Esperança: A história de Davi Cardoso Mendonça para a construção de uma nova sociedade

Aos 18 anos, o jovem universitário e escritor, Davi Cardoso Mendonça revela lições de vida e de luta contra o preconceito. Lições de vida que são inspiradoras neste tempo de pandemia. Romper as barreiras e ajudar as famílias a lidarem com o autismo. Fé em Nossa Senhora é a receita do jovem diagnosticado com autismo aos 10 anos.

Ricardo Gomes – Diocese de Campos

Histórias de vida que revelam que através da fé é possível superar todos os preconceitos e lutar para a construção de uma sociedade inclusiva e de paz. Lições que o jovem universitário e escritor, Davi Cardoso Mendonça traz neste tempo de pandemia. Diagnosticado aos 10 anos com autismo, com o apoio da mãe a jornalista Simone Mendonça se destaca por vencer todos os preconceitos e se engajar numa campanha de conscientização e de apoio as famílias atípicas.

Sua história de vida tem sido sinal de esperança para a construção de uma sociedade que respeita as diferenças. Após viver em Portugal, onde concluiu o Ensino Médio tem uma grande conquista: aprovado em dois cursos superiores numa universidade portuguesa. De volta ao Brasil é aprovado no curso de Psicologia e junto com a mãe dedica tempo a ajudar a sociedade a respeitar as diferenças. E a grande lição de Davi é a fé em Nossa Senhora a quem atribui suas conquistas.

“O autismo é um modo de estar e viver, é uma perspectiva diferente do mundo”. Essa breve afirmação é do jovem Davi Mendonça Cardoso, de 18 anos. Escritor e estudante de Psicologia, Davi foi diagnosticado com autismo quando tinha 10 anos e hoje quer contribuir para o mundo combatendo o capacitismo, que é o preconceito contra as pessoas com deficiência. – revela o jovem.

“A minha fé me ajudou muito a superar a barreira da exclusão que vivi na sociedade e a deixar o meu estado de espírito melhor e com mais harmonia. Jesus curou o cego, fez andar o deficiente físico, tocou nos leprosos. Ele sempre atendia aos necessitados e levava esperança aos que eram excluídos pela sociedade.” Davi Mendonça Cardoso.

A fé sempre foi sua companheira, desde muito cedo.

“Fui criado dentro da Igreja Católica. Meu pai é um homem de fé e minha mãe era integrante da Pastoral da Comunicação.  Eu cresci vendo o trabalho dela no jornal e site paroquiais e na rádio católica da cidade. Gostava tanto do ambiente que quando pequeno, brincava de ser padre. Cresci participando das festividades de Santo Antônio, que é padroeiro do meu bairro, e recebendo a imagem peregrina de Nossa Senhora de Schoensttat na minha casa. – relata Davi.

Davi tem uma devoção muito forte por Nossa Senhora e conta um episódio emocionante

Em todas as situações de decisão, eu e minha mãe costumamos falar ‘Maria passa na frente’. Quando moramos em Portugal e fomos me matricular na escola, estávamos com receio de como seria minha vida escolar num país distante e desconhecido. Mas assim que entramos no portão da escola, começou a tocar a Ave Maria. A canção permaneceu no sistema interno de áudio durante todo o tempo em que estávamos fazendo a matrícula. Eu e minha mãe nos olhamos com a certeza de que era Maria abençoando minha estadia naquele lugar. E realmente foi um período muito enriquecedor para mim. –  conta Davi.

O jovem também tem história com Santo Antônio, por quem se sente sempre acompanhado

Minha casa fica em frente à Igreja de Santo Antônio. Por isso, todo dia 13 de junho, dia do santo eu participava da procissão. Nas primeiras, vestido de anjinho; e anos depois representando o próprio padroeiro. Quando nos mudamos para outra cidade, nossa casa também fazia parte da Paróquia de Santo Antônio. E quando moramos em Portugal, para a nossa surpresa, alugamos um apartamento ao lado do mosteiro de Santo Antônio. Ou seja, ele está sempre comigo. – revela.

Mesmo após o diagnóstico do autismo, Davi nunca frequentou o ensino especial, tendo estudado sempre em escolas regulares e inclusivas. Dois anos em uma escola salesiana, cuja pedagogia valoriza a presença do educador nos momentos de diversão das crianças. As outras escolas, embora não fossem salesianas, também valorizavam as atividades de “pátio”, assim como pedagogia de Dom Bosco, o que ajudou muito na socialização e na inclusão.

Sou a mãe, a jornalista Simone Mendonça, ressalto a importância desse espaço escolar no exercício da inclusão. É um ambiente propício para se propagar o anticacitismo. Ali, no convívio, as crianças podem aprender com as diferenças e, assim, minimizar ou acabar com os preconceitos”. Certa vez a escola lançou um concurso de marchinhas e Davi se inscreveu. Os participantes deviam criar uma versão usando um dos temas estudados em sala de aula. Davi escolheu cantar sobre a Guerra Fria e levou o primeiro lugar.

A arte e a cultura: formas de socialização

Numa sociedade excludente, Davi é exemplo de dedicação. E no Projeto Cidadão em Construção da Prefeitura Municipal de Cabo Frio que revela sua capacidade. Capacidade aperfeiçoada a cada dia. E o mais importante é quebrar todos os tabus que tentam limitar a capacidade do jovem. E na arte que encontra o suporte a uma vida sem traumas e medos. O gosto pela leitura é a dica do jovem.

Recentemente Davi iniciou no seu primeiro emprego, integrando a turma de jovens aprendizes do projeto “Cidadão em Construção” da Prefeitura de Cabo Frio, sua cidade natal, localizada no estado do Rio de Janeiro, através da Secretaria da Criança e do Adolescente e do CIEE-RJ. O jovem atua em espaços culturais como a Biblioteca Municipal e o Museu e Casa de Cultura José de Dome – mais conhecido como Charitas –, em serviços internos.

– Está sendo uma grande experiência e que está contribuindo muito para o meu desenvolvimento tanto profissional como pessoal, até mesmo para conhecer e ter melhor contato com a cultura e a história da cidade. Pontua Davi.

“O problema não está na deficiência, mas na sociedade”

Simone explica que os maiores desafios em relação ao autismo do filho não estão na deficiência em si, mas na sociedade. Segundo ela, uma dessas dificuldades é a carência de profissionais capacitados para o acompanhamento e definição do diagnóstico. “Percebemos os sinais desde muito cedo e logo procuramos atender ao que ele precisava, mas há 18 anos era ainda mais difícil encontrar profissionais”, explica a mãe, alertando para a importância do diagnóstico precoce. “Quanto antes você descobrir e acompanhar, mais chance a criança tem de receber e responder aos estímulos”, acrescenta. Apesar de ter acompanhamento psicológico desde os seis anos, o diagnóstico só foi possível aos 10, quando foi incluído na então utilizada classificação de Síndrome de Asperger.

No caso do Davi, nos primeiros anos de vida foram necessárias sessões com psicólogos, fisioterapeuta e fonoaudióloga, além de aulas de natação, para combater uma hipotonia muscular. “Essa estrutura tem custo alto. Fomos atentos, persistentes e recebemos ajuda familiar. Fico imaginando quantos autistas não desenvolvem por falta de condições financeiras para ter esse acompanhamento”, ressalta a mãe, chamando atenção para outro desafio: a falta de políticas públicas em saúde e atenção básica para autistas.

Outro grande desafio é a exclusão social. Simone diz que ainda é comum escolas que dificultam a matrícula e a permanência de alunos com deficiência, apesar da existência da Lei Berenice Piana, que prevê punição para as instituições que recusarem alunos com deficiência. Além disso, a exclusão também se dá pela falta de acessibilidade nos ambientes, que geralmente são criados apenas para pessoas que não apresentam limitações físicas e/ou intelectuais.

“Não é fácil, mas não por causa da deficiência, e sim pelo que a sociedade nos impõe”.

Família: fonte de amor e de inspiração

Na família, Davi aprendeu sobre diversidade, empatia, respeito, amor e também sobre seus direitos e deveres. E aprendeu, sobretudo, a ter autoestima, com a consciência de que todos somos diferentes, e que essa diversidade é essencial para o mundo.

“Meus pais aos poucos me falaram sobre o diagnóstico. No começo, estranhei e fui aceitando aos poucos quem eu era de verdade. Eles me prepararam para enfrentar os olhares preconceituosos. Logo entendi que o problema está na pessoa que tem preconceito e não em mim”. Davi também deixa uma mensagem de incentivo para quem se sente discriminado. “Se você teve um dia ruim porque se sentiu humilhado (seja por pessoas, seja pela própria vida), não se deixe abater. Todo dia tem uma nova hora para que nos lembremos que o momento ruim já passou: é uma página virada”, conclui.

Artes e Filosofia

Davi é exemplo de vida. De superação de preconceitos para ser responsável pela construção de uma nova sociedade. De um mundo sem excluídos pelo preconceito, pela violência e pela competição, mas pela solidariedade e pela paz.”

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