Via Sacra 2022 – O esgotamento dos Bispos e presbíteros – Um caminho do calvário “O Burnout: Fadiga provocada por expectativas inalcançáveis
Padre Rafael Solano – Arquidiocese de Londrina -PR
- ESTAÇÃO. Jesus é condenado à morte
℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.
Na sociedade contemporânea, se observa um aumento considerável de duas realidades mais do que frequentes. De um lado um consumismo exagerado e do outro os altos custos que este consumismo traz. Uma luta infranqueável entre o valor altíssimo da vida e do conforto.
Viver é excessivamente caro; e viver com tudo o que a vida exige ou das necessidades que nos mesmos temos criado é ainda muito mais caro. Tudo isto segundo pesquisadores como Byung-Chul Han, filósofo Coreano desencadeou uma das epidemias mais virais de toda a historia: O cansaço. É uma espécie de condena constante o fato de adquirir, possuir, alcançar. O ritmo estressante e a busca implacável pelo empreendimento levam ao adoecimento psicológico Muitos presbíteros e bispos vivem este drama desde quando ingressaram no seminário. Criaram tantas expectativas inalcançáveis sobre si mesmos; lutaram desde cedo para chegar a um lugar que só os condenou ao isolamento e ao stress.
Tu Senhor foste condenado a morte! A tua condena totalmente injusta nos coloca a todos nós teus filhos diante de um dos dramas que com maior dor vivemos nos nossos presbitérios e congregações: Homens que pagamos altos preços por nos inserirmos nesta sociedade onde a única resposta é: “Sim podemos”.
Há no meio de cada um de nós uma real conclusão: não somos “Toti potentes”. Somos limitados e vivemos a experiência da nossa própria debilidade. Não existe sistema imunológico que aguente esta situação. Hoje existe um excesso de visão positiva sobre a vida, uma constante barreira entre a ideia e a realidade. Parece que se algo der errado a vida não vale a pena e qualquer tipo de exigência nos traz ainda maior cansaço do comum. O mesmo Han afirma: “A queixa do indivíduo depressivo, “nada é possível”, só pode ocorrer em uma sociedade que pensa que “nada é impossível”. Muitos irmãos presbíteros e bispos sofrem na pele esta dor. Estão condenados a viver um ministério no excesso de expectativas, sonhos e ideais de impossibilidades frequentes. Muitos não conseguimos perceber que a vida vivida na simplicidade do ser nos conduz por vias menos foscas e dolorosas.
Dai-nos Senhor a graça de diminuir nossas falsas expectativas para não alimentarmos e nutrirmos o risco de nos tornarmos funcionários do sagrado. Diante do nosso esgotamento emocional concedei-nos a graça da vossa ternura para que animados por ela possamos viver plenamente nosso compromisso batismal.. Ajudai-nos vos pedimos para não cairmos na apatia que pode trazer em nós uma sensação de insuficiência ao querermos fazer tudo e salvar todos. Precisamos de Ti! Tu que foste condenado ouvi-nos!.
Cantem meus lábios a luta
que sobre a cruz se travou;
cantem o nobre triunfo
que no madeiro alcançou
o Redentor do Universo
quando por nós se imolou.
- ESTAÇÃO. Jesus carrega a Cruz
℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.
O excesso de trabalho para alcançar certo tipo de configurações que não correspondem a verdadeira pessoa leva geralmente a uma visão interpessoal muito amargurada e por vezes faz com que a pessoa se sinta numa espécie de bolha de “dor” constante. Todos me condenam, todos me observam, todos me atacam. Geralmente esquecemos que qualquer tipo de adaptação requer tempo e paciência. Muitos bispos e presbíteros se centram demasiado nos seus problemas e nos problemas dos outros. Lhes falta uma capacidade de ver o positivo sem exagero e o negativo sem tanto drama.
Muitos carregam uma cruz que não lhes pertence e se percebe com facilidade na sua decadência física, emocional e mental. A hipocondria entre nós é uma das doenças psicológicas de maior incidência. Existe uma incapacidade para aceitarmos que nosso estilo de vida traz algumas cruzes mais pesadas do que outras; mas ao mesmo tempo evitamos a fadiga constante e normal que o trabalho exige. Alguns irmãos presbíteros não tem horário nem para acordar; outros padecem de insônia e outros sofrem com dores corporais insuportáveis que lhes impede realizar qualquer atividade que seja.
Carregaste a cruz Senhor com fadiga mas não com estresse! O peso da cruz não causou em ti o desespero que por vezes nossas atividades podem gerar. Ficar uma jornada inteira de trabalho no atendimento do povo, em reuniões, encontros e celebrações e estar o dia todo como se cada atividade fosse a única do dia. Quando o trabalho nos produz felicidade, alegria e realização mesmo que esgotados após uma noite de sono ou um bom descanso estamos como novos; mas quando o trabalho que realizamos nos traz desprazer, angustia e incompletude significa que o burnout nos está rondando ou já nos cercou intimamente.
“Não existe nada mais pesado que a compaixão. Mesmo nossa própria dor não é tão pesada quanto a dor co-sentida com outro, por outro, no lugar de outro, multiplicada pela imaginação, prolongada por centenas de ecos”. Assim o dramaturgo e escritor Checo – Francês na sua obra: “A leveza do ser”. Pode ser que carregar a cruz nos traga inúmeras dores, mas queremos te oferecer nesta hora a vida de tantos irmãos que sucumbiram na dor da sua existência e esqueceram que compaixão consigo mesmo sem se tornar vitimíssimo nos ajuda a suportar com alegria os pesos que parecem sufocar nossa existência.
Queremos carregar a cruz contigo Senhor, queremos retomar o caminho da exigência sem cairmos no desespero ou angustia de dizermos que não podemos.
Cantem meus lábios a luta
que sobre a cruz se travou;
cantem o nobre triunfo
que no madeiro alcançou
o Redentor do Universo
quando por nós se imolou.
- ESTAÇÃO. Jesus cai pela primeira vez
℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.
A tua primeira queda Senhor nos leva a entrar numa dinâmica muito exigente e ao mesmo tempo confrontante. Por que estar tristes? Porque tantos bispos e presbíteros entristecidos. A tristeza se alia imediatamente ao mal e nos faz passar momentos desagradáveis na nossa vida ministerial. Estar perto dos que passam por situações de tristeza e dor, não pode nos levar a perder a confiança no Ressuscitado.
Muitos irmãos no ministério não conseguem lidar com uma realidade ontológica: Somos contingentes! A nossa contingencia não é sinônimo de wi-fi 5G. As vezes o sinal simplesmente não consegue nenhum tipo de torre ou de captação. Por vezes o amor e a alegria nos abandonam como afirma Andrew Solomon na sua obra “O demônio do meio dia”. Sentimentos de derrota e de impotência ceifam as constantes conquistas na vida de um presbítero ou de um bispo. Pensar que tudo está perdido e que cada vez a vida é mais pesada não conduz a uma possível solução do peso em si; e pelo contrario pode abrir um imenso buraco de tristeza e desapontamento frequente.
WenceslãoVial na sua obra “A psicologia de uma vocação”; estabelece uma diferenciação muito apropriada quando afirma que três são os indicativos que podem criar a tristeza e que ao mesmo tempo estão tomando conta da nossa vida ministerial: Sentimentos de diminuição, cinismo e desprezo pelo trabalho que realizamos e diminuição da eficácia no atendimento pastoral.
Muitos irmãos decidiram simplesmente não fazer nada mais na sua vida sacerdotal. Se esconderam embaixo de uma tristeza insustentável e qualquer tipo de proposta ou de motivação é simplesmente desnecessária.
Uma vida submergida na tristeza leva-nos a cair diante de qualquer peso ou exigência que a vida nos apresente. O burnout evolui aceleradamente quando o coração se entristece. Os outros se tornam um peso e os evito. Permanecer junto a alguém é simplesmente desnecessário e o isolamento toma conta da minha vida perdendo o interesse por aquilo que fazia anteriormente quando ia até o outro. Mesmo com o peso que pode trazer a vida no presbitério ou na comunidade, mesmo ainda com a dificuldade que pode gerar o fato de uma traição ou de uma mentira; da queda sempre sairemos em paz se olhamos para Jesus.
A tua primeira queda é sinal da nossa contingencia. Te pedimos humildemente ajudai-nos a nos levantar nesta hora em que a tristeza começa a tomar conta das nossas vidas. Te Pedimos!
Cantem meus lábios a luta
que sobre a cruz se travou;
cantem o nobre triunfo
que no madeiro alcançou
o Redentor do Universo
quando por nós se imolou.
- ESTAÇÃO. Jesus se encontra com sua Mãe dolorosa
℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.
A insatisfação nos ronda muito mais do que podemos imaginar. Muitos presbíteros e bispos insatisfeitos. Hoje se fala num novo síndrome: “O bom samaritano decepcionado”. Muitos irmãos precisam ser reconhecidos. Se não recebem alguma paga, alguma graça ou promoção; isto pode significar a maior de todas as frustrações. Ninguém reconheceu todo o esforço que fiz. O bom samaritano decepcionado não consegue entender o silencio de Maria, a sua disponibilidade para visitar Isabel o simplesmente a sua presença no meio dos outros. Para muitos de nós o agradecimento é a única esperança que nos motiva a trabalhar. “sei que alguém deve estar-me vendo e vou ser recompensado”.
Muitos de nós já estamos pensando na próxima promoção ou simplesmente no próximo reconhecimento. Esta é uma característica que vai nos distanciando da realidade tal e como ela é. As pessoas que vivem sempre esperando ser reconhecidas possuem uma patologia bastante perigosa. Egocentrismo e insegurança altíssimos que levam a estabelecer encontros interpessoais mesmo na hora mais exigente.
Desta vez Jesus não encontra sua mãe numa outra festa de casamento. Agora os dois se encontram no caminho rumo ao calvário. Dor de parte e parte mas maturidade e graça impar.
Nem Jesus nem Maria estavam esperando reconhecimento algum! Quando presbíteros e bispos vivemos aguardando homenagens não conseguimos trabalhar com serenidade e alegria. Geralmente somos desordenados e trabalhamos sem medida e sem horário. Há uma motivação equivocada e encontramos no excesso de trabalho e de atividades ou na vida mansa que levamoa uma decepção frequente. “Não me disseram se gostaram ou não do que eu fiz”.
Pela intercessão da Virgem Santa Dolorosa; ajudai-nos Ó Pai a amadurecer no nosso trabalho. Que cada atividade seja assistida pela vontade de fazer com que o Reino proclamado pelo Teu Filho Jesus, seja cada vez mais conhecido e nós cada vez menos curtidos, seguidos ou aclamados!
Cantem meus lábios a luta
que sobre a cruz se travou;
cantem o nobre triunfo
que no madeiro alcançou
o Redentor do Universo
quando por nós se imolou.
- ESTAÇÃO. O Cireneu ajuda Jesus a carregar a Cruz
℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.
A traição é uma realidade mais frequente do que podemos imaginar nos ambientes clericais. Trair e sermos traídos. O encontro com o Cireneu não faz partes daqueles encontros espontâneos. De fato o evangelho de Lucas faz questão de sublinhar que um tal “Simão de Cirene que vinha do campo, e impuseram – lhe a cruz de Jesus”. Cfr. Lc, 23, 26.
A amizade não obriga absolutamente nada. Ela nasce da alegria que produz o encontro independente da situação na qual nos encontremos. Cireneu foi obrigado a ajudar a carregar a cruz do Jesus. O dom da amizade surge na espontaneidade sem interesse e sem duplicidade.
O dom das amizades é verdadeiramente transcendental. O problema não está no numero de amigos e sim na qualidade desses amigos. Uma pessoa que sabe vivenciar a amizade pode superar as maiores dificuldades que se apresentem na vida. Entres nós presbíteros e bispos cada vez mais é urgente termos amigos. Um alto numero de membros do clero mantem relações que reproduzem o modelo social: “manipular – usar – gastar”. Dentro da sociedade de rendimentos e benefícios as pessoas com as quais convivemos acabam passando pela nossa vida segundo os rendimentos que elas nos podem causar. Uma relação sustentada sobre os interesses logo se desfaz e isto leva à decepção e perda da vontade de confiar em alguém.
Uma das maiores graças que a vida pode nos dar é ter amigos que nos acompanhem em todas as horas. Por incrível que pareça os teus amigos te abandonaram Senhor. Nos também te abandonamos com frequência. Dai-nos a possibilidade de ser amigos de verdade. Ajudai-nos a viver o encontro com os outros como um verdadeiro dom!. Precisamos redescobrir aquilo que Martin Buber já proclamava na sua obra: “O ser humano se torna eu pela relação com o você, à medida que me torno eu, digo você. Todo viver real é encontro”.
Nas horas do burnout um amigo é um porto seguro para poder-me encontrar.
Cantem meus lábios a luta
que sobre a cruz se travou;
cantem o nobre triunfo
que no madeiro alcançou
o Redentor do Universo
quando por nós se imolou.
- ESTAÇÃO. Verônica enxuga com um pano o rosto de Jesus
℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.
O teu nome fala por si só: “Vero – ícone”. Verdadeira Imagine. Apareceste no meio do caminho e enxugaste o verdadeiro rosto do homem das dores. O burnout nos desfigura, e muitas vezes o mesmo nasce na luta por aparentar o que não somos. Uma das exigências que o século XXI trouxe para a sociedade foi precisamente a excessiva e constante exposição da imagem. O termo perfil fala não de um conteúdo e sim de uma imagem. Muitos bispos e presbíteros vivem um ministério sobrecarregado em função da imagem. Temem num certo sentido que a sua imagem se veja confrontada ou contestada. O burnout traz uma carrega pesada de despersonalização. Sempre em busca de imagem, correndo atrás de uma sensação inalcançada.
Há uma luta constante entre a verdadeira imagem e a imagem da aparência. Nesta ultima a pessoa se desdobra para parecer algo que não é, que não foi e o mais doloroso de tudo: nunca será. Muitos de nós vivemos preocupados em saber o que os outros pensam ao nosso respeito. Tememos cada vez mais a gestos e palavras espontâneas, que brotam do coração. Podemos imaginar o rosto que ficou estampado naquele pano. Ensanguentado, suado, sujo e desfigurado. Este era o rosto de Jesus naquele exato momento. Quando procurarmos uma imagem que não é a nossa o esgotamento vem como um tsunami. Não temos capacidade para aceitar as criticas com serena e objetiva atitude. Preocupados com a nossa imagem as vezes criamos ritos litúrgicos nunca antes vistos ou se quer aprendidos, usamos roupas e paramentos desconcertantes e nos embebemos de uma empáfia intolerante com aquilo que não parece conosco.
Nos te pedimos Senhor: Ajudai-nos a nos libertar das falsas e arrogantes imagens que desfiguram nosso próprio eu. Dai-nos um coração livre e aberto para nos aceitarmos tal e como somos e ensinai-nos a deixar nos outros gravada uma imagem de paz e esperança.
Cantem meus lábios a luta
que sobre a cruz se travou;
cantem o nobre triunfo
que no madeiro alcançou
o Redentor do Universo
quando por nós se imolou.
- ESTAÇÃO. Jesus cai pela segunda vez
℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.
Quando tentamos definir um vicio; imediatamente nos vem a definição de Tomas de Aquino: O vício é a privação da perfeição da natureza em oposição ao bem, logo qualquer ação repetida de modo habitual que contrapõe ao que convém a natureza, é um mal hábito”. Pois por mais de duas décadas o conceito vicio tem se tornado algo vago e confuso no mundo medico e psiquiátrico. Hoje se pode ser viciado no trabalho, no fato de tomar sol ou de fazer massagem nos pés. Os vícios gastronômicos, econômicos; em fim uma das psiquiatras que mais admiro é Bertha Madras; professora em Harvard afirma que os vícios como as substancias penetram de tal forma no cérebro que causam dependências descontroladas. Um vicio seja ele qual for é um grande impostor do nosso cérebro.
Poderíamos afirmar que os vícios vem e vão ou que os mesmos aumentam e diminuem. Muitos temos medo de encarar nossos vícios que no fundo são dependências.
A literatura medica afirma que estas dependências podem ser de ordem afetiva, autoestima, relações interpessoais e cuidado consigo mesmo. Muitos vivemos um ministério vicioso sem perceber ou simplesmente aceitando viver assim.
A segunda queda de Jesus nos ajuda a refletir sobre a pergunta essencial de porque não conseguimos evitar as dependências e os vícios. Em algumas situações podemos ver e perceber quão agradável e quão danoso é o vicio. Sabemos que o vicio sustenta algumas relações desnecessárias nas nossas vidas e outras simplesmente desaparecem. Toda dependência tem uma ambivalência: prazer e punição. Tua segunda queda nos leva a nos perguntar sensata e concretamente o quanto mal vem fazendo nas nossas vidas as dependências. Elas só nos estimulam para perder o auto controle e para renegar a jornada inteira. Ajudai-nos vos suplicamos! Libertai-nos das nossas dependências para que possamos carregar a nossa cruz na liberdade de sermos nós mesmos. Que todos nós bispos e presbíteros possamos viver a nossa solidão acompanhada na bela e transcendente realidade da comunhão.
Cantem meus lábios a luta
que sobre a cruz se travou;
cantem o nobre triunfo
que no madeiro alcançou
o Redentor do Universo
quando por nós se imolou.
- ESTAÇÃO. Jesus fala às mulheres de Jerusalém
℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.
A beleza e a grandeza do feminino nas nossas vidas é um dos gestos mais nobres do amor de Deus por cada um de nós. A presença da mulher na vida de cada celibatário é um dom de incalculável significado para o processo de amadurecimento e fortalecimento das nossas opções. Mães, amigas, colegas, familiares, formadoras, professoras, teólogas, funcionarias, psicólogas, religiosas, diretoras espirituais… em fim a gama de mulheres que tem nos ajudado no percurso e no caminho vocacional de cada um de nós é simplesmente enriquecedor.
A masculinidade cresce no relacionamento com o feminino. O olhar positivo e doce de um homem em direção de uma mulher o torna muito mais capaz de viver a sua opção pelo celibato. Bispos e presbíteros sempre teremos a ajuda e a companhia restauradora das mulheres com as quais Jesus estabelece um dialogo no caminho do Calvário. Nos nossos calvários sempre encontramos mulheres com as quais podemos dialogar e construir pontes de crescimento e dignidade.
A misoginia é uma patologia que cada vez mais destrói o conceito de pessoa humana entre o homem e a mulher. Homens que não suportam as mulheres sofrem fortemente de desagregação social e eclesial. Um dos sinais quase imediatos de burnout no clero está relacionado a todo tipo de agressão; mas quando se trata de agredir a mulher quem sofre de bournout é muito mais agressivo no tônus, na voz e até nas atitudes. Alguns irmãos bispos e presbíteros se perdem com facilidade no relacionamento com as mulheres com as quais trabalham por perto, sendo ofensivos e brutos. Para muitos celibatários a mulher é ainda vista como objeto de tentação carnal e por isso deve se evitar todo tipo de aproximação. Quanto peso carregamos inúmeras vezes quando vemos a mulher como um perigo! O resultado é instantâneo; distanciamento e isolamento.
Senhor o teu trato com todas as mulheres que encontrastes sempre foi masculino e tenro. Dai-nos a capacidade de acolher a cada mulher com respeito e dignidade; evitando qualquer tipo de submissão ou mal trato. Que como tu, possamos nas suas lagrimas e sorrisos agradecer pela sua presença em nossas vidas.
Cantem meus lábios a luta
que sobre a cruz se travou;
cantem o nobre triunfo
que no madeiro alcançou
o Redentor do Universo
quando por nós se imolou.
- ESTAÇÃO. Jesus cai pela terceira vez
℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.
As pesquisas apontam para uma situação muito forte em relação a sexualidade das pessoas em estado de Burnout. Além da perda do interesse sobre a vida sexual; algumas reações apontam para uma dilatação ou supremacia do erótico ou daquilo que pode chegar a desencadear uma espécie de “estresse do sexual”.
Uma das dependias mais fortes pode ser a pornografia “online”. O acesso gratuito a redes e mais redes pornográficas tem levado inúmeros presbíteros e bispos a estabelecer uma comunicação direta e um tanto caótica com sua eroticidade. Ao ser um serviço gratuito e livre; não existe limite. Em outras palavras não existe um ponto final. Uma aba puxa uma outra aba e assim sucessivamente. Inserida nesta situação pode também surgir o drama dos sites de relacionamentos ou com pessoas de outro sexo ou com pessoas do mesmo sexo. Hoje redes como o instagram e o twiter podem expor a vida sexual de uma pessoa sem necessidade de ser pornográfica mas sim pansexual.
A sociedade do espetáculo como disse Mario Vargas Llosa, se deleita e se enjoa no sexo virtual.
Na terceira queda rumo ao calvário queremos resgatar a beleza do nosso celibato e da pureza cristã. O grande teólogo francês, Yves Raguin na sua obra “Celibatpournotretemps”; adverte solida e humanamente que sem sofrimento ninguém vive o celibato pelo Reino dos céus. Há um paradoxo frequente entre viver a sexualidade como o mundo propõe e como Cristo o faz.
Hoje percebemos que em muitos ambientes o celibato tornou-se um assunto enfadonho e por vezes inútil. No processo formativo dentro do seminário muitas as vezes mitigado e no exercício do ministério encapsulado e quase que hermético. Uma sexualidade vivida para o amor abre portas e caminhos para uma vivencia do celibato na experiência da pureza e do pudor. A temperança não nos torna invencíveis e sim sensíveis. Aqui está o nosso grande desafio; sermos homens sensíveis diante daquilo que o Senhor nos oferece no serviço que desempenhamos.
Nos queremos vos suplicar: Dai-nos um coração para amar! Renovai-nos na entrega e fortalecei-nos na pureza para que possamos viver esta bem aventurada expressão do nosso ser através de uma corporeidade sadia e responsável.
Cantem meus lábios a luta
que sobre a cruz se travou;
cantem o nobre triunfo
que no madeiro alcançou
o Redentor do Universo
quando por nós se imolou.
- ESTAÇÃO. Jesus é espoliado de suas vestes
℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.
Nesta estação se faz necessário refletir sobre o drama do suicídio. Vivemos momentos dolorosos e angustiantes em cada clero, em cada congregação e cada diocese; não só do Brasil como sim do mundo inteiro.
Homens espoliados de dignidade. No suicido há uma espoliação daquilo que de mais sagrado possui o ser humano. Sua consciência de ser. Podemos dar muitas definições ao suicídio mas aquela que mais tem-me suscitado reflexão e cuidado foi fornecida pela Best seller Andrew Solomon na sua obra “O demônio do meio dia”. O suicídio como espoliação da própria dignidade. O suicídio não é o resultado da passividade; é o resultado de uma ação. O suicida tem mais energia do que nós podemos imaginar e seu toque de impulsividade determina o ato como um todo.
Quando o homem é espoliado da sua dignidade na verdade o que está realizando é uma pergunta a própria natureza, tentando força-la a responder. No fundo se pergunta qual é a mudança que a morte faz na vida de todo ser humano. Algo completamente desajeitado pois a resposta fica sem ser respondida. Ninguém jamais saberá quais são as consequências do suicídio. Muitos irmãos presbíteros tem se suicidado. Não é um problema tautológico o fato de querer saber o que está acontecendo entre nós. É uma situação dolorosa e agônica. Os homens da pascoa, do aleluia estão ceifando as suas vidas e as razões estão ai diante dos nossos olhos e das nossas realidades.
Senhor muitos dos nossos irmãos vivem graves doenças mentais; muitos sofrem com a sua própria existência, muitos se sentem espoliados da sua própria consciência. Olha por cada um de nós e derramai sobre nós o balsamo da paz interior e da reta intenção; para que possamos superar as dificuldades sociais que as vezes nos conduzem a pensar que não servimos para nada e que não somos dignos de nós mesmos. Vos pedimos! (Aqui podemos nos ajoelhas e ficar em silêncio rezando pelos irmãos presbíteros suicidados).
Cantem meus lábios a luta
que sobre a cruz se travou;
cantem o nobre triunfo
que no madeiro alcançou
o Redentor do Universo
quando por nós se imolou.
- ESTAÇÃO. Jesus é pregado à Cruz
℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.
A depressão é a imperfeição no amor. Destrói não apenas a conexão com os outros, mas também a capacidade de estar em paz consigo mesmo. O burnout leva a uma depressão total. Quer leve quer severa. Muitos bispos e presbíteros vivem a depressão constantemente e com ela uma das experiências mais desagradáveis do gênero humano. A decadência. A cruz pode ser vista desde diversos ângulos. Nesta estação proponho para que todos olhemos para ela de maneira categórica sem sentimentalismos ou formalismos sobre os quais poderíamos obter notas de reflexão imediata. Olhemos para Jesus pregado na cruz e com Ele olhemos para as nossas decadências.
Uma delas a mais comum o envelhecimento. Inúmeros neo- presbíteros sabem que um dia envelhecerão mas o que não querem saber é do processo de decadência no qual entramos nós homens do sagrado. O interno inventa o externo e assim cada um vai vivendo sua situação limite de maneira quase inexplicável. O que pode estar acontecendo? Em primeiro lugar vemos a invasão do sentimentalismo na vida de muitos sacerdotes. Pessoas que animam sua fé e sua vida sobre marcas residuais do sentimento. O que sinto… o que sentem… o que estamos sentindo… muitas vezes uma construção não desaba por conta das estruturas e sim por conta dos materiais que viram pó. É muito sadio olhar constantemente para as nossas motivações; eu dirá fundamental. Por vezes no nosso coração existem intenções ocultas, aprisionadas e até inconscientes querendo ser padres para o mundo segundo o modelo deste mundo. Padres pop, padres intelectuais, padres bonitos, atrativos e até considerados “pecados ambulantes” pois a nossa beleza física supera à de muitos modelos do mercado.
A intenção é a evangelização? Junto da intenção vem uma dimensão sobre a qual pouco aprofundamos. Trata-se da aptidão. Tem muitas pessoas boas, com características visivelmente de liderança e de grandes figuras publicas mas não serão presbíteros ou bispos pois sua aptidão não os torna capazes. Não se trata de patologias, trata-se simplesmente de aptidão. Jesus pregado na cruz nos conduz a ver com liberdade quais são as nossas aptidões e as nossas possibilidades. Na cruz não devemos temer nenhum tipo de rejeição ou de angustia; pois nela e junto dela se completa toda a nossa Redenção. Escutai nós vos pedimos; fazei que o nosso amor pela cruz seja incansável para que Nela residam nossas aptidões e sonhos e com ela alcancemos a nossa salvação.
Cantem meus lábios a luta
que sobre a cruz se travou;
cantem o nobre triunfo
que no madeiro alcançou
o Redentor do Universo
quando por nós se imolou.
- ESTAÇÃO. Jesus morre na Cruz
℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.
Santo Afonso Maria de Ligório diz na sua via sacra ao chegar nesta estação: Contemplemos Jesus preso à nossa Cruz. Após três horas de luta, consumido enfim pelas dores, Ele deu o corpo à morte e, de cabeça inclinada, entregou o espírito”.
Jesus preso à cruz… passaram-se três horas; sim três horas de dor e sofrimento. Um homem consumido pela dor. Morrer por amor supera todo tipo de dor. Aqui está o sentido do nosso ministério sacerdotal. Na medida em que os anos vão passando percebemos como tudo muda de lugar, de espaço e de ambiente. Mudamos nós e claro aqueles que nos rodeiam. Uma vida saudável nos ajudará sempre e em todo momento a nos entregarmos pelos outros decididamente em Cristo. Em cada atividade que realizemos estará presente a nossa identidade sacerdotal. A vida saudável exige um coração desprendido e renovado. Nossa saúde integral nos leva a perceber que a cada dia que passa devemos nos consumar pelo Senhor. O tempo é um fator decisivo e não adianta dizer que somos adultos e parecemos adolescentes o jovens. O grande C.S Lewis numa obra que recomento a todos ler: “Cartas de um diabo a seu aprendiz”; expõe a virtude do que significa descansar e se entregar por inteiro. Lewis diz que um diabo velho ensina com paciência sabendo que o jovem sempre será muito mais acelerado.
Muitos dos nossos trabalhos se perdem por causa de um excesso do mesmo e pela triste atitude acelerada de quem quer concluir uma obra como se fosse a sua obra cume. Pensemos em Caravaggio, anos e anos de dedicação e paciência; vejamos as obras de Chagall que exigem cada vez mais a atenta disciplina de observar ou simplesmente as obras de Gaudí; inconclusas e ainda querendo acabar.
Algumas vezes a nossa cabeça inclinar-se-á como que dizendo estou morto de cansaço; não posso mais; outras vezes teremos a força para entender que não seremos nós aqueles que veremos a obra concluída. Morrer com Cristo na Cruz é sinônimo de saber pacientemente esperar e aguardar.
Ajudai-nos vos pedimos a encontrar na hora da morte a satisfação não de obras concluídas e sim de uma vida vivida em plenitude pelo Reino.
Cantem meus lábios a luta
que sobre a cruz se travou;
cantem o nobre triunfo
que no madeiro alcançou
o Redentor do Universo
quando por nós se imolou.
- ESTAÇÃO. Jesus é descido da Cruz
℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.
Como poderíamos enfrentar o burnout e qual seria o caminho para que cada um na sua vida e no seu ministério pudesse superar a dor da existência.
Um ponto de partida que todos os pesquisadores apontam é a realização de uma boa e profunda avaliação de si mesmo. No modo de ser e de agir precisamos superar o perfeccionismo ao nos habituamos desde o seminário e muitas vezes desde as nossas próprias raízes familiares.
A mitomania é mais do que uma patologia uma negação daquilo que somos. Se auto enganar não é nada proveitoso e pelo contrario causa situações muito mais complicadas. Quando nos acostumamos a nos enganar fazemos um duplo jogo do qual podemos entrar como que num labirinto sem saída e com muros mais altos do que podemos imaginar. Precisamos de ajuda. Uma direção espiritual é fundamental. Existem realidades que não fazem parte da nossa psique e sim do nosso pneuma. Um confessor e diretor espiritual que ouça com atenção e profunda dedicação aquilo que nos está causando mal. Muitos bispos e presbíteros não fortalecem sua direção espiritual e isto dá numa reação cada vez mais apática e refrataria em relação da ação do Espirito em nós. Uma vida de oração fortalece nosso ser a diário. Assim como também atos de piedade e de comunicação com Deus. Foi Ele quem nos chamou e foi a Ele que nos respondemos sim! Descer da cruz muitas vezes é como o teólogo alemão J. B. Metz dizia numa das suas obras: “A pobreza do Espirito nos leva a viver livres interior e decididamente”. Pobres como somos sem reflexões sobre que a pobreza faz em nós; simplesmente pobres. Quem desce da cruz desce sem nada. Seu corpo é um cadáver e só será embalsamado e acolhido por aqueles que pediram para lhe dar uma digna sepultura.
Sair do bournout não é tarefa fácil; mas é algo que pode acontecer quando percebemos que somos o que somos graças a nos dizermos a verdade a nós mesmos; tirando todos os pesos que nós mesmos carregamos durante muito tempo.
Cantem meus lábios a luta
que sobre a cruz se travou;
cantem o nobre triunfo
que no madeiro alcançou
o Redentor do Universo
quando por nós se imolou.
- ESTAÇÃO. Jesus é sepultado
℣. Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos.
℟. Porque, por vossa santa Cruz, redimistes o mundo.
A esperança que nos Salva! Os meus estudantes costumam me ouvir dizendo: “Esta encíclica de Bento XVI reúne todas as condições necessárias para esclarecer ao mundo o valor da Ressurreição de Cristo”. Cada vez fico mais encantado ao poder dizer sem medo que o túmulo não é a palavra definitiva nem final da vida de Jesus.
No túmulo podemos colocar tudo o que somos e não sairemos os mesmos; muito pelo contrario a transformação será definitiva.
Percebemos com dor que o bournout tem-nos deixado cada vez mais céticos. O ceticismo na fé toma conta da vida de muitos sacerdotes. Uma vida sem fé parece cada vezmas constante na realidade do clero. Homens do sagrado sem fé. Que grande contradição.
Na encíclica assim se manifestou Bento XVI: “A fé não é só uma inclinação da pessoa para realidades que virão, mas estão ainda totalmente ausentes; ela dá-nos algo. Dá-nos já agora algo da realidade esperada, e esta realidade presente constitui para nós uma « prova » das coisas que ainda não se vêm. Ela atrai o futuro para dentro do presente, de modo que aquele já não é o puro « ainda-não ». O facto de este futuro existir, muda o presente; o presente é tocado pela realidade futura, e assim as coisas futuras derramam-se naquelas presentes e as presentes nas futuras”. (SP.S 7).
Precisamos caminhar com a fé do nosso lado e não com as nossas certezas de que a fé um dia chegará até nós. Viver na fé nos prepara a diário para viver a alegria da Ressureição neste evento podemos colocar todas as nossas fadigas e dizer abertamente que elas não são inalcançáveis e sim possíveis.
O sentido do impossível deixa de ser algo abstrato e se torna algo próximo e o que é mais importante nos transforma. O possível nos faz entender o sentido do impossível a luz da fé que professamos.
Em tempos tão difíceis como os que vivemos precisamos amadurecer na fé para que nossa vivencia ministerial se veja cada vez mais enriquecida. A Páscoa nos faz este chamado e por isso da Cruz passamos para a Luz e com ela o Cristo Glorioso que nos impele a proclamar a Boa Nova. Precisamente por esta razão cantamos no precónio Pascal:
Oh, admirável condescendência da vossa graça!
Oh, incomparável predileção do vosso amor!
Para resgatar o escravo entregastes o Filho.
AMEM.