A Firmeza de Caráter de Maria e a Perene Liturgia
Diác. Adelino Barcellos Filho – Diocese de Campos/RJ. Brasil
O Padre Léo (Servo de Deus), em uma de suas pregações, desmistifica e combate vários preconceitos que são prejudiciais ao nosso crescimento espiritual, nossa cura e libertação, de maneira especial a realidade sobre Maria e a partir dela, “o fruto de seu ventre, Jesus”. A simplicidade e humildade estão intimamente ligadas à Firmeza de Caráter (tão necessária ao cumprimento dos 10 Mandamentos a partir do 1º Mandamento da Lei de Deus). Maria não se prendeu em ficar apenas na contemplação, na experiência mística do Anúncio do Arcanjo Gabriel (realidade celeste que veio até Ela), da grandeza da escolha para ser a Mãe do Salvador e Redentor de nossas Almas: “Ela vai para casa de Isabel trabalhar como empregada doméstica” (Pe. Léo). Graças ao Fiat (faça-se), sua firme decisão, após o conhecimento de que iria contar plenamente com o abrigo da “sombra do Altíssimo”, constatamos, dentro da lógica humana e divina, que “o Sangue de Jesus é o Sangue de Maria” (para crescer no ventre, no corpo da Mãe, o cordão umbilical e o Sangue alimenta o Filho). Esta é uma realidade que justifica a necessidade de o Verbo de Deus não poder encarnar em um seio qualquer (contaminado pelo pecado das origens; portanto, concebida sem pecado). Deus é Deus e espera de nós, sermos adoradores (do Pai, pelo Filho, no Espírito Santo) e obedientes.
Desta maneira, continua padre Léo, “existe um Corpo humano feminino inteirinho no Céu (com útero, com vagina, com nádegas)”, completo e glorioso, “por isso não podemos jogar o nosso corpo no lixo (das paixões desordenadas, pornográficas)”, corpo esse lavado no “Sangue do Cordeiro”, no Santo Batismo, e para tanto, necessitamos crescer na Graça da Firmeza de Caráter e correspondermos ao infinito Amor de Deus que contempla em nós (o homem) o Corpo de Jesus, (a mulher) o Corpo de Maria. “Desde as origens é desejo de Deus que o homem e a mulher reproduzam Ele mesmo”. Deus quer precisar do homem e da mulher, preferencialmente fiéis à Sua Graça, no Sacramento do Matrimônio, para gerar novos seres humanos, filhos autênticos para Ele. Por este motivo todas as outras formas são pecaminosas e afrontam a Bondade e o Amor de Deus. Portanto, você não existe fora do seu corpo. O projeto do seu corpo é reflexo do Corpo de Jesus, do Corpo de Maria, por isso “no Céu não haverá tristeza, doença, nem sombra de dor; e o prêmio da Fé é a certeza de viver Feliz com o Senhor; nós cremos na Vida Eterna e na Feliz Ressurreição, quando de volta à Casa paterna, com o Pai, os filhos se encontrarão” (Missa da Esperança).
É preciso descobrir a Santidade em nosso corpo, pela beleza e complexidade de seu funcionamento; a Ciência nos diz sobre o comprimento total dos vasos sanguíneos (artérias, veias e capilares) é de cerca de 100 mil quilômetros e a velocidade que o sangue percorre, “nas artérias maiores o sangue alcança a velocidade de 1,5 Km/h. Quando atinge os vasos menores, cai para 1 milésimo disso. Este ritmo lento permite ao sangue fazer suas entregas nas bilhões de células do corpo”. Precisamos da Fé de Jesus Cristo e Sua Firmeza de Caráter, para irmos muito além do pecado, a minha condição de pecador não me dá o direito de pecar; ao experienciarmosa Comunhão física do Corpo, Sangue, Alma e Divindade, circulando em nosso corpo, estupenda realidade que, não pode ser de qualquer maneira, nem de qualquer jeito. As investidas do inimigo de Deus e nosso, para desvirtuar tudo o que há de mais sublime, acontece até hoje. Em Deuteronômio (18, 9-14) persiste: “quando tiveres entrado na terra que o Senhor, teu Deus, te dá, não te porás a imitar as práticas abomináveis da gente daquela terra. Não se ache no meio de ti quem faça passar pelo fogo seu filho ou sua filha”, nem quem se dê a práticas abomináveis, e “é por causa dessas abominações que o Senhor, teu Deus, expulsa diante de ti essas nações. Serás inteiramente do Senhor, teu Deus. As nações que vais despojar ouvem os agoureiros e os adivinhos; a ti, porém, o Senhor, teu Deus, não o permite.”
O Papa Pio XII, no dia 25 de março de 1954 (Solenidade da Anunciação do Senhor), na Carta Encíclica sobre a Sagrada Virgindade, em que a Igreja ensina sobre isto, “que a virgindade não é virtude cristã se não é praticada “por Amor do Reino dos Céus” (Mateus 19, 12); isto é, para mais facilmente nos entregarmos às coisas divinas, as coisas celestiais, para mais seguramente alcançarmos a Bem-Aventurança (‘vinde benditos de meu Pai’), e para mais livre e eficazmente podermos levar os outros para o Reino dos Céus”. No plano de Deus (Uno e Trino) o ser humano é chamado a reproduzir a Santíssima Trindade (formarão uma só carne): “Solta gritos de alegria, filha de Sião! Solta gritos de júbilo! Alegra-te e rejubila-te de todo o teu coração! O Senhor revogou a sentença pronunciada contra ti, e afastou o teu inimigo. O Senhor, que é Rei do Universo, está no meio de ti; não conhecerás mais a desgraça” (Sofonias 3, 14-15). Há uma promessa de restauração, de resgate, que nos conduzirá a todos (todos que escolhem fazer a Santíssima Vontade em suas vidas) ao Júbilo Perene.
A Constituição Lumen Gentium (21/11/1964) Capítulo VIII, já no proêmio (introdução), aborda o tema da Virgem como Mãe de Cristo e seu lugar na Igreja, cuja intenção do documento é ressaltar o papel de Maria no Mistério da Encarnação e na Igreja, bem como os deveres dos fiéis para com ela. Afirma Paulo em Gálatas 4,4-5 que Deus, “ao chegar à plenitude dos tempos, enviou Seu Filho, nascido de mulher, a fim de recebermos a filiação adotiva”. O Verbo se encarnou no seio da Virgem Maria e se fez homem, por obra e graça do Espírito Santo. Este Mistério da Encarnação se perpetua na Igreja, a qual é o Corpo de Cristo tendo a Ele como Cabeça (confirmando que a Igreja é Santa, porque Jesus Cristo é Santo e a conduz verdadeiramente).
Desta forma, na Escola de Espiritualidade Trinitária da Vida Eterna, veneramos em primeiro lugar a memória gloriosa da sempre Virgem Maria (cf. LG 52). Maria é Mãe de Deus Redentor, filha predileta do Pai e templo do Espírito Santo. Ela é também Mãe dos membros de Cristo (Cabeça) e coopera com seu Amor para que nasçam os fiéis. É membro eminente e singular da Igreja, da qual é também tipo e exemplar perfeito na Fé e na Caridade (cf. LG 53). Na Economia da Salvação, a mãe do Redentor foi prefigurada e profetizada no Antigo Testamento, sobretudo na vitória contra a serpente (cf. Gênesis 3,15), bem como em Isaías 7,14; Miquéias 5,2-3 que profetiza a Virgem que “conceberá e dará à luz um Filho que será chamado Emanuel (Deus conosco)” (Mateus 1,22-23). É a primeira entre os pobres do Senhor e com ela inaugura-se a nova economia da salvação (cf. LG 55).
O Papa Francisco, em sua Carta Apostólica Desiderio Desideravi Sobre a Formação Litúrgica do Povo de Deus (29 de Junho de 2022) nos convida a ‘redescobrir o sentido do ano litúrgico e do dia do Senhor nos alertando da grande contribuição do Concílio Vaticano II, através da SacrosanctumConcilium(Cf. SC 102-111)’, para crescermos “na consciência do Mistério de Cristo (Revelado) mergulhando a nossa vida no Mistério da Sua Páscoa, à espera do Seu retorno”, ou, da nossa ida para as Moradas Eternas. “Essa é a verdadeira formação permanente. Nossa vida não é uma sucessão aleatória e caótica de acontecimentos, mas um caminho que de Páscoa a Páscoa, nos conformar a Ele, “enquanto vivendo a esperança, aguardamos a vinda do Cristo Salvador”. O domingo antes de ser um preceito, é um dom de Deus ao seu povo (por isso a Igreja guarda como um preceito). “A celebração dominical oferece à comunidade cristã a possibilidade de ser formada pela Eucaristia. De domingo a domingo a força do Pão partido sustenta o anúncio do Evangelho, no qual se manifesta a autenticidade da nossa celebração. Abandonemos as controvérsias para ouvirmos juntos o que o Espírito Santo diz a Igreja, guardemos a comunhão, continuemos a nos maravilhar com a beleza da Liturgia, sob o olhar de Maria, Mãe da Igreja”.
Em 27 de novembro de 2022, o Papa Francisco recordou a “bela promessa” que nos introduz no tempo do Advento: «Virá o teu Senhor». “Se não percebermos sua vinda hoje, também estaremos despreparados quando ele vier no fim dos tempos”. “A Virgem Santa, Mulher da expectativa, que percebeu a passagem de Deus na vida humilde e escondida de Nazaré e o acolheu em seu ventre, nos ajude neste caminho de estar atentos à espera do Senhor que está no meio de nós e passa, nos chama, nos fala e inspira as nossas ações”, preparando-nos para o eterno louvor, a Perene Liturgia, o Gozo Eterno. “Saboreai e Vede como o Senhor é Bom.” (Salmo 33, 9)