Um assunto delicado: Eleições 2020
Pe. Marcos Paulo Pinalli da Costa *
Muitas vezes ouvimos e até mesmo dissemos que “política, religião e futebol não se discute”. Quero crer que, a ideal interpretação deste jargão seria que a política, a religião e o futebol não podem ser instrumentos para a construção do ódio entre as pessoas, mas para a paz e o bem estar. Ainda que, cada um tenha a sua, todas estes temas tornam-se perniciosos quando prevalece o fanatismo. Infelizmente muitos foram assassinados e outros assassinaram seus adversários pela paixão desordenada pela política, pela religião e pelo futebol. Lembremos o sexto mandamento; “Não matarás”, cf. Ex 20,13.
Estamos cansados de promessas e obras inacabadas. Basta de colocar a culpa apenas na pandemia do corona vírus pelo desemprego. Ela acentuou o que estava em ascensão nas estatísticas, aumentou a fome, e a situação de miséria, no entanto, tais problemas já existiam.
Alguns, se acomodam pelos benefícios que recebem dos governos federal, estadual e municipal. Ainda assim, graças a Deus conheço inúmeras famílias que se não fossem tais benefícios, estariam não à margem da sociedade, mas na fossa. Não se pode fazer da assistência social uma fábrica de “eternos mendigos eleitores”, numa relação do “dá-me comida, dinheiro e diversão que te dou um voto”. Parece até a velha forma de governar do Império Romano para ter o povo oferecendo “pão e circo”. O cidadão deve trabalhar e do seu digno salário se manter. A participação nos diferentes programas sociais deveria ser temporária e não permanente com fim eleitoreiro. O bom governo não favorece a manutenção da pobreza, mas também não deixa de assistir os necessitados.
Da política esperamos a organização e o bem estar social, dela emana direitos e deveres, sobretudo a dignidade e a liberdade de cada indivíduo no todo. Da religião esperamos que nos ligue com Deus, conscientizando-nos a ter amor próprio e aos irmãos. Do futebol o lazer, o entretenimento e a humildade de compreender que nem sempre ganhamos, ainda que queremos a vitória, mesmo nos acréscimos. De tudo isto, espera de cada um de nós o respeito em meio à diferença. Até porque, “na política, os aliados de hoje poderão ser inimigos amanhã e os inimigos de hoje poderão ser amigos amanhã”.
Votaremos no próximo 15 de novembro para escolher o chefe do poder executivo, o(a) prefeito(a) e os que irão compor a casa legislativa municipal, vereadores(as). O voto é secreto, você é livre para dizer em quem vota ou ficar em silêncio, ser cabo eleitoral ou não se manifestar. Que seja nosso voto consciente, conhecendo o candidato pelo que pôde fazer enquanto esteve num cargo público, ou pelos projetos pretendidos, o que não significa que vá realizar depois de eleito. Foi a época de nos iludirmos com belos discursos e promessas que ficaram nos palanques. Alguns votarão por gratidão, outros influenciados por determinadas ideologias, outros por interesses pessoais. O bom governo faz por todos, sejam aliados ou adversários.
Deste modo, eis algumas opções: se está satisfeito, reeleja, se deseja mudança, pois não viu melhorias na sua comunidade (município), dê oportunidade a outros. Escolha aquele(a) que terá possibilidade no período de quatro anos fazer ou continuar fazendo pela sociedade local. Escolha consciente e não venda seu voto. Voto não tem preço, tem consequência.
Citarei três frases de Nicolau Maquiavel, na obra “O Príncipe”, ainda que não concordo com tudo neste livro, escrito em 1513 e publicado depois da morte do seu autor em 1532:
1) “Não se pode chamar de “valor” assassinar seus cidadãos, trair seus amigos, faltar à palavra dada, ser desapiedado, não ter religião. Estas atitudes podem levar à conquista de um império, mas não à glória.”.
2) “Geralmente, pode-se dizer que os homens são ingratos, volúveis, mentirosos, traiçoeiros, covardes e ávidos por dinheiro, Se lhes fazes o bem, todos estão contigo. Oferecem-te o sangue, a vida, os filhos, como disse antes, quando a necessidade está longe de ti. Mas a necessidade chega perto, eles se rebelam. E o príncipe que se havia baseado nas palavras deles, se não tiver outra defesa arruína-se. Pois as amizades que se conquistam com dinheiro e não com grandeza e nobreza de alma não são certas, não podem ser usadas.
3) “Os homens esquecem mais rápido a morte do pai do que a perda do patrimônio. Por outro lado, não faltam ocasiões para depredar alguém. Aquele que começa a viver de rapina sempre tem um pretexto para se apoderar dos bens dos outros.”.
Pe. Marcos Paulo Pinalli da Costa, Sacerdote da Diocese de Campos – RJ.
Pe. Pinalli, sempre inspirado.
Que o Espírito te ilumine hoje e sempre.
Abçs
Excelente e bem esclarecedor!!
Posta nas redes sociais.
Obrigada , Padre pelo seu análise e conselhos.
Muito tem se discutido sobre o papel da política na sociedade moderna. Seria a política uma prática necessária à administração das demandas populares?
Com o recrudescimento de ações violentas como formas de se resolver conflitos, como o período em que vivemos atualmente, torna-se evidente a importância do uso da diplomacia e da política como armas eficazes de resoluções dos problemas da sociedade. O uso da política, da conversação e da negociação são essenciais para que pendências entre diversos interesses sejam, se não equacionadas, pelo menos equiparadas, tendo como objetivo benefícios comuns e recuos necessários para o entendimento. Essa prática, somente a política é capaz de levar a termo, haja visto que o diálogo é a chave para coibir conflitos e razão de ser indissociável da política.
Entretanto, cabe perguntar como a população, de um modo geral, pode participar ativamente da administração pública, contribuindo assim para o aprimoramento da democracia. É fato que as massas, excetuando o ato de votar, mantém-se afastada das vivências políticas que afetam diretamente seu cotidiano. Isso se deve, em grande parte, ao conceito falho de cidadania, algo pouco percebido pela população como prática diária, e não esporádica de exercer a democracia.
O cidadão comum deve despertar para sua importância no quadro político e engajar-se na luta por melhorias coletivas, seja por maior interesse pelo que acontece ao seu redor, informando-se e discutindo com familiares e amigos a situação mundial, seja pela participação direta em associações como amigos de bairro, organizações não governamentais e fóruns de discussão sobre temas sociais, políticos e econômicos, ou entidades similares onde seja exigida posição firme e atuação contundente do cidadão em prol da comunidade que representa.
Como dito anteriormente, o voto é a arma do cidadão para a busca de soluções de suas carências. Contudo, seria o voto uma prática consciente de valores de poder e liberdade, em busca do aprimoramento no campo democrático? No Brasil, em particular, há vícios que corrompem uma certa parcela do eleitorado, que liga seu voto a concessões mesquinhas, como aquisição de bens e serviços diretos, e não à comunidade como um todo.
A falta de ideologia, trocada pelo fisiologismo, leva à criação de “currais” eleitorais, onde um líder político usa sua influência local para pressionar a população a votar em candidatos que defendam seus interesses após eleito. Como compensação, oferece ao povo produtos para sua sobrevivência, aproveitando-se da brutal desigualdade social que assola o país.
A concentração de renda beneficia as elites corruptas do país, que não têm interesse em difundir o conceito de cidadania, preferindo passar a imagem do político paternalista e dono dos destinos da população, contrariando a visão desejável, do político como funcionário público, intermediador dos cidadãos junto aos poderes constituídos.
A continuidade do processo político, com votações em seqüência, tende a aumentar o grau de conscientização das massas e, mesmo com a resistência de setores atrasados da nação, a uma depuração política, onde o candidato que mais prezar a valorização do poder como instrumento de cidadania e de valorização da liberdade de expressão terá longevidade na vida pública. Em contrapartida, os postulantes da política oligárquica e excludente, com o amadurecimento do processo democrático, têm como destino o esvaziamento de sua influência e declínio irreversível de seu poder autocrático.
Tire o salário dos cargos políticos pra ver se aparece algum candidato a alguma coisa!!!
Um bando de oportunistas na sua maioria.