Resposta aos sinais dos tempos
Letícia Messias
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O diretor do Departamento de Teologia da PUC-Rio, padre Waldecir Gonzaga, e a professora Maria Clara Bingemer integram Equipe de Análise de Conjuntura Eclesial da CNBB
O Concílio do Vaticano II determinou a necessidade de escutar os sinais dos tempos, e então as Igrejas ao redor do mundo deixaram olhos e ouvidos atentos. Inspirada nesta premissa, a Equipe de Análise de Conjuntura Eclesial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) foi formada no fim do último ano com o objetivo de promover uma análise da presença e atuação da Igreja no país. Teólogos, bispos, padres e religiosos refletem e discutem sobre temas importantes na agenda da Igreja brasileira. No Rio de Janeiro, os representantes são o diretor do Departamento de Teologia da PUC-Rio, padre Waldecir Gonzaga, e a teóloga e professora Maria Clara Bingemer.
Com reuniões mensais e remotas, os encontros promovem a reflexão sobre o momento atual, que é sintetizado em um parecer e entregue ao Conselho Permanente da CNBB. Segundo padre Waldecir, a escolha dos integrantes da Equipe de Análise de Conjuntura Eclesial levou em consideração a simetria entre os participantes, que, espalhados pelo Brasil, podem contribuir para um diálogo plural. Questões como a população indígena, o racismo e a pauta das mulheres foram importantes para definir os componentes. Ele ressalta, ainda, que a PUC-Rio é a única instituição a ter duas pessoas no projeto.
— Os critérios definiram a presença dos diretores, decanos ou coordenadores. Depois, quando se tratou de escolher uma teóloga, os olhos se voltaram para a PUC-Rio por causa da expressão da professora Maria Clara Bingemer, que é uma das teólogas latino-americanas de mais visibilidade, reconhecida e lida no mundo. Ela tem uma trajetória muito grande.
Segundo a professora Maria Clara Bingemer, o grupo procura assessorar a conferência episcopal na missão de gerir a comunidade católica brasileira. Com um olhar plural e interdisciplinar, a teóloga afirma que o projeto abre portas para que os bispos tenham uma visão ampliada sobre os problemas da conjuntura brasileira que eles, como pastores, devem abordar. Ela ressalta, também, o sentimento de honra que teve ao ser convidada para atuar como uma das representantes do projeto.
— O convite foi feito por Dom Paulo Cezar Costa, com quem trabalhei na PUC-Rio por muitos anos. Ele era diretor do Departamento de Teologia na mesma época em que eu era decana, e este foi um tempo muito grato na Universidade. Me alegro de estar trabalhando na equipe que ele coordena e dirige. Foi um sentimento de muita alegria, como sempre é poder servir na Igreja, colocando à disposição minha formação teológica, que me foi dada pela mesma Igreja.
A teóloga e professora Maria Clara Bingemer relembra o convite para se tornar membro da Equipe de Análise de Conjuntura Eclesial da CNBB
Em meio à pandemia da Covid-19, o empobrecimento da população, segundo padre Waldecir Gonzaga, se tornou uma realidade que instiga a comunidade católica a se fazer solidária. Ele relembra o papel das celebrações funerais, interrompidas pelo isolamento social, e afirma que este contexto torna evidente a necessidade de a Igreja ressignificar a presença na vida das pessoas. Segundo ele, o crescente desemprego e a miséria têm preocupado os cristãos, mas também fizeram com que aumentasse a dimensão da caridade.
— O distanciamento social precisa existir, e a Igreja não pode se sentir distante desta realidade. O mundo está ferido, e nós participamos da dor. Temos que olhar com atenção para o que está acontecendo, e sabemos que há um empobrecimento muito grande no momento atual. Nesse sentido, a Igreja se faz solidária. Uma palavra que lembramos muito, em nossas reuniões, é que nós não podemos permitir que o amor pare. O amor precisa continuar. A defesa da vida também.
De acordo com o diretor do Departamento de Teologia, entre os temas discutidos nas reuniões está o lugar da Igreja no mundo pós-pandêmico, provocado após o questionamento do cardeal português José Tolentino. Segundo ele, a Equipe de Análise de Conjuntura Eclesial trabalha a partir do olhar da Trindade Santa, sem esquecer o desafio deixado pelo Concílio do Vaticano II. Padre Waldecir ainda destaca a importância de analisar o território nacional e identificar o que ele tem enfrentado em termos de realidade concreta e da fé cristã.
— O texto inicial tinha o tema proposto pelo cardeal Tolentino, que colocava a pergunta: que rosto de Igreja nós queremos depois da pandemia? Isto é interessante porque já indica também que muita coisa depende da nossa vontade. Que rosto de Igreja nós queremos? O segundo ponto que nós colocamos é o grande desafio que o Vaticano II nos coloca: ler os sinais dos tempos. Ou seja, ler aquilo que está acontecendo atualmente. Então, quais são os sinais do tempo da vida concreta? Como estava o mundo antes da pandemia?
O projeto também tem contribuído para a formação do Instituto Nacional de Pastoral Padre Antoniazzi (INAPAZ), que será responsável pela Análise de Conjuntura Eclesial continuada. Para o diretor do Departamento de Teologia, padre Antoniazzi é um referencial no campo nacional, pois dedicou a vida à Igreja. Com sede em Brasília, segundo padre Waldecir, a criação vai ajudar diversas dimensões da pastoral, como a área da Bíblia, da catequese e da caridade.
— O Instituto já existia, no passado, mas não recebia este nome. Era Instituto Nacional de Pastoral. Padre Antoniazzi foi um homem que gastou, no bom sentido, a vida, com um trabalho muito bonito na pastoral da Igreja do Brasil. Dedicar o nome ao instituto, na minha opinião, já foi um grande indicativo do valor que ele terá. Em meio a tudo o que vivemos, lembramos de 1 Coríntios 13:8, que afirma que a caridade nunca acabará.
Além do diretor do Departamento de Teologia, padre Waldecir Gonzaga, e da professora Maria Clara Bingemer, fazem parte da Equipe de Análise de Conjuntura Eclesial: o bispo de São Carlos Dom Paulo Cezar Costa; Dom Leomar Antonio Brustolin (PUC-RS), padre Boris Austin Nef Ulloa (PUC-SP); padre Geraldo Luiz De Mori (FAJE); frei Jorge Rocha (Católica/Salvador); padre Justino Tuyuka (Diocese de São Gabriel da Cachoeira/AM); padre Marcelo Batalioto (Dehoniana/Taubaté); padre Marcial Maçaneiro, SSJ (PUC-PR); padre Marcus Barbosa Guimarães (CNBB) e padre Pedro Rubens Ferreira de Oliveira (Católica de Recife).