Seminaristas são ordenados diáconos na Catedral do Rio
A Arquidiocese do Rio de Janeiro escolheu três jovens seminaristas para receberem o ministério do diaconato. Com a ordenação, os jovens Allexsandro Martins Valente, Emerson Manoel da Silva e Ronaldo Fernandes Henrique darão mais um passo rumo à ordenação sacerdotal.
Carlos Moioli – Arquidiocese do Rio de Janeiro
A celebração de ordenação, que tem como lema: “Amou-os até o fim” (Jo 13,1), aconteceu no dia 5 de setembro – data em que o Seminário Arquidiocesano de São José completa 281 anos –, às 8h30, na Catedral Metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro, e foi presidida pelo arcebispo do Rio, Cardeal Orani João Tempesta.
‘Ser santo através de meu ministério’
Diferente de muitos jovens, a vocação de Allexsandro Martins Valente não surgiu a partir do serviço ao altar ou através da vida pastoral. Mas o despertar vocacional acendeu com a leitura de um livro sobre a vida de São João Maria Vianney, padroeiro dos sacerdotes. “Eu já participava na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Santa Cruz. Havia me afastado, mas retornei aos 15 anos, após o assassinato de um de meus amigos na porta de minha casa. Foi então que percebi a brevidade da vida e decidi voltar para o Senhor. Busquei-O em muitas denominações, mas O encontrei na Igreja Católica. Eu cursava matemática aplicada na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, quando encontrei duas pessoas que me auxiliaram muito na caminhada, ambas ex-seminaristas. Um deles me emprestou um livro sobre a vida do Cura d’Ars e eu me apaixonei pela história desse santo”, comentou.
Naquela época, tornar-se sacerdote não era o plano de vida de Allexsandro. “Não estava nos meus planos me tornar sacerdote; eu nem sabia como isso acontecia. Eu já estava com tudo organizado para realizar parte de meus estudos no Canadá quando veio em meu coração o questionamento: ‘por que não ser padre?’. A história do Cura d’Ars me mostrava que, apesar de todos os acontecimentos, ele era feliz. E eu desejei essa mesma felicidade para mim”, acrescentou.
Assim, o jovem Allexsandro ingressou no Grupo Vocacional Arquidiocesano e, um ano após o discernimento vocacional, em 2012, no Seminário Propedêutico Rainha dos Apóstolos. “Entrei no seminário buscando ser feliz, e hoje dou um passo para ser mais feliz ainda. Não é possível descrever a alegria que existe em meu peito. Às vezes, as pessoas esperam coisas miraculosas e, comigo, foi preciso apenas um livro. Se meu amigo não tivesse me emprestado, talvez se eu não tivesse conhecido a história de São João Maria Vianney, eu não teria me encantado. Estou muito feliz porque é o final de um processo. A gente entra querendo fazer a vontade de Deus, mas ainda não temos a confirmação. Agora, é a Igreja que chama e confirma o que já estava em nosso coração, já discernido com Deus. Não valeria a pena largar tudo, deixar de constituir uma família, se não for para ser santo de verdade, através de meu ministério”, disse.
‘Ressuscitar com Cristo e subir o Calvário com Ele’
Desde muito novo, o serviço ao altar e à Igreja já faziam parte da vida de Emerson Manoel da Silva. Foi na vida ordinária da Igreja, de maneira específica na Paróquia Sagrada Família, na Maré, que ele descobriu o chamado vocacional. “Quando eu era criança, meus pais não frequentavam a Igreja, exceto nas missas de fim de ano. Eu senti o desejo de estar na catequese e eles prontamente me inscreveram. Tornei-me coroinha, e o serviço a Deus sempre me encantou. Num primeiro momento, eu não sabia exatamente o que era que sentia, mas sabia que poderia fazer mais, que faltava algo”, afirmou.
Além do desejo vocacional, o contato com outros futuros sacerdotes também foi fundamental para que o jovem pudesse ter uma certeza mais clara acerca da vocação. “Em minha paróquia passavam muitos seminaristas. Inclusive um de meus catequistas, padre Eufrásio, também foi para o seminário. Vê-los servindo sempre me despertou algo e isso era o desejo de querer poder fazer algo a mais, de estar mais tempo na vida da Igreja”, contou.
Assim como todo jovem, o ministério sacerdotal também não passava pelos pensamentos de Emerson. “Eu tinha o sonho de constituir uma família, de cursar faculdade de Direito. Busquei por atividades que não foram capazes de preencher o anseio que eu tinha. Fui catequista, coordenador de um grupo, mas nada me preenchia. Com o tempo minha família também começou a caminhar na fé, e essa mudança no ambiente familiar foi muito favorável para o despertar vocacional”, destacou.
A poucos dias da ordenação diaconal, a expectativa do seminarista é “corresponder bem ao ministério. Sem ser utópico, mas que, de fato, eu seja feliz, uma vez que, pra mim, a vocação tem a ver com isso. Não porque realizei uma empreitada minha, mas porque consegui responder ao chamado de Deus. No seminário aprendemos não somente a viver as alegrias da vocação. O dia da ordenação é uma data gloriosa, mas a vida do sacerdote, o dia a dia, tem sua normalidade e momentos de dificuldade. Porém, aprendemos a não somente ressuscitar com Cristo, mas a subir o Calvário com Ele”, frisou.
‘Ser padre para os padres’
Um retiro de Carnaval da Renovação Carismática Católica foi o suficiente para que Ronaldo Fernandes Henrique pudesse sentir o chamado de Cristo, através de Jesus Eucarístico.
Mesmo ainda não frequentando a Igreja Católica, porque inicialmente onde morava não existia sequer uma capela, a figura do então Papa São João Paulo II já atraía seu olhar para Cristo. “Ao olhar para Ele, eu me lembrava do próprio Cristo na terra. Desde o retiro e com a figura do Santo Padre, senti o despertar, embora eu tenha lutado muito para não responder a esse chamado”, comentou.
Já não podendo mais resistir, o jovem Ronaldo contou com o apoio do pároco da Igreja Nossa Senhora Auxiliadora, no Laranjal, na Diocese de Niterói, onde mais tarde começou a frequentar. Assim, ele ingressou no Seminário Arquidiocesano de Niterói, onde estudou por nove anos. Em seguida, ingressou no Seminário Arquidiocesano de São José, na Arquidiocese do Rio.
Além do chamado ao sacerdócio, o jovem seminarista, ainda, foi convidado por Deus para rezar e interceder pela vida de outros padres. “Depois do encontro vocacional, o Senhor me pedia algo muito especial. Conheci e fui consagrado à Obra do Cenáculo, cujo carisma é ‘Se imolar e dar a vida pelos sacerdotes’. Mesmo não tendo conhecimento disso, quando estava prestes a receber a resposta, Jesus me questionou: ‘Você seria capaz de dar a vida por eles?’. Eu respondi que sim, mesmo sem saber quem eram ‘eles’. Desde então, além de conhecer Jesus Eucarístico, passei a conhecer Jesus sacerdote em cada padre. A vocação foi me encantando. Quanto mais olho para a figura de um sacerdote, mais eu vejo Cristo e mais vejo o chamado de Deus para o sacerdócio e, dessa maneira, cuidar de outros sacerdotes”, exclamou.
Diante de mais um passo em direção à ordenação sacerdotal, para Ronaldo, a expectativa é “a de fazer a vontade de Deus e me lançar nas mãos d’Ele. “Criamos muitos planos da nossa vontade e, muitas vezes, nos frustramos. Quando passamos a olhar para esse Cristo que nos chama, quando não tiramos os olhos d’Ele, seguimos no caminho certo. Deus me chama a ser padre para os padres, para salvar almas sacerdotais”, finalizou.