Para onde caminhará a Igreja após a pandemia?
Pronunciamento recente do Cardeal Robert Sarah nos abre portas para a reflexão.
Redação (16/09/2020 17:34, Gaudium Press) Algo muito delicado a respeito da verdade, é que ela precisa ser dita na hora certa.
No que toca à doutrina da Santíssima Trindade, por exemplo, é por vezes até inacreditável descobrir que a Igreja demorou quase 300 anos, após sua fundação, para proclamar a divindade de Jesus Cristo oficialmente!
A maioria dos fiéis jamais duvidou dessa verdade, é claro. Mas foi preciso que houvesse um adversário, um herege – no caso, Ario – para pôr em cheque aquilo do qual ninguém duvidava, ou talvez até, sobre o qual quase ninguém pensava: Jesus Cristo é Deus?
Bem, o fato é que – graças a Deus – houve um Santo Alexandre e um Santo Atanásio que enfrentaram a fera e esclareceram as consciências, derrubando o inimigo, enquanto era tempo… Hoje, Ario já não representa mais nada.
Mas como ensina o Eclesiastes, há tempo para tudo…
Há alguns dias, o Cardeal Sarah fez um pronunciamento (sobre isso, ver:Covid-19: é hora de voltar à Missa presencial, diz Vaticano), estimulando os fiéis a comparecerem às missas presenciais, “sem limitações que vão além do que preveem as normas de higiene ditadas pelas autoridades públicas e os bispos”, afirmando a necessidade de retornar à normalidade da vida cristã, sem improvisadas experimentações rituais (referindo-se, é claro, às missas via internet ou outro meio de comunicação). São essas missas “virtuais” certamente necessárias para mitigar os efeitos da impossibilidade de ir presencialmente à missa dominical. Contudo, missas “virtuais” não são “reais”.
A exortação do purpurado é certamente útil para dar um choque de realidade para muitos fiéis. Efetivamente, em boa parte do orbe, após quase meio ano de confinamento, muitos simplesmente adotaram uma espécie de “religião virtual”.
Como sabemos, o homem vive de hábitos. E o hábito de não ir à missa leva a um enfraquecimento da vida sacramental, com todos os estragos que isso possa causar. É claro que os fiéis estão retornando pouco a pouco aos sacramentos. Mas nem todos… E isso se dá precisamente por um círculo vicioso, pois os sacramentos conservam a alma em estado de graça e em posse das virtudes infusas. Mas se a preguiça, o comodismo, o medo, os sofismas morais, etc. já tomaram conta da alma, como ela poderá se convencer de retornar à missa? Triste realidade que a Igreja terá que enfrentar nesse período de pós-pandemia.
Não sabemos ainda qual a amplitude dos efeitos das declarações do eminente cardeal. Mas já sabemos quais os efeitos – mesmo por motivos altamente justificáveis – podem causar na alma dos fiéis o fechamento das igrejas. Entretanto, a esperança é a nossa âncora! (Hb 6,19). E a história da Igreja nos ensina que, com muita frequência, há uma renovação da fé, após um período de tormenta, conforme a famosa frase do Apóstolo: “Onde avultou o pecado, a graça superabundou” (Rm 5,20). Quando se dará essa reviravolta? Ainda não sabemos. O certo que não se dará sem o auxílio da graça, nem sem a força dos sacramentos…
Por Oto Pereira.