A Páscoa de Francisco
Pe. Anderson Alves – Diocese de Petrópolis
No dia 21 de abril de 2025, o Papa Francisco celebrou sua Páscoa, marcando sua passagem deste mundo para o juízo misericordioso de Deus, nosso Pai. Ele partiu na manhã de uma segunda-feira do Anjo, data em que a Igreja recorda a aparição do mensageiro divino a Santa Maria Madalena, que recebeu a missão de comunicar a ressurreição de Cristo aos Apóstolos e, através deles, ao mundo (Jo 21, 1-18). Francisco faleceu durante a oitava de Páscoa, assim como João Paulo II, enquanto Bento XVI partiu na oitava de Natal, ambos períodos significativos do calendário litúrgico.
Após uma longa e desafiadora Quaresma no Hospital Gemelli, em Roma, Francisco celebrou sua Páscoa em um ano santo que marca 2025 anos da Encarnação do Verbo de Deus e durante o Jubileu da Esperança, que foi proclamado e iniciado por ele. Nos últimos dias de sua vida, foi possível vê-lo abençoar pessoas de várias partes do mundo, quase sem voz, semelhante ao que aconteceu com São João Paulo II em seus momentos finais.
Desde o início de seu papado, Francisco impactou o mundo mais por meio de suas ações do que por suas palavras, e partiu da mesma maneira. No domingo de Páscoa, teve a chance de contemplar pela última vez a Praça de São Pedro repleta de fiéis que vieram prestar sua última homenagem, sem saber que era um adeus. Ele abençoou os presentes, clamou pela paz, pelo desarmamento e desejou uma Feliz Páscoa a todos.
O Papa Francisco é reconhecido por sua simplicidade e por seu desejo de proximidade com as pessoas. No Brasil, ele reuniu 3,7 milhões de pessoas durante a Missa da Jornada Mundial da Juventude em 2013, um evento que deixou uma marca duradoura na população da América Latina. Naquela ocasião, abençoou crianças, especialmente um menino que aspirava ao sacerdócio, visitou uma comunidade carente no Rio de Janeiro, expressou seu desejo de visitar as casas para “tomar um cafezinho com cada um, e não um copo de cachaça”, e demonstrou sua devoção a Nossa Senhora Aparecida durante sua visita ao maior Santuário Mariano do mundo, um importante centro de peregrinação para milhares de brasileiros.
Nos dias que se seguem, muitos refletirão sobre o papado de Francisco. Bento XVI costumava afirmar que uma análise de um pontificado deve ocorrer adequadamente após muitos anos, por historiadores e especialistas. Para os cristãos que agora sentem a perda de seu Papa, Francisco foi um pastor dedicado e, neste momento, é um fiel que se apresenta ao juízo misericordioso de Deus, a quem sempre confiou e encorajou a aguardar com esperança. Em momentos como este, todos temos a oportunidade de lembrar que uma pessoa vale muito mais pelo que é do que pelo que faz ou pode fazer. Como Santo Agostinho disse: “para vós sou bispo, convosco sou cristão”.
Durante a Páscoa, também relembramos outro ensinamento do Doutor de Hipona: “Grandes coisas o Senhor nos promete no futuro! Mas o que ele já fez por nós e que agora celebramos é ainda muito maior”. De fato, “Quem pode duvidar que ele dará a vida aos seus fiéis, quando já lhes deu até a sua morte?” (Sermo Guelferbytanus 3).
Obrigado, Francisco. Que o Senhor o acolha em sua glória e o recompense por todo o bem que fez. Sua liderança foi marcada pela simplicidade e pelo compromisso com os mais necessitados. Durante seu papado, Francisco não apenas guiou a Igreja, mas também inspirou milhões de pessoas ao redor do mundo com sua mensagem de justiça, amor e misericórdia. Seu legado viverá nos corações daqueles que tocou, e sua memória será uma fonte contínua de inspiração. Que sua alma descanse em paz eterna, e que seu exemplo continue a iluminar nosso caminho.