Algumas considerações sobre linchamento midiático ou uso das Fake News no processo eleitoral
A polarização de posicionamentos políticos ao aproximar-se o pleito eleitoral parece afetar também o povo católico. A Pastoral dos Católicos na Política, que segue as diretrizes da CF 1996 sobre Fraternidade e Política visa nos seus objetivos proporcionar aos fiéis tanto candidatos a cargos do executivo e legislativo, bem como a exercer a cidadania ativa nos diversos conselhos paritários previstos na Carta Magna ou ainda votar com lucidez e consciência, um espaço de reflexão e discernimento. Também uma formação sistemática e contextualizada sobre a Doutrina Social da Igreja e celebrar a espiritualidade laical no âmbito da política. Para isso busca dialogar e acolher todas as pessoas interessadas, de todas as tendências teológicas e pastorais, e mesmo partidárias num legítimo e amplo pluralismo, que reúne membros da RCC (ministério fé e política), focolares (MPPU), Política com Fé, CNLB, pastorais sociais e fiéis paroquianos onde se realizam as reuniões, pois o convite é sempre aberto. Não se busca fazer propaganda partidária, ou debate de questões programáticas das mesmas agremiações, nem visar a construção de uma bancada “católica”, ou ainda “cabrestear” as pessoas induzindo o voto ou impondo candidatos; mas preparar cristãos a serem fermento de transformação em seus partidos, cargos, assembléias legislativas, e conselhos, fazendo a articulação da fé com a política.
Em tempos de eleições se divulgam as mensagens ou cartilhas eleitorais da CNBB e do Regional Leste 1, ministrando a benção de envio aos candidatos, no ensejo que façam uma campanha limpa, ética e respeitosa dos princípios cristãos e dos direitos humanos. A melhor política, a política do bem comum, do amor cívico e político tornando a polis mais justa e fraterna. Por isso não se admite o comportamento que o Papa Francisco denúncia e questiona nos nºs 101 e 102 da Exortação Apostólica Gaudete e Exultate: “Mas é nocivo e ideológico também o erro das pessoas que vivem suspeitando do compromisso social dos outros, considerando-o algo de superficial, mundano, secularizado, imanentista, comunista, populista”. Pessoas que sem usarem os canais do entendimento, da busca de consensos centrados na DSI ou no Evangelho, procuram incriminar ou difamar irmãos por pertencerem a denominada por eles de “TL” ou ainda por professar postulados “socialistas”. A que teologia de libertação se referem? A aquela que o Papa São João Paulo II, em colóquio com o episcopado brasileiro em 1986 chamava de não só ortodoxa, mas necessária, ou ainda na CentesimusAnnus nº26: “O tempo presente, em quanto supera tudo o que havia de caduco nessas tentativas, convida a reafirmar a positividade de uma autêntica teologia da libertação humana integral” ou ainda “Àqueles que hoje estão à procura de uma nova e autêntica teoria e práxis de libertação, a Igreja oferece não só sua Doutrina Social, mas o seu ensinamento acerca da pessoa redimida em Cristo, bem como seu empenho concreto no combate à marginalização e sofrimento”.
A respeito da atração das posições socialistas para muitos cristãos, vale lembrar primeiro o discernimento de São João XXIII, na Pacem in Terris, na quinta parte: “Além disso, cumpre não identificar falsas ideias filosóficas sobre a natureza, a origem e o fim do universo com movimentos históricos de finalidade econômica, social, cultural ou política, embora tais movimentos encontrem nessas ideias a sua origem e inspiração. De resto, quem ousará negar que nesses movimentos, na medida em que concordam com as normas de reta razão e interpretam as justas aspirações humanas, não possa haver elementos positivos dignos de aprovação”. Mais tarde São Paulo VI, na Carta Apostólica Octogésima Adveniens, que focaliza precisamente o discernimento das ideologias sociais, no nº 31 afirma: “Entre os diversos escalões de expressão do socialismo, uma aspiração generosa e uma procura diligente de uma sociedade mais justa, movimentos históricos que tenham uma organização e uma finalidade política, ou ainda, uma ideologia que pretenda uma visão total e autônoma do homem, devem fazer-se distinções que hão de servir para guiar opções concretas. Uma tal perspicácia permitirá aos cristãos estabelecer o grau de compromisso possível nessa causa, salvaguardados os valores, principalmente, de liberdade, de responsabilidade e de abertura ao espiritual que garantam o desabrochamento integral do homem”. Estes textos do magistério pontifício apontam para que na atualidade e no Brasil os partidos políticos se enquadram mais como um movimento histórico que pretende implementar um projeto e um programa concreto, contextualizado em um momento e uma conjuntura também concreta, que como círculos doutrinais fechados, não obrigando para os cristãos a exigência de abraçar uma visão totalizante. Mas é importante que sempre o magistério oferece o discernimento de forma abrangente e imparcial, apresentando como no caso da Octogésima Adveniens as ideologias do liberalismo, tratada no nº 35, que muito embora proponham o eficientismo na economia e a luta contra o totalitarismo invasivo do Estado, esquecem facilmente o individualismo e das motivações errôneas no uso da liberdade correndo atrás de uma ganância exacerbada; como também das ciências humanas e do renascer das utopias.
O Papa Francisco na Fratelli Tutti também oferece um discernimento muito oportuno e valioso considerando as propostas populistas e liberais, em quanto umas dizem governar para o povo, mas sem o povo as liberais governam muitas vezes contra o povo priorizando o lucro acima de tudo. Seria importante recordar para encerrar estes elementos de discernimento, o famoso discurso do Papa São João Paulo II na praça de La Havana do 25/01/1998, em ocasião da sua visita a Cuba quando questiona e denuncia o sistema neoliberal predominante nas políticas econômicas ou a referência a Encíclica EvangeliiGaudium onde Papa Francisco refere-se nos números 53 a 58 a economia que mata, que exclui e leva ao descarte de multidões de pobres consagrando a idolatria do dinheiro. Estas breves inserções na Doutrina Social estão a requisitar atitudes de compreensão, serenidade e respeito, tratando de elevar o debate eleitoral em torno a projetos, ideias, valores, não recorrendo a acusações infundadas ou apelos a Fake News. Na caridade cristã, no espírito sinodal, e na obediência irrestrita e incondicional ao Papa Francisco gloriosamente reinante, despede-se na Paz de Cristo Bom Pastor:
Dom Roberto Francisco Ferrería Paz
Bispo Diocesano de Campos e Referencial da Pastoral Católicos na Política Leste 1
Campos dos Goytacases 08 de abril de 2022.
Para um povo que já teve Dom Antônio de Castro Mayer e suas cartas pastorais claras e católicas, a sensação de abandono deve ser grande.
Prezados Irmãos, Paz de Cristo a todos.
O texto de vossa excelência reverendíssima é excelente. Já no título temos um excelente resumo daquilo que tem sido muito corriqueiro nos últimos anos. Qual pessoa não constata o “linchamento midiatico” que o mandatário dessa nação vem sofrendo a tanto tempo, e de maneira tão orquestrada. O querido bispo estranhamente parece não se preocupar com esse caso mais grave e importante. Ele parece se preocupar com os perigos da doutrina liberal, e faz muito bem em fazê-lo. Todavia quanto aos perigos da doutrina socialista/ comunista, vossa excelente sói desconsiderar, se esquecendo infelizmente das condenações que o Magistério fez dessa ideologia política, a ponto de um papa dizer que é impossível ser socialista e católico ao mesmo tempo. Ou descemos para o inferno, ou subimos para o céu, ao duas coisa ao mesmo tempo não dá, e o meio termo dessa posições opostas, os mornos, bem… Deus não se agrada deles… a ponto de vomitá-los. Infelizmente para alguns a verdade parece impositiva, quase tirânica talvez, mas continuamos sendo obrigados a aceitá-la humildemente, sob pena de perdermos nossa salvação, caso a rejeitemos. O estimado bispo fala de polarização, em elevar o nível do debate, e em tantos outros temas interessantes, todavia, gostaria de alertar que, todas essas situações deveriam estar fundamentadas aos ditamos do Evangelho, e não o contrário, ou seja, não podemos adequar o Evangelho às realidades mundanas. Não vos conformeis com esse mundo, como o episcopado da Alemanha parece conformar-se ultimamente, continua válido para se alcançar a qualquer libertação, e está virá plenamente apenas na parusia de nosso Senhor, pois como Ele mesmo afirmou, sem Mim nada podeis fazer. Paz de Cristo a todos e sua benção vossa excelência reverendíssima.