Mês da Bíblia completa 50 anos no Brasil

Neste ano as celebrações do mês da Bíblia completam 50 anos no Brasil. Uma iniciativa do Arcebispo de Belo Horizonte, Dom Joao Resende Costa em 1971 no jubileu de ouro da Arquidiocese de Belo Horizonte. Nesta entrevista a Ir Zuleica Aparecida Silvano fala do tema desta edição, refletindo na Carta de São Paulo aos Gálatas.

Ricardo Gomes – Jornalista

Com informações da Arquidiocese de Belo Horizonte

A Igreja Católica considera setembro o Mês da Bíblia, por causa da memória litúrgica de São Jerônimo, no dia 30 de setembro. Jerônimo foi o tradutor dos originais gregos e hebraicos da Bíblia para o latim, a chamada “Bíblia Vulgata”, com Paula e Eustóquia

Neste ano o Mês da Bíblia completa 50 anos. A primeira edição aconteceu em 1971 nas comemorações dos 50 anos da Arquidiocese de Belo Horizonte (MG) em 1985 realizada em todo o Brasil com reconhecimento pela CNBB. Esta edição dedicada a Carta de São Paulo aos Gálatas com o lema “Todos sois um só em Cristo Jesus.

A Carta aos Gálatas, no Novo Testamento, faz parte das epístolas chamadas “protopaulinas”, isto é, as cartas consideradas autênticas de Paulo. Ela foi escrita, provavelmente, entre os anos 54 a 57 d.C., para a Região da Galácia, atual Turquia. A preocupação do autor é o de superar a crise provocada pelos seguidores de Jesus Cristo vindos do judaísmo, os chamados judaizantes, ao exigirem que aqueles que aderiam a Jesus Cristo, sem pertencerem à cultura e religião judaica, passassem pela circuncisão e praticassem os mandamentos determinantes para a identidade judaica. Eles, ainda, afirmavam que Paulo não anunciava o verdadeiro Evangelho aos gentios. Apesar de não serem expressamente identificados na Carta aos Gálatas, provavelmente os judaizantes eram cristãos provenientes de Jerusalém.

-A carta aos Gálatas é extremamente rica do ponto de vista teológicos e também autobiográfico. Nessa carta, Paulo traz detalhes sobre a sua experiência de Jesus Cristo na estrada de Damasco; de sua relação com Pedro e as lideranças de Jerusalém, sobre a Assembleia de Jerusalém; dos motivos de sua permanência nessa região, e outros dados sobre as comunidades primitivas. Quanto aos aspectos teológicos, além de apresentar o Messianismo de Jesus, Paulo fala sobre a justificação pela fé e não pelas obras da lei, explicita a sua concepção de Evangelho, traz vários aspectos sobre a importância do batismo, e os elementos fundamentais da ética cristã. Ao mergulharmos no estudo da Carta aos Gálatas nos deparamos com a convicção paulina de que a fé consiste em se deixar envolver pela grandeza do amor de Deus revelado no Messias Jesus e que exige de nós uma adesão consciente, que é expressa no batismo, pelo qual fazemos a experiência de participarmos do mistério pascal e sermos unidas/os a Cristo. Pelo batismo, recebemos também o Espírito Santo (Gl 4,6-7), que faz morada em nosso coração e constantemente pronuncia dentro de nós a oração do Filho Encarnado: “Abba, ó Pai”. É Ele que nos conscientiza de que somos filhas/os no Filho, pertencemos à família de Deus, e nos convoca a assumirmos nossa missão de proclamar o Evangelho. Que ao aprofundarmos os ensinamentos de Paulo, possamos ter a ousadia de anunciar o amor de Deus revelado no Messias Jesus, humanizar nossas relações, “até que Cristo seja formado em nós”. – revela Ir Zuleica.

Irmã Zuleica conta que, em 1971, Dom João Resende Costa, segundo arcebispo de Belo Horizonte, enviou uma carta pedindo sugestões para comemorar o cinquentenário da Arquidiocese de Belo Horizonte. A comunidade das Paulinas na Capital Mineira sugeriu um mês de aprofundamento sobre a Bíblia e convidou a Irmã Neli Manfio, que residia na Bahia, e que já tinha uma pequena experiência com um movimento bíblico desenvolvido na Arquidiocese de Salvador, para elaborar um projeto de um Mês Bíblico. A Irmã Neli e a Irmã Eugênia Pandolfo, superiora da comunidade de Belo Horizonte, apresentaram por escrito a dom João a proposta, que foi acolhida. O evento envolveu todos os segmentos da Arquidiocese – paróquias, colégios, meios de comunicação. Nos anos seguintes, o Mês Bíblico foi assumido pelo Regional Leste II da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que englobava Minas Gerais e Espírito Santo. Em 1985, com o Serviço de Animação Bíblica (SAB) – que era um convênio com quatro instituições – e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a celebração do Mês da Bíblia tornou-se nacional.  O mês de setembro foi escolhido porque no dia 30 é especialmente recordado São Jerônimo, tradutor dos textos bíblicos escritos em grego e hebraico para o latim, a chamada Vulgata, com a colaboração de algumas mulheres.

Irmã Zuleica explica que o Mês da Bíblia também é resposta ao Concílio Vaticano II que, com a constituição Dei Verbum, dedica reflexão sobre a Bíblia na vida da Igreja, exortando a Igreja a criar formas, atividades, iniciativa para que todos pudessem se aproximar da Bíblia, por meio de publicações populares e de traduções nas diferentes línguas. Depois, o Mês da Bíblia ajudou a despertar e incentivar os círculos bíblicos e a formação das pequenas comunidades que aprofundavam os estudos e a vivência das Sagradas Escrituras – como as Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s). “Acredito que as atividades, os subsídios e os livros sobre os temas bíblicos escolhidos para essa atividade também contribuíram para o aprofundamento e para a formação bíblica do cristão de modo permanente”, diz.

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