O Sagrado Coração que pulsa no Corpo de Cristo
O Corpo de Cristo
Cristo se dá como alimento para nossa vida. No cotidiano, não conseguimos viver se não nos alimentarmos direito. A relação do ser humano com os alimentos é de extrema dependência. Jesus é aquele alimento que não pode estar ausente em nossa “dieta” diária. Alimentamos-nos de Sua palavra e de Seus exemplos, mas também nos alimentamos Dele mesmo. Quando Ele declarou que seu corpo é verdadeiramente comida e que seu sangue é verdadeiramente bebida, muitos dos que O seguiam não mais quiseram acompanhá-lo, pois, Suas palavras eram por demais estranhas aos seus ouvidos.
Celebramos há bem pouco tempo a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, “Corpus Christi”. Famílias e grupos de diferentes idades e tradições fizeram lindos tapetes decorativos pelas ruas e, assim, celebramos felizes esta presença real de Deus em nosso meio: a Eucaristia. Conta-se que em um lugar distante na Itália, no século VIII, na cidade de Lanciano, tornou-se visível Aquele que era impossível vislumbrar com os olhos. O pão (hóstia) consagrado na missa se tornou milagrosamente em um pedaço de carne humana e o vinho se tornou sangue. Mais tarde, em tempos próximos aos atuais, cientistas analisaram tal acontecimento e verificaram que a carne é do tecido do coração humano e, além disto, constatou-se que o sangue é do tipo AB.
A Igreja também, já no inicio do cristianismo foi comparada a um corpo. Jackson Erpen, um autor católico, constatou que “Nem no Antigo Testamento, nem no âmbito da tradição apostólica o apóstolo Paulo encontrou a imagem da Igreja como um organismo. É uma criação dele mesmo. Talvez a imagem da vinha como o Povo de Israel pudesse sugerir uma ligação entre os membros do povo de Deus. Mas foi o próprio Cristo que utilizou essa imagem bíblica da videira como um corpo orgânico, do qual nós somos os ramos, ele a videira; tal qual o corpo, onde somos os membros e ele a cabeça.” Assim, São Paulo demonstrando sua total conexão com este corpo místico declara: Quem enfraquece que eu também não enfraqueça? Quem se escandaliza que eu não me abrase? (II Cor 11: 29). E nós podemos acrescentar: Quem se alegra que eu também não me alegre? Quem sofre que eu também não sofra? Quem chora que eu também não chore? Desta forma, cada membro deste corpo em comunhão participa das dores e alegrias uns dos outros. Agora não se vive mais só, pois na comunhão se faz comunidade. Por outro lado, um membro que “vive” desconectado do corpo é como relata aquele provérbio africano: “Um homem de barriga cheia não acredita que outro esteja com fome”.
Coração de Jesus, fornalha ardente de amor
Viver o amor, conectado ao Corpo de Cristo e impulsionado por Seu Sagrado Coração, é ter a disposição para sinceramente sentir a dor do outro. Na imagem do Sagrado Coração de Jesus, vemos o Mestre ressuscitado, mas, que apresenta mãos e coração chagados. É interessante notar que Jesus, diferente dos super-heróis dos cinemas, continua com os ferimentos em seu corpo, mesmo após a vitória. O que vemos nos cinemas quando o super-herói vence, ele imediatamente volta a ter o corpo perfeito e sadio em que as chagas da batalha são curadas e esquecidas. Jesus, pelo contrário, mostra que seu coração e mãos continuam a sentir dor por amor.
Santo Agostinho comentou certa vez as palavras de São Paulo que disse: “completo em minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo” (Col 1: 24). Podemos questionar: Como pôde dizer isto o apóstolo Paulo, se o sacrifício de Jesus foi totalmente suficiente e podemos dizer, superou a dívida? Agostinho explicou com sabedoria a afirmação de São Paulo: “… no princípio, quando Abel foi morto por seu irmão, foi o próprio Corpo de Cristo que padeceu. No antigo testamento, quando cada um dos profetas foi apedrejado ou foi assassinado, foi o Corpo de Cristo que foi apedrejado e assassinado. Quando os cristãos foram perseguidos e mortos, foi o próprio Cristo que foi perseguido e morto”.
Hoje quando qualquer pessoa passa fome ou sede, está nua, é estrangeira, encarcerada ou doente é o próprio Corpo de Cristo que está com fome, sede, nu, refugiado, preso e doente (cf. Mt 25:35-36). Suas chagas continuam abertas. Assim, todos os que sofrem completam em sua carne o que falta aos sofrimentos de Cristo. Na cruz, nosso Deus-Amor, o Homem Jesus Cristo, carregou sobre si as dores da humanidade de todos os tempos. Ele aceitou como oferta todos os sofrimentos da humanidade e os transformou, por causa de sua infinita Santidade, em oferta agradável ao Pai. Na verdade Ele nos libertou de todo o sofrimento, não negando o sofrimento humano, mas o assumindo e o transformando em amor. Assim, por sua morte Ele nos trouxe a libertação e a vida.
Mas porque o Pai quer sofrimentos como oferta? De maneira nenhuma o Pai quer sofrimentos de seus filhos como oferta, entretanto, Ele nos convida a participar de tão grande amor, a viver de amor e a oferecer nosso sacrifício diário por amor a Ele e ao próximo, nos associando ao sofrimento de Cristo na cruz. “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me” (Lc 9: 23).
Mas e os sofrimentos causados pelas injustiças, pelas negligências, pela ganância, pelo autoritarismo e pela maldade? São também estes agradáveis ao Senhor e devemos aceitá-los? De maneira nenhuma. Veja que é Jesus quem solenemente declara: “Tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber.” O cristão é aquele que trabalha para alimentar, vestir, consolar, acolher e libertar o Cristo que está no outro. Quando Jesus se encontrou com São Paulo em sua viagem a Damasco, Ele disse: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” Ele não disse: Saulo, Saulo, por que persegues os cristãos? Pois, perseguir o cristão é perseguir o Cristo, ou seja, o Corpo de Cristo. Assim, não mais o provérbio africano será verdadeiro para os cristãos, pois, se alguém está com fome, então eu também é como se sentisse em mim esta fome. Se alguém não tem acesso à educação ou à saúde, é como se eu ou alguém da minha família estivesse nesta situação. Faço a minha parte, mesmo que seja uma gota no oceano, pois é meu corpo inserido no Corpo de Cristo que padece quando o outro sofre.
Nesta fornalha ardente de amor, o Coração de Jesus é como fogo abrasador que nos transforma e nos conecta, assim como o fogo faz com elementos tão diferentes como o ferro e o carbono que se transformam em aço. Desta forma, o Corpo de Cristo apesar da grande diversidade de seus membros, milita no mundo em unidade por meio da ação do seu Sagrado Coração, fornalha ardente de amor.
Coração de Jesus, abismo de todas as virtudes
A quem nós iremos, ó manso e humilde de coração? Em Ti está a plenitude de todo o bem. Em Ti se encontra a sede de todas as virtudes. Tu és a fonte inesgotável do amor. Em Ti mora a paciência, a benignidade, a esperança e a paz! Em Ti se encontra nosso porto seguro. Quero estar enxertado a Ti, Videira Santa! Tantos ramos diferentes encontramos em Ti e Tu és a seiva que nos alimenta. Como Tu disseste: “Sem mim nada podeis fazer”. Sem o Amor em nós, nada podemos fazer.
Abismo de virtudes que tem tão grande profundidade! Abismo sim, pois só O alcanço quando, guiado por Seu amor, vou descendo até a grande profundidade de minha pobreza interior. O que tenho eu que Tu não me tenhas dado? A inteligência? A prática da caridade? Meu sorriso? Minha vocação? Minha família? Minha vida? Eu? Tudo provém de Ti, ó meu Deus e Senhor!
Abismo de virtudes sim, porque só alcanço estas virtudes dadas por Ti quando me coloco inteiramente ao Seu cuidado. Quando enxergo que sou humano e não Deus e vejo que na minha humanidade Deus pode fazer Sua morada. “Fazer extraordinariamente as coisas ordinárias” quer dizer: de dentro da minha fraqueza possibilitar que nasça a força de Deus. “Pois quando sou fraco é que sou forte” (II Cor 12: 10).
Mesmo com a preguiça interior que tenho, se faço o meu trabalho aberto ao amor de Deus, realiza-se o trabalho de Deus. Mesmo que eu esteja impaciente, quando me abro para a ação de Deus, se realiza a paciência de Deus. Mesmo que eu não queira fazer o bem, pois em mim doerá, quando me abro para o amor de Deus, o bem de Deus se realiza através de mim. Mesmo que eu seja soberbo e orgulhoso, se me abro para ação do amor de Deus, percebo minha arrogância e se expressa a santa humildade de Deus em mim. Mesmo que eu tenha apenas cinco pães e dois peixes para oferecer como alimento, se me abro ao amor de Deus, isto basta para que Ele alimente a multidão. Assim, eu escravo, se ofereço minha miséria ao Senhor, recebo Dele a possibilidade de livremente com Ele reinar.
Não tenha medo de suas fraquezas! Reconhecê-las e ofertá-las ao Senhor é o caminho para se subir a montanha da Santidade que, enfim, mais que uma montanha que se deve subir, ela é um abismo de virtudes, onde se encontra o Sagrado Coração de Jesus. Pois, com Jesus, só subo se desço!
Finalizo este texto apresentando algumas das promessas de Jesus àqueles que forem fiéis ao seu Sagrado Coração, ou seja, àqueles que se entregarem sem reservas ao seu Amor:
“Lançarei bênçãos abundantes sobre os seus trabalhos e empreendimentos”
“Os pecadores encontrarão, em meu Coração, fonte inesgotável de misericórdias”
“As almas tíbias tornar-se-ão fervorosas e as fervorosas subirão a uma alta perfeição”
“Eu o consolarei em todas as suas aflições e estabelecerei e conservarei a paz em sua família”
“Serei refúgio seguro na vida e principalmente na hora da morte”
Coração de Jesus, no qual estão todos os tesouros da sabedoria e ciência!
Coração de Jesus, saturado de opróbrios e esmagado de dor!
Coração de Jesus, paciente e de muita misericórdia!
Coração de Jesus, fonte de vida e santidade!
Coração de Jesus, esperança dos que morrem em vós!
ROGAI POR NÓS!
Diácono Permanente Fábio Cunha Coelho
Paróquia do Sagrado Coração de Jesus
Diocese de Campos dos Goytacazes