rezar “por elas, pelas situações dolorosas e difíceis”, “para que se reduzam as desigualdades que vi”.

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