Eleições: seu voto pode mudar a História

ÉlioGasda- Religioso Jesuíta

Dois de outubro de 2022, uma data crucial. Serão as eleições mais importantes desde a redemocratização pós-ditadura. Está em jogo o futuro do país para os próximos anos. O Brasil chegou à semana decisiva no meio de uma grave crise social, ambiental, econômica e violência política. Retrocessos no campo dos direitos fundamentais e ambientais.

Diante de tantas urgências, “os políticos são chamados a cuidar da fragilidade dos povos e das pessoas… As maiores preocupações de um político deveriam ser a de não encontrar uma solução eficaz para o fenômeno da exclusão social e econômica” (Fratelli tutti, 188).

Para frear o avanço do neoliberalismo, que o voto seja um exercício de cidadania no enfrentamento das exclusões e injustiças. É fundamental resgatar esse Brasil que “não tem medo de fumaça e não se entrega” (Ary Barroso). Reconstrução se faz com justiça, solidariedade e políticas públicas.

Um voto pelos direitos humanos. São tempos de sofrimento e violência, principalmente para os vulneráveis e empobrecidos. A marginalização e a pobreza são consequenciais de decisões políticas. As causas, segundo a ONU, podem ser a dificuldade de acesso à educação de qualidade, falta de investimentos em serviços básicos como saúde, saneamento básico e transporte, política fiscal injusta e baixos salários.

Sem dúvida, a fome é a principal urgência. Quem tem fome tem pressa. 33 milhões de pessoas vivem com seus pratos mais vazios. Que seja o voto a favor da soberania alimentar que acabe com a fome e a desnutrição.

O retrato mais trágico da devastação social é o mundo do trabalho. Desemprego, informalidade, trabalho escravo, salários congelados, altos índices de inflação, disparada dos preços dos alimentos. Desalento e angústia. Que seja um voto a favor do trabalho e de uma economia a serviço da nação, e não do sistema financeiro!

A via para a superação do fundamentalismo, do negacionismo e das fakenews é garantir a educação de qualidade como direito de todos e dever do Estado. Aplicar 10% do PIB, investir em livros, escolas, universidades e pesquisa, não em armas e clubes de tiro.

Na saúde, a pandemia escancarou o desprezo do governo com a saúde do povo. O país se aproxima dos 700 mil mortos. Gastos em saúde foram cortados e repassados ao orçamento secreto. A ampliação do investimento federal no Sistema Único de Saúde (SUS), valorização de trabalhadoras e trabalhadores da saúde, é critério na hora do voto!

Não existimos sem a natureza. Ecologia somos nós e nossa casa comum. Então, que seja um voto ecológico! O compromisso com a preservação do meio ambiente deveria ser prioridade na definição do voto. O voto pode ajudar a fazer com que a preservação da floresta amazônica se torne realmente uma questão de Estado.

Imprescindível escolher políticos comprometidos com um projeto econômico sustentável. Até quando a “boiada vai passar”? Que seja um voto de protesto contra o desmatamento, a mineração predatória, o garimpo ilegal, a violência no campo. Que seja um sim à reforma agrária agroecológica, à agricultura familiar, ao reconhecimento, homologação, demarcação e regularização dos territórios indígenas.

A superação da cultura das armas e a gestão da política do ódio implica a desmilitarização da sociedade e das instituições públicas. Um voto pela redução da letalidade policial, pelo fim da violência do Estado contra pobres, pretos e periféricos. Garantir segurança pública cidadã e de proteção da dignidade das pessoas.

Um voto antirracista, anti-homofóbico e contra todos os preconceitos. Pelo fim da violência contra as mulheres. Que seja um sim às políticas públicas de promoção e garantia dos direitos constitucionais para todas as pessoas: brancos, pretos, indígenas, quilombolas, pessoas atípicas, jovens, idosos, mulheres, pessoas LGBTQIA+. Um sim aos mesmos direitos para todos os tipos de famílias.

Que seja um voto pelo fortalecimento da democracia e em defesa do Estado de Direito, da Constituição e das instituições da república. A laicidade do Estado garantidor da liberdade religiosa depende do seu voto. Que ateus, católicos, evangélicos, espíritas, religiões de matriz indígena e africana, ateus, possam se reconhecer e escrever sua cultura e sua história.

Que seja um voto em memória daqueles que foram assassinados pela ditadura, dos perseguidos por defender a democracia, o meio ambiente, o direito à terra e os direitos humanos. Um voto em memória das vidas perdidas para a covid-19 por irresponsabilidade do governo.

Nesse caminho desafiador, a eleição pode ser uma vereda. No dia 02 de outubro, que seja um voto inspirado por Papa Francisco:

“Necessitamos de dirigentes políticos que vivam com paixão o seu serviço aos povos, solidários com os seus sofrimentos e esperanças; políticos que anteponham o bem comum aos seus interesses privados; que não se deixem intimidar pelos grandes poderes financeiros e midiáticos; que sejam competentes e pacientes face a problemas complexos; que sejam abertos a ouvir e aprender no diálogo democrático; que conjuguem busca da justiça com misericórdia”.

ÉlioGasda SJ é professor e pesquisador no departamento de Teologia da FAJE

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